O que dizem deputados do Ceará sobre a ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil
Para opositores, o Executivo se enfraquece diante do Centrão. Já nomes mais próximos ao Governo veem a troca no Ministério com otimismo
O convite do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para que o senador Ciro Nogueira (PP), um dos líderes do Centrão, passe a comandar a Casa Civil pegou muitos integrantes do Governo e parlamentares de surpresa nesta terça-feira (21). Nomes da bancada federal do Ceará avaliam, em entrevista ao Diário do Nordeste, o que a mudança significa e os impactos na atuação do presidente.
Segundo nomes da oposição, o convite é um claro sinal de enfraquecimento do chefe do Executivo nacional diante do grupo de deputados e senadores que compõem o Centrão. Já deputados mais próximos ao Governo Federal veem a chegada do senador à Pasta com otimismo.
Veja também
Ao longo das últimas semanas, o presidente vem enfrentando os momentos mais turbulentos de seu Governo. Além da queda na popularidade, com o ex-presidente Lula (PT) assumindo o favoritismo em pesquisas de intenção de votos para 2022, Bolsonaro também voltou a entrar em atritos com o Legislativo e o Judiciário.
Em paralelo, a CPI da Covid revelou suspeitas de corrupção envolvendo diretamente integrantes do Ministério da Saúde e até o líder do Governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP).
Para tentar conter os danos, o presidente articula a reforma ministerial. Até agora, a mudança definida envolve três nomes: Ciro Nogueira vai para a Casa Civil no lugar do general Luiz Eduardo Ramos, que passa para a Secretaria-Geral, ocupada por Onyx Lorenzoni (DEM). Este último deve ocupar o Ministério do Trabalho e Emprego, que ainda será criado.
Enfraquecimento
O deputado federal Leônidas Cristino (PDT) vê a mudança de ministros como consequência da "atitude belicosa" do presidente Bolsonaro. “Ele não sobrevive sem insultar pessoas e instituições. Cada ação deste tipo custa caro e ele, para amenizar o problema, tem que dar dinheiro de emenda e cargos para os deputados da base – principalmente do Centrão”, acusa.
Na recente votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2022, Leônidas Cristino lembra que Bolsonaro atacou o vice-presidente do Congresso Nacional, Marcelo Ramos, do PL, partido da base do Governo.
“O presidente criou uma briga que não tem troféu. Agora, como pagamento, vai ter de entregar uma fatia do poder. Caso contrário, o processo do impeachment pode sair da gaveta”.
Já Eduardo Bismarck (PDT) enxerga a mudança como um gesto de aproximação com o Legislativo e também uma preocupação do Executivo com a CPI da Covid-19.
“Em uma segunda análise, também demonstra um enfraquecimento da base política do presidente, que está se distanciando das bandeiras que o elegeram – como a anticorrupção –, na medida em que a CPI está descobrindo várias questões, inclusive de problemas com relação à má gestão do Ministério da Saúde na pandemia”, acrescenta.
Veja também
Otimismo
Aliado do presidente no Ceará, o deputado Dr. Jaziel (PL) vê com cautela o convite feito a Ciro Nogueira. Segundo ele, a relação entre o Congresso e o Governo Federal é "muito dura". “Não tenho nada contra o senador lá, não posso fazer nenhum julgamento contra a pessoa, mas faz parte, esse modelo que oprime, pesado, não é fácil”, afirma.
“No Congresso, às vezes o mandatário tem que negociar e viabilizar, se ele está lá é por conta que o presidente tem que sentar e ouvir. Ninguém pode ser julgado previamente, a oportunidade tem que ser dada”
O deputado Danilo Forte (PSDB), no entanto, faz uma avaliação prévia de uma eventual nomeação de Ciro Nogueira. Para ele, o senador terá muito a contribuir como Governo Federal.
“É um político vivido, tem toda a experiência de ter sido deputado e presidente de partido, isso pode melhorar muito o diálogo do Poder Executivo com o Legislativo e com a sociedade. Eu espero que ele consiga ter uma pacificação, que é a construção do pós-pandemia, a retomada do desenvolvimento, geração de emprego e a continuidade das reformas”, finaliza o tucano.