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Qual a força dos partidos políticos do Ceará na nova recomposição de poderes

Partidos rearticulam forças de olho no pleito do próximo ano. Para analistas, siglas governistas devem ganhar novos quadros

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Eleições do ano passado promoveram redesenho de forças no Estado
Legenda: Eleições do ano passado promoveram redesenho de forças no Estado
Foto: Divulgação/Alece

Distantes quase um ano e meio das próximas eleições municipais, as lideranças partidárias já fazem cálculos e definem estratégias para fortalecer os partidos de olho no pleito de 2024. Após uma disputa eleitoral que separou aliados históricos e com o maior partido do Estado rachado internamente, há um reequilíbrio de forças no Ceará que deve ser decisivo para as próximas eleições, segundo analistas.

Mesmo seguindo como a maior força política cearense – liderando em número de prefeitos e deputados, além de comandar a Capital e ter em seus quadros um senador –, o PDT, por exemplo, vem enfrentando seu momento mais turbulento na política local. Já o PT retomou a ascensão após um período de crise nacional na legenda, com o antipetismo atingindo seu ápice no País.

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Para o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), só esses dois exemplos já indicam os rearranjos nas forças políticas do Estado desde a última eleição municipal.

“É importante termos em mente que, nos estados e, principalmente, no Interior, a noção de partido se aproxima muito mais de grupo político, então, quando você fala de partido, você está falando de lideranças e de grupos políticos”, ressalta o pesquisador.

Esse conceito é o que também explica as principais movimentações político-partidárias no Estado ao longo dos anos, aponta Monte, com a migração de lideranças para siglas como o PSDB – durante o Governo Tasso –, por exemplo. Considerando o grupo político liderado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT), isso fica novamente evidente, com migrações em massa de aliados para siglas como PSB, Pros e PDT.

“Não tem como refletirmos sobre a influência dos partidos na Assembleia, nas prefeituras e nas câmaras municipais se não levarmos em consideração a tradição governista que existe na história política do Ceará”
Cleyton Monte
Cientista político

“Você vai ver que as lideranças que dominam o Executivo acabam atraindo nomes para seu partido. O PSB, o Pros e o PSDB já foram os maiores partidos do Estado quando abrigavam o governador”, aponta.

PDT e os resquícios de 2022

Atualmente, o PDT lidera esse ranking de força partidária no Ceará. A legenda conta com 13 deputados estaduais, seis federais, além de um senador e 63 prefeitos. Esse grupo, que surge sob a liderança da família Ferreira Gomes, também tem lideranças importantes em outros partidos, como o próprio ex-governador Camilo Santana (PT), atual ministro da Educação.

Foi justamente essa capilaridade da influência que contribuiu para a divisão do partido, com aliados de outras siglas vetando o nome indicado pelos petistas no pleito do ano passado. 

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O partido, além de dividido entre aqueles que, à época, defendiam a candidatura do ex-prefeito Roberto Cláudio e da então governadora Izolda Cela (sem partido), acabou enfrentando uma derrota histórica, vendo o ex-prefeito perder a eleição ainda no primeiro turno para o petista Elmano de Freitas.

Na última semana, Cid ainda reacendeu o racha ao criticar Roberto Cláudio, o atual prefeito José Sarto e até o próprio irmão, Ciro Gomes. Com a sigla rachada, pesquisadores avaliam que o partido deve ser o principal impactado no pleito deste ano.

O cientista político Josênio Parente, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) avalia que a estratégia eleitoral adotada pelo partido no ano passado – tanto por Ciro quanto por Roberto Cláudio – foi arriscada.

“Se eles ganhassem, ganhavam muito, se perdessem, perdiam muito, então é isso que está acontecendo agora. O PDT vai perder elementos importantes, é a tendência porque o partido se dividiu na eleição e não se ajustou desde então: uma parte segue apoiando o governador do PT e outra parte segue querendo fazer oposição”
Josênio Parente
Cientista político

Potencial do PT para 2023

Já o PT, que agora tem, além do governador, o presidente Lula no comando do Executivo nacional, deve ganhar força. Desde o ano passado, a sigla vem ampliando seus quadros. Atualmente, a legenda conta com 8 deputados estaduais, três federais, uma senadora e 31 prefeituras.

“A lógica é de que o PT cresça por ser o partido do governador. O PT vive um momento de definição, já o PDT está enfrentando indefinições, o que se torna muito arriscado para um prefeito migrar sem saber qual é a lógica do partido. Então, PT e os partidos que estão em sua órbita podem crescer”, avalia Cleyton Monte. 

“O PDT hoje continua como o maior partido, mas é o PDT ligado ao governador Elmano. Se você pesquisar entre os prefeitos, você vai ver que aqueles que são aliados do governador são maioria absoluta”, acrescenta.

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Josênio Parente endossa essa avaliação. “Após aquele momento de fragilidade com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e o drama vivido por Lula em sua prisão, o antipetismo acabou ficando em banho-maria e o partido retomou sua potência”, aponta.

Siglas como MDB, PSD e PP, que compõem a base governista no Estado, também têm representação significativa no Estado. Os emedebistas, sob liderança de Eunício Oliveira (MDB), que retornou ao Legislativo Federal, conta com três deputados estaduais e um federal.

O PP também tem seu presidente local no Congresso Nacional, o deputado federal AJ Albuquerque. A sigla elegeu ainda três deputados estaduais, mesma quantidade do PSD, que tem ainda três deputados federais. 

“O PSD é um desses partidos que orbitam a base e que se mostra muito forte nas eleições municipais devido à influência do ex-vice-governador Domingos Filho, ele próprio diz que não tende a fazer oposição”, ressalta Cleyton Monte.

Oposição no Ceará

Abrigados principalmente no PL e no União Brasil, a oposição cearense aos petistas e pedetistas tem um futuro ainda incerto, segundo os pesquisadores. Nesses dois partidos, há políticos mais fiéis ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que historicamente compõem o grupo político do ex-deputado federal e atual secretário da Saúde de Maracanaú, Capitão Wagner (União).

Com Bolsonaro e Wagner derrotado nas últimas eleições, as duas siglas precisam caminhar para um fortalecimento no Estado sobre camadas mais diversas do eleitorado, aponta Josênio Parente. 

“As lideranças desses dois partidos são muito fortes sobre o setor empresarial e conservador do Estado, é um grupo que tem potencial. Já foram algumas derrotas, mas com desempenhos que têm melhorado, a questão é romper essas forças do PT e do PDT”
Josênio Parente
Cientista político

União Brasil e PL somam oito deputados estaduais eleitos no Ceará, cada sigla tem quatro. O PL conseguiu eleger ainda cinco deputados federais e comandar 13 prefeituras. Já o União Brasil tem quatro deputados federais em seus quadros.

“São partidos que têm influência sobre uma determinada classe média nas grandes cidades, mas não tem grande força nos pequenos municípios do Interior, esse é o quadro neste momento”, conclui Cleyton Monte.

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