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Queda de braço no PL de Fortaleza pode adiar escolha de candidato à Prefeitura

Antagonismo entre figuras do Partido Liberal de Fortaleza acentua imbróglio em torno da escolha do nome que poderá representar a direita nas urnas

Escrito por Bruno Leite , bruno.leite@svm.com.br
André Fernandes, Carmelo Neto e Bolsonaro
Legenda: Polarização liberal é protagonizada por Carmelo Neto e André Fernandes.
Foto: Thiago Gadelha

Depois da falta de concordância entre membros do Partido dos Trabalhadores (PT) na definição de um nome para a disputa pela Prefeitura de Fortaleza e do conflito entre alas do Partido Democrático Trabalhista (PDT) pelo comando da legenda no Estado, o contexto antecipado da corrida pré-eleitoral parece expor mais uma fissura partidária, desta vez na comissão provisória do Partido Liberal (PL) na Capital.

A face mais visível e recente deste embate liberal se deu na última sexta-feira (10), quando o deputado estadual Carmelo Neto, que é pré-candidato, emitiu uma nota em que contesta uma decisão da maioria do órgão partidário fortalezense. No comunicado, o parlamentar colocou em xeque a legitimidade dos colegas por apoiarem o seu companheiro de sigla, André Fernandes, como o representante no pleito do ano que vem. 

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Ele lembrou ainda o aceno do presidente nacional da agremiação, Valdemar Costa Neto, quando declarou publicamente que a escolha do player para o processo eleitoral iria considerar pesquisas de intenção de voto aplicadas com os eleitores da cidade.

"Desde a nova composição, nunca houve convocação para nenhuma reunião dos membros da Comissão Provisória para qualquer deliberação, muito menos para a escolha do pré-candidato. Mesmo que houvesse, é regra no Partido Liberal que a escolha de qualquer pré-candidato a prefeito, pelo partido, em qualquer capital do país, passe por todas as instâncias: municipal, estadual e nacional", argumentou no texto.

Nota de apoio

O apoiamento que provocou a veiculação do informativo por Carmelo foi demonstrado no mesmo dia, por meio de documento em que membros da executiva municipal indicaram Fernandes como o pré-candidato oficial para a eleição de 2024. Assinaram o ato, além do próprio André, o deputado federal Dr. Jaziel, o deputado estadual Alcides Fernandes, a deputada estadual Dra. Silvana, o vereador Inspetor Alberto e o vogal Lael do Nascimento.

A redação da nota destaca o número expressivo de votos que o parlamentar recebeu nas duas últimas eleições que participou, 2018 e 2022. Nas ocasiões, ele foi eleito, respectivamente, como o deputado estadual e o federal mais votado do Ceará.

Além de Carmelo, a vereadora Priscila Costa se absteve de subscrever o apoio com os correligionários. Ela também é, desde junho, quando assumiu temporariamente a cadeira na Câmara dos Deputados, pré-candidata ao Executivo municipal.

Dimensão da disputa

A falta de consenso tem outros contornos, que ultrapassam os limites da instância local do partido. Há quem defenda até mesmo uma unidade entre o bloco da direita - que inclui outro ator importante e com eleitorado considerável: o Capitão Wagner, do União Brasil.

O dirigente estadual do PL, o prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves, é um deles. Em agosto, quando falou publicamente sobre o tema, ele pontuou que a participação da legenda com uma candidatura própria só deveria acontecer de fosse "viável". O entendimento, segundo ele, é de que um player independente não deve atrapalhar outra candidatura do mesmo segmento. 

Acilon mantém uma relação turbulenta com André desde a chegada do parlamentar nas fileiras liberais, vindo do Republicanos. A aterrissagem estratégica coincidiu com a entrada de Jair Bolsonaro e marcou uma guinada à direita do grupo. Antes disso, o gestor era aliado do clã Ferreira Gomes e do ex-governador petista Camilo Santana.

Em setembro, quando esteve em Fortaleza, até o próprio Bolsonaro evitou tocar no assunto. O ex-presidente cumpriu agenda ao lado dos companheiros, posou com os dois partidários, discursou, mas tergiversou quando foi indagado sobre sua predileção.

Interlocutores ligados à comissão provisória, ouvidos pela reportagem do Diário do Nordeste, defendem a legitimidade para a escolha de André Fernandes como o pré-candidato oficial. Segundo eles, o destacamento da capital alencarina tem validade na Justiça Eleitoral até dezembro do próximo ano.

Uma das pessoas entrevistadas ressaltou que a definição é interna e não depende de levantamentos eleitorais, como proposto por Valdemar. Ela disse acreditar também que, caso Fernandes seja confirmado como o escolhido, Carmelo tende a não fortalecer a campanha do deputado. 

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