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Série Influências Partidárias: qual a história do PL no Ceará, presidido por Carmelo Neto

Em mais um episódio, o Diário do Nordeste conta a história do Partido Liberal e discute as movimentações da sigla rumo a 2024

Escrito por Bruno Leite , bruno.leite@svm.com.br
Jair Bolsonaro e Carmelo Neto
Legenda: Carmelo Neto ao lado de Jair Bolsonaro, fotografados na última visita do ex-presidente a Fortaleza.
Foto: Thiago Gadelha

Dirigido agora pelo deputado estadual Carmelo Neto, o diretório estadual do Partido Liberal no Ceará vive um momento decisivo, a menos de um ano das eleições municipais. A saída de Acilon Gonçalves, prefeito da cidade de Eusébio e articulador da sigla junto aos prefeitos do interior do Estado, dita também uma alteração na definição de quem irá concorrer ao cargo máximo do Executivo na Capital.

Sob a gestão de Acilon, treze gestores municipais foram eleitos, cinco parlamentares lograram êxito com mandatos na Câmara dos Deputados, outros quatro entraram na Assembleia Legislativa (Alece) e cerca de 130 vereadores ingressaram nas Câmaras Municipais cearenses ao longo das últimas eleições. 

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Com um volume expressivo de aliados, o ex-líder estadual, que integra o núcleo tradicional que um dia foi do círculo de alianças do Partido dos Trabalhadores, enfrentava divergências internas com alas e figuras afeitas ao bolsonarismo, como é o caso do deputado André Fernandes, que agora ganha mais espaço como pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza.

O número de mandatários, entretanto, não se manteve, e hoje a agremiação congrega apenas quatro dos eleitos em 2020: o próprio Gonçalves (Eusébio), Bruno Gonçalves (Aquiraz), Ednardo Filho (Miraíma) e Giordanna Mano (Nova Russas). Os demais migraram para partidos da base governista.

Neste novo capítulo da série “Influências Partidárias”, o Diário do Nordeste conta a história do PL e entrevista, na live do PontoPoder, nesta quinta-feira (30), às 17h, o presidente estadual da sigla. O bate-papo é parte da série de conversas com dirigentes partidários, antecipando as discussões sobre o pleito de 2024.

A gênese do PL

Sob o acrônimo de PL desde 2019, quando em convenção nacional os membros decidiram pela superação da antiga sigla PR (Partido da República) em privilégio de uma nova nomenclatura, a existência agremiação que atualmente acolhe o ex-presidente Jair Bolsonaro remonta um percurso de reveses na política nacional. Apesar de fundado em 1985, pouco restou da configuração inicial. 

A formatação atual da legenda é o produto de um histórico de processos de aglutinação de estruturas iniciadas em 2003, a exemplo da fusão com o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), com o Partido Geral dos Trabalhadores (PGT) e com o Partido Social Trabalhista (PST).

Desde 2021, ele representa o maior expoente da extrema-direita no País, graças a uma mobilização do ex-chefe do Palácio do Planalto em busca de um "lar" para que pudesse concorrer às eleições gerais de 2022. O movimento atraiu outros membros que se identificaram com o projeto em curso e alçou novos nomes do mesmo espectro à política institucional. 

O resultado deste esforço político foi que, como resultado da última disputa, o grupo formou as maiores bancadas eleitas para as duas Casas do Congresso Nacional. Ao todo, foram escolhidos pelo eleitorado 14 senadores e 99 deputados federais.

Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Mariana Andrade explica que o discurso fundante do PL se deu num contexto em que a ideia de "partido sem amarras" e "independente" ganhava a adesão popular. 

"O PL surgiu aqui no Ceará exatamente nesse contexto, porque, embora tenha origem no PR (tradicional 'Centrão'), vendeu a imagem de um partido diferente e independente, aproveitando a onda de simpatia alcançada pelo ex-Presidente Jair Bolsonaro, à época dissidente do PSL", esclareceu.

Segundo ela, há uma diferença entre o momento inicial do PL no Ceará e o status partidário hoje. Se no início havia um "espelho" ideológico, porém aberto a parcerias, hoje o que se vê é uma sigla que gira em torno do próprio eixo.

"Quando o partido surgiu no Ceará, mantinha um eixo ideológico majoritariamente conservador e alinhado à direita, fortemente vinculado à imagem do ex-presidente, mas ainda aberto às parcerias com outras siglas do Centrão", iniciou. 

E complementou: "Hoje, o partido sofre com as baixas e está vivenciando uma crise interna difícil de contornar, porque o espaço para o diálogo diminuiu. Todo mundo no partido quer ser candidato às eleições majoritárias de uma vez só, e é claro que essa postura se refletiria em tensões internas".

Emanuel Freitas, que é doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de Teoria Política na Universidade Estadual do Ceará (Uece), pontua o início da trajetória do PL cearense por outro viés. 

Conforme discorreu, a formação local acompanhou a nacional. E os primeiros nomes de destaque possuíam uma vinculação religiosa neopentencostal. "De início aqui você tinha nomes ligados a Igreja Universal", disse.

Neste primeiro momento, contou, dois políticos figuraram como lideranças: "De modo mais forte eu acho que o grande nome durante muito tempo, por exemplo, foi o vereador de Almeida de Jesus, que coordenava o partido no Estado. Isso aqui em Fortaleza. Muito tempo depois é que vem o Ronaldo Martins, que hoje também é a grande estrela, mas que passou para o Republicanos".

Juraci Magalhães
Legenda: Ex-prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães integrou o PL e chegou a concorrer pela legenda.
Foto: Kid Jr.

Outro agente público de destaque foi o ex-prefeito da Capital, Juraci Magalhães, que em 2006 se candidatou a uma cadeira na Câmara dos Deputados, mas não obteve êxito. "Naquela eleição, por exemplo, eles chegaram a lançar um candidato a governador, que era o desembargador José Maria de Melo, mas ele era muito inexpressivo", rememorou o estudioso.

Nacionalmente, em 2002, a agremiação se viabilizou como uma vitoriosa coadjuvante na vice-presidência. Naquele ano, a chapa vencedora da eleição foi formada pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o liberal José Alencar. No Ceará, a expressividade se deu com a chegada de Acilon Gonçalves e seu agrupamento anos depois.

"Então, se nacionalmente ficou como uma sigla do 'Centrão', que como a gente entende é fisiológico, de direita, com interesses muito cartoriais, aqui no Ceará, sua grande expressividade se deu com a explosão eleitoral do Acilon e do seu grupo político, que é uma coisa muito recente", comparou Emanuel Freitas.

Um PL diferente

Embora assuma uma posição antipetista no cenário político brasileiro e de oposição ao Governo Elmano no Ceará, a situação nem sempre foi essa no interior do PL. Basta um resgate da última ocasião em que eleitores foram às urnas para eleger prefeitos e vereadores, em 2020. 

Ali, as diversas fileiras liberais ainda não contavam com a chegada da leva de adeptos ao bolsonarismo. Naquela disputa eleitoral, o diretório compunha o arco de alianças governista e o grupo oposicionista era encabeçado pelo Capitão Wagner, então filiado ao Pros.

Tudo muda um ano depois, em dezembro de 2021, com a filiação de André Fernandes, que ainda era deputado estadual. A chegada do político aumentou a pressão sob a cúpula pela mudança na direção do partido. Vindo do Republicanos, ele já era um dos principais aliados e participantes ativos do núcleo próximos de Jair Bolsonaro. 

Setores então viam a necessidade de substituir Acilon, uma vez que ele era uma figura da base do ex-governador Camilo Santana (PT) e dos irmãos Ferreira Gomes, e o comando nacional orientou pela não divisão regional.

Acilon
Legenda: Desde a chegada do grupo ligado a André Fernandes, situação de Acilon Gonçalves no PL era delicada
Foto: Reprodução / Redes Sociais

Iniciou-se ali uma "queda de braço" entre expoentes importantes. Gonçalves disse ter a garantia de todas as instâncias de que permanência como comandante no estado, embora tivesse sido cortejado pelo Republicanos e por outras lideranças. 

Ele não garantiu, no entanto, a manutenção do apoio aos petistas, por descompatibilidade aos intentos do ex-mandatário da Presidência. Fato que se concretizou depois, com o fim do elo que mantinham e o engajamento na campanha de Bolsonaro.

Em abril de 2022, num momento em que os governistas aguardavam um aceno do Partido Liberal para que pudessem estar no mesmo palanque, a direção estadual reforçou apoio ao pleito do governante do Executivo federal e deu mais espaço para a corrente que era minoritária até alguns meses antes. Pré-candidaturas como a da médica Mayra Pinheiro e do Coronel Aginaldo foram reforçadas. 

O próprio Cid Gomes (PDT), coligado de longa data de Acilon, ao observar o contexto do PL, considerou que o presidente estadual estava em uma "sinuca de bico". O PL acabou apoiando Capitão Wagner, membro do União Brasil, para o Governo do Estado em 2022. 

Da eleição até as baixas no partido

Durante a eleição de outubro, apenas dois dos cinco federais eleitos ou reeleitos pelo partido no Ceará abraçaram a campanha pela reeleição do então presidente durante o primeiro turno: André Fernandes e Dr. Jaziel. Os outros três, Júnior Mano, Matheus Noronha e Yury do Paredão, só tornaram público o apoio nas redes sociais na corrida do segundo turno. 

O movimento não-adesista se estendeu também a outras lideranças que já indicavam alinhamento com o presidente da República, mas que, na campanha oficial, evitaram declarações públicas de apoio.

Após a derrota do ex-capitão do Exército no corpo a corpo com Lula, correligionários agora buscam uma maneira de se manter politicamente. Um que divergiu do restante do agrupamento foi Yury, que posou ao lado do ex-metalúrgico fazendo o "L" e acabou expulso pelos seus superiores em julho deste ano.

Mas atitudes de apoio antecederam o rompante simbólico e envolveram outros parlamentares. Na apreciação Medida Provisória 1154, a MP dos Ministérios, um mês antes da expulsão, além do próprio Do Paredão, Júnior Mano e Matheus Noronha avalizaram a medida, votando à favor de uma pauta de sumo interesse dos governistas.

Por conta do ocorrido, os dirigentes do PL prometeram punições como retaliação à atitude tomada pelos associados ao partido. Eles, junto com companheiros de outros estados, acusaram a cúpula de perseguição. 

Em maio, uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) havia promovido uma baixa considerável ao cassar toda a chapa de deputados estaduais do partido por fraude na cota de gênero. Com o resultado, os deputados estaduais Carmelo Neto e Alcides Fernandes e as deputadas Dra. Silvana e Marta Gonçalves tiveram os diplomas cassados. 

Por terem recorrido da sentença, eles mantiveram suas cadeiras na Alece. Novamente em uma crise, o presidente Acilon Gonçalves também ingressou com um pedido de suspeição contra o juiz responsável pela cassação.

O processo de cassação só foi concluído pelo Tribunal de competência estadual no início de novembro. Foi mantida a nulidade dos votos e a consequente perda dos mandatos. Em razão de recursos, o caso avançou nas instâncias jurídicas e afora está a cargo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Caso decida de forma desfavorável ao PL, esta será uma segunda derrota representativa para o jogo político dos liberais.

Em junho, o TSE tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro, principal nome do PL, inelegível pelos próximos oito anos. Ele foi condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. A medida não atingiu apenas o protagonismo individual dele, mas as estratégias eleitorais que o colocaram como um mártir desde os primeiros sinais da sua escalada política em direção à chefia de Estado.

Junto a inelegibilidade também estão a perda de força com a saída da Presidência da República, a cassação dos mandatos dos quatro deputados estaduais, o aceno de correligionários à base governista e a queda de braço entre setores do PL Ceará com o prefeito de Eusébio.

Fortaleza 2024

Inserido em uma turbulenta condição, o PL Ceará discute desde o início deste ano a participação no processo eleitoral do ano que vem com um candidato próprio.

No fim de agosto, Acilon Gonçalves indicou que isso só deveria acontecer se fosse "viável". O entendimento, segundo ele, era de que um competidor independente não deveria atrapalhar outra candidatura do mesmo segmento. 

Nas palavras de Gonçalves, o processo na cidade alencarina deve ser conduzido por André Fernandes, que preside a agremiação na Capital desde a destituição da vereadora Ana do Acarapé do posto máximo da Comissão Provisória pelo PL Nacional.

"Tem nome capaz de ser candidato e de empolgar o eleitorado. Hoje tem o André se colocando como esse nome, tem o Carmelo se colocando como esse nome. Mas existe uma conjuntura mais importante, que é a unidade. O grupo que trabalhou na última eleição, ele tentava se viabilizar unido. Fragmentado, ninguém se fortalece", disse na ocasião, mencionando as pré-candidaturas dos destacáveis deputados mais ideológicos do seu grupo.

Na mesma oportunidade, Capitão Wagner citou o desejo de dialogar tanto com o PL como com o Novo sobre a disputa pela Prefeitura de Fortaleza, para recompor o acordo celebrado entre as partes para a formação de um bloco de apoio na disputa para o Governo do Estado em 2022. A fala reforçou o que disse Gonçalves ao fazer indicações sobre a importância de diálogo dentro do campo que os três partidos representam atualmente no Ceará. 

Quem não concordou em nada com essa linha de raciocínio foi Fernandes. No período, ele fez declarações públicas de que o partido "não abrirá mão" de candidatura própria para a Prefeitura de Fortaleza.

"Estamos abertos para dialogar candidaturas e parcerias em outros municípios, mas na capital quem vai definir o candidato é Jair Bolsonaro, e este será do PL", ressaltou, por meio do seu perfil no antigo Twitter. 

O federal também destacou a "importância dos municípios do interior" e disse que, em outras cidades, a meta é lança "candidaturas 100% da direita alinhadas 100% com Bolsonaro, por mais que isso ultrapasse as bandeiras partidárias".

Em setembro, quando esteve em Fortaleza, até o próprio Bolsonaro evitou tocar no assunto. O ex-presidente cumpriu agenda ao lado dos companheiros, posou com os dois partidários, discursou, mas tergiversou quando foi indagado sobre sua predileção.

'Bate-cabeça' no PL Fortaleza

No último dia 10 de novembro, membros da executiva da Comissão Provisória do PL em Fortaleza divulgaram uma nota de apoio indicando André Fernandes como o pré-candidato oficial ao Paço Municipal. Assinaram o ato, além do próprio André, o deputado federal Dr. Jaziel, o deputado estadual Alcides Fernandes, a deputada estadual Dra. Silvana, o vereador Inspetor Alberto e o vogal Lael do Nascimento.

A redação da nota destacava o número expressivo de votos que o parlamentar recebeu nas duas últimas eleições que participou, 2018 e 2022, como atributos que o legitimariam para a eleição. Nas ocasiões citadas, ele foi eleito, respectivamente, como o deputado estadual e o federal mais votado do Ceará.

Além de Carmelo Neto, que era pré-candidato, a vereadora Priscila Costa se absteve de subscrever o apoio com os correligionários. Ela também era, desde junho, quando assumiu temporariamente o mandato na Câmara dos Deputados, cotada como pré-candidata ao Executivo municipal.

No mesmo dia, Neto emitiu um comunicado em que contestava a decisão da maioria do órgão partidário fortalezense. No comunicado, ele colocou em xeque a autoridade dos colegas por apoiarem o seu companheiro de sigla como o representante no pleito do ano que vem. 

Saída de Acilon e ascensão de Carmelo

No último dia 21 de novembro, a queda de braço entre Acilon Gonçalves e o grupo ideológico liderado por André Fernandes chegou ao fim, com a entrega da carta de renúncia do então dirigente estadual do PL. O documento foi encaminhado ao encaminhado ao presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto.

O prefeito de Eusébio justificou a saída do cargo por "divergências de entendimento com outros membros da sigla". Os correligionários citados, no entanto, não foram mencionados nominalmente. A despedida do comando, no entanto, não tira Gonçalves do jogo político, pois, segundo ele, agora irá se dedicar aos municípios cearenses que têm aliados como mandatários.

"Reitero que, até as eleições municipais de 2024, não pretendo exercer nenhum cargo de direção a nível de Estado, e sim, reforçar o trabalho municipal para que as boas práticas administrativas as quais defendo sejam vitoriosas", reforçou.

Para a professora Mariana Andrade, a situação conflitante foi um fator determinante para a corrosão interna do PL desde a entrada de figuras ligadas ao bolsonarismo.

"Acilon Gonçalves era aliado do Governo do Estado do Ceará, portanto, ainda mantinha canais de diálogo. No entanto, teve de se adequar a uma oposição ferrenha por orientação da sigla, o que gerou desgaste e pressões de ambos os lados", relembrou. 

A reflexão feita por Emanuel Freitas segue o mesmo raciocínio lógico explicitado pela educadora. "Essa crise causa muito problema para Acilon porque ele chegou onde chegou, com tantas prefeituras com seu comando, porque ele tinha uma sigla. Isso fazia com que negociasse apoio e questões federais porque tinha um partido, agora não tem mais", falou.

Um dia depois que a destituição de Acilon foi oficializada, na quarta-feira (22), o deputado estadual Carmelo Neto foi conduzido por Costa Neto para a cadeira de presidente estadual do PL. A ida do parlamentar para o posto máximo da agremiação no Ceará aconteceu graças a um acordo para apaziguar os ânimos entre ele e André Fernandes, que competiam pela participação na eleição municipal. 

No mesmo dia, o federal foi anunciado pela executiva nacional como pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza em 2024. "Recebi, na sede do nosso partido, os deputados da bancada federal do Ceará: Dr. Jaziel, Matheus Noronha, André Fernandes, Júnior Mano e o deputado estadual Carmelo Neto. Discutimos pautas importantes para o estado, o partido e o Brasil. Entre elas, a decisão de anunciarmos o nome do deputado Carmelo Neto como presidente do diretório estadual do PL no Ceará e o do deputado André Fernandes como pré-candidato à prefeitura de Fortaleza. Seguiremos sempre fortes e unidos em nome da liberdade e da democracia", declarou Valdemar no dia em que fez o anúncio.

PL em perspectiva

Na interpretação de Mariana Andrade, a saída de Acilon da direção poderá causar um êxodo de partidários. "Com a mudança do diretório estadual, provavelmente veremos uma debandada de membros do PL, porque as dificuldades de relacionamento apontadas pelo ex-presidente da sigla aqui no Ceará coincidem com a insatisfação dos políticos a ele vinculados", diz.

A cientista política acredita que o layout emplacado no diretório agora é benéfico para o novo presidente estadual. "Além de ganhar respeitabilidade na sigla, Carmelo terá controle sobre a distribuição dos recursos do Fundo Eleitoral e Fundo Partidário da sigla, que será ainda maior em 2024 pelo grande número de parlamentares eleitos em 2022", considerou. 

Ela concordou ainda que, mesmo sendo um front da direita, a sigla ainda deve dividir votos com o Novo e o União Brasil, representados, respectivamente, pelos pré-candidatos Eduardo Girão e Capitão Wagner e enfrentar consideráveis resistências internas na consolidação de uma candidatura própria para o pleito.

"Embora o diretório estadual seja hoje comandado por membros filiados a um eixo ideológico de extrema direita, essa posição não reflete a maioria do partido. Além disso, a opinião pública mais conservadora ainda se concentra na candidatura de Capitão Wagner e Eduardo Girão como nomes mais experientes e consolidados, o que pode ser um desafio ainda maior para André Fernandes", expôs a docente da Unifor.

Mariana disse perceber diferenças claras entre os diretórios estadual e nacional do Partido Liberal. Ela considerou que, enquanto os liberais cearenses demostram um comportamento "mais passional", os da divisão superior têm uma conduta "mais estratégica".

"O diretório estadual do PL é composto hoje por figuras políticas mais próximas do bolsonarismo radical, o que amplia as chances de embates internos e diminui as alianças. O diretório nacional não nutre essa perspectiva passional pelo ex-presidente da República, pelo contrário", declarou, dando conta de uma estratégia de Valdemar Costa Neto ao ter abrigado Jair Messias.

O que esteve em jogo na chegada de Bolsonaro, segundo ela, foi a garantia de uma maior fatia dos recursos do Fundo Partidário e Fundo Eleitoral, além do aumento considerável do número de filiados.

"Depois da vitória de Lula, já era esperado que as relações com Bolsonaro azedassem e que o diretório nacional voltasse a estabelecer contatos com o Centrão. O que vemos hoje entre o presidente do diretório nacional e o ex-Presidente da República é uma convivência forçosa entre dois inimigos íntimos, mas necessária para a sigla", analisou.

Para Emanuel Freitas, a saída do prefeito de Eusébio do posto de comando coloca à prova o quanto a capilaridade eleitoral já demonstrada dependia do partido, ao mesmo tempo que também revela dois ganhadores. "O primeiro é o bolsonarismo - que já estava estrangulando o Acilon, alçou o André (Fernandes) ao posto de candidato à prefeito e o Carmelo à presidência -, e o outro vencedor é o Governo do Estado", discorreu.

O acadêmico em Ciência Política explicou que agora, "na condição de não comandar mais um partido que nacionalmente está fechado com a oposição, o Acilon e seus aliados ficam mais à vontade para se aproximar dos governistas, no sentido de negociar cargos, mesmo que não seja via partido, mas por meio de prefeituras".

Segundo Freitas, o quadro do PL após o processo eleitoral do ano passado está "inchado", repleto de políticos jovens, ligados ao bolsonarismo e que "dão uma feição nova ao partido". O resultado das urnas foi um segundo movimento no itinerário recente do partido. A movimentação primária teria sido a chegada dos aliados do ex-presidente, em 2021.

Ao que argumentou, a guinada para a direita, situando em um espectro uma legenda que era de centro, e a "superfiliação" de políticos se colocam como uma cobrança para o firmamento que ultrapassa o oposicionismo.

"Então, mais que o Valdemar seja um cara acostumado com o poder e com a negociação, é outra coisa quando você tem diante de si, como chefe partidário, um conjunto de campeões eleitorais que pode fazer a máquina partidária crescer. Acredito que, a preço de hoje, o presidente nacional aposta no crescimento da sigla a partir do inchaço das eleições do ano que vem para prefeitos e vereadores", acrescentou ele.

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