Vereadores de Fortaleza acusam Governo Elmano de 'barrar' acesso a palanque em eventos
Em nota, Governo afirma que não há restrições; já o chefe de gabinete da Prefeitura de Fortaleza diz que houve 'mal-entendido'.
Um grupo de parlamentares da base do prefeito Evandro Leitão (PT) na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) usou a tribuna da Casa para reclamar do tratamento recebido em eventos do Governo do Estado. Segundo os políticos, em discursos na sessão desta terça-feira (4), episódios em que são barrados nos atos da gestão estadual têm sido recorrentes.
O primeiro a reclamar foi o vice-líder do Governo Evandro, o vereador Professor Enilson (Cidadania). “Não dá para entender, às vezes, a atitude do Governo do Estado, como trata esta Casa e os vereadores desta Casa”, salientou no pequeno expediente. “Em alguns eventos do Estado, ter toda uma dificuldade ou mesmo ser barrado de entrar”, disse ele.
Segundo Enilson, o vereador Marcelo Tchela (Avante) foi um dos membros do Parlamento que passaram por uma situação recente, nesta segunda-feira (3), na entrega do Residencial Luiz Gonzaga 2, no bairro Jangurussu. “Tenho certeza que o governador Elmano não sabe disso, que está acontecendo isso”, argumentou o parlamentar, que se solidarizou com o colega de legislatura.
Indagada, a equipe de comunicação da Casa Civil do Governo do Ceará respondeu, por meio de nota, “que não há qualquer restrição à participação de vereadores, sejam de Fortaleza ou outros municípios, em eventos oficiais”.
“Neste caso específico do evento no Jangurussu, realizado em parceria entre Estado, Prefeitura e Governo Federal, ocorreu uma falha de procedimento de cerimonial. Essa questão já está sendo solucionada internamente”, explicou o comunicado.
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Ainda de acordo com o vice-líder governista, o chefe de Gabinete do prefeito de Fortaleza, Eudes Bringel (PSD), foi comunicado sobre a situação, para que pudesse contatar os responsáveis na instância estadual. “Quero saber o que está acontecendo que um vereador de 10 mil votos não é valorizado pelo Estado”, pontuou.
“Também quero publicizar que ontem, lá no Bom Jardim, mais especificamente na divisa da Granja Lisboa e Siqueira, teve uma assinatura de ordem de serviço de uma Areninha do Governo do Estado. Sabe quem é o vereador mais votado do Bom Jardim? Professor Enilson! Sabe quem é o vereador desta Casa mais votado na Granja Lisboa? Professor Enilson! E eu não fui comunicado”, exclamou, chamando o evento de “meia boca”.
A reportagem acionou o próprio Eudes Bringel. Em resposta, o auxiliar do prefeito informou que os vereadores “não foram barrados”. Conforme alegou, houve “apenas um mal-entendido, mas foi esclarecido”.
A chefia da Coordenadoria de Comunicação da Prefeitura de Fortaleza também foi questionada, mas não respondeu até a última atualização deste texto.
Interlocução questionada
Dando continuidade para as reclamações durante a sessão, o vereador Aguiar Toba (PRD) reforçou a queixa do colega. “Também compactuo com suas palavras, vereador. Somos o quinto mais votado da Regional 5 e também não fomos convidados”, frisou, questionando a “interlocução” feita com os vereadores.
O vereador Dr. Vicente (PT) foi outro que revelou sua insatisfação com o tratamento dirigido aos aliados nos eventos do Governo do Estado. Ele demonstrou sua solidariedade aos colegas de mandato e disse que não “é a primeira vez que acontece isso”.
“Já aconteceu comigo também, eu ser barrado de subir no palanque do Governo do Estado do Ceará. Isso incomoda muito a gente, é uma fraqueza. O que aconteceu ontem com o Tchela e outros vereadores já aconteceu com a Estrela (Barros), com o Professor Enilson…”, discorreu o petista, atribuindo o problema ao cerimonial do governo estadual.
Vice-presidente da Câmara Municipal, o vereador Adail Júnior (PDT), opinou acerca do problema. “É por isso que nem vou. Nem vou, amigo”, declarou, rindo. Ele recebeu o apoio do vereador Paulo Martins (PDT): “[Somos] Dois, Adail. Conte comigo nos eventos da Prefeitura. Agora, os outros eu não vou, não. Para a gente ficar lá no final da fila? Vou não”.
'Barrados' em evento com Lula
Tchela, por sua vez, mencionou três ocasiões em que foi impedido de estar ao lado do governador. “Primeira vez, no Hospital Universitário, 14 vereadores barrados. Semana passada foi barrado Bruno Mesquita, eu e Professor Enilson no Palácio da Abolição, no lançamento das creches. E ontem de novo”, falou. “Ou seja, acho que a gente é do PL”, ironizou.
De forma breve, a vereadora Adriana Almeida (PT) se queixou: “Eu também, vereadora Professora Adriana Almeida”. Conforme indicou, sua companheira de partido, Mari Lacerda (PT), foi alvo de algo semelhante.
Diante do clima, Lacerda — apesar de dizer compartilhar o “sentimento de revolta”, por ter sofrido com isso, e se solidarizar com Tchela — propôs que o cerimonial da Câmara Municipal pudesse participar destes eventos, para garantir o acesso de vereadores.
“Queria, para que isso não se repetisse, para que não virasse alvo de disputas políticas ou colocado nesse bojo — às vezes acho que é um problema de organização e cerimonial —, gostaria de sugerir, eu mesma posso fazer esse comunicado ao Governo do Estado, que, quando tiver um evento oficial desse, comunique à Câmara Municipal de Fortaleza e a gente acione o cerimonial para fazer a recepção dos vereadores”, disse.
Por fim, o vereador Gardel Rolim (PDT) repetiu o gesto dos demais e se solidarizou com o vereador Marcelo Tchela e “outros tantos vereadores impedidos de entrar em um evento para o qual foram convidados”. “Infelizmente, isso não é uma prática que a gente viu apenas no evento de ontem”, comentou, evidenciando a necessidade de que os vereadores sejam valorizados.