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Como a junção de partidos em federações pode impactar legendas no Ceará

A disputa do próximo ano será a primeira com a possibilidade dessa união entre partidos, o que pode mudar a balança eleitoral

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Urna eletronica
Legenda: Eleição de 2022 será a primeira a contar com a possibilidade de partidos se unirem em federações
Foto: José Cruz/Agência Brasil

Dirigentes partidários cearenses apontam que, com a aprovação das federações partidárias para a eleição de 2022, ainda existem muitos obstáculos para a definição dessas uniões temporárias entre as legendas. Entre os elementos que atrapalham, está o caráter nacional da federação, que ignora as conjunturas e alianças estaduais. 

Ao Diário do Nordeste, lideranças políticas ressaltaram que outro elemento a ser levado em consideração são as eleições de 2024. Como as federações têm duração mínima de quatro anos, siglas que optarem por essa união, também irão marchar juntas na disputa municipal - o que nem sempre é vantajoso para todas os partidos. 

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Por conta disso, apesar das conversas já terem se iniciado - principalmente, entre as Executivas nacionais -, os cearenses apontam que qualquer definição deve ficar para o início de 2022. 

Ainda assim, as federações são consideradas alternativas após o fim das coligações para as eleições proporcionais. Com a cláusula de barreira ameaçando partidos que não conseguirem um bom desempenho nas disputas proporcionais de 2022, as federações são vistas como forma de fortalecer as chapas de deputado federal e estadual para o próximo ano.

"É uma válvula de escape, agora que se tirou as coligações", afirma o deputado federal e presidente estadual do Solidariedade, Genecias Noronha. Outro ponto que atrai as legendas, é que cada partido mantém a ideologia e identidade própria, apesar da união.

Impasse para união

Uma das conversas iniciadas, em Brasília, envolve MDB, Avante e Solidariedade. Dirigentes dos três partidos conversam sobre a possibilidade de união temporária por meio da federação. 

"Está bem adiantado (o processo)", afirma o ex-senador e presidente do MDB no Ceará, Eunício Oliveira.  "É importante porque aumenta o tamanho do partido, você vai somar à sua legenda outros dois partidos que não são partidos que criam problemas com o MDB".

Genecias Noronha confirma as conversas, mas garante que a definição deve sair apenas "no último minuto do segundo tempo". Isto porque, tanto para o Solidariedade como para o Avante, existem algumas preocupações quanto uma federação junto ao MDB. 

Noronha explica que um dos problemas em vista é a disputa municipal, inclusive para o Ceará. "O que pode dar ruim é a eleição de prefeito. O MDB é um partido maior, que tem mais candidatos e pode confrontar com o nosso", afirma. 

Antes de bater o martelo, o Solidariedade tem realizado pesquisas sobre os cenários estaduais de cada partido. Diálogos com outros partidos, como o PCdoB, também estão sendo feitos, completa Noronha. 

Disputa presidencial

Outra dificuldade encontrada é quanto ao apoio na disputa presidencial em 2022. Partidos têm a opção de liberar os diretórios de cada estado para apoiar o candidato mais bem posicionado naquela região, por exemplo. 

O mesmo não pode ser feito em partidos que resolverem se unir em uma federação: a abrangência nacional desse mecanismo impõe posicionamento único quanto à candidatura presidencial. 

Isso deve ter um peso ainda maior na negociação entre o PP, o PL e o Republicanos para união em uma federação. Isto porque o presidente Jair Bolsonaro vem afirmando a aliados que tem 99% de chances de acertar sua filiação ao PP para a disputa de 2022. 

Além disso, os três partidos também estão em lados opostos no Ceará. Enquanto PP e PL fazem parte da base aliada ao governador Camilo Santana, o Republicanos integra a oposição e deve apoiar a pré-candidatura do deputado federal Capitão Wagner (Pros) ao Palácio da Abolição. 

Lira e Bolsonaro
Legenda: Partido do presidente da Câmara, Arthur Lira, o PP pode ser o partido a abrigar o presidente Bolsonaro para a disputa de 2022
Foto: Marcos Corrêa/PR

Presidente do Republicanos no Ceará, o vereador Ronaldo Martins considera baixas as chances do partidos se unir em uma federação para 2022. Embora admita que a legenda tem sido procurada para diálogos sobre assunto, ele não confirma por quais partidos. 

"O partido está se estruturando para sair com chapas puras em todos os estados", afirma o parlamentar. Qualquer definição sobre uma união temporária deve ficar para o próximo ano, mas ele afirma que para o Ceará, o melhor cenário é não formar federação. 

"Aqui para a gente, o melhor é chapa pura. Porque, o que pode ser bom para o Sul, não é bom pra cá. Um partido que é bom no Ceará (para fazer federação), não é bom em outro estado. É ruim a federação sendo de cima para baixo, porque cada estado tem uma realidade".
Ronaldo Martins
Presidente do Republicanos no Ceará

A reportagem também procurou o presidente do PP no Ceará, o deputado federal AJ Albuquerque, e o presidente do PL, Acilon Gonçalves, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. 

Sobrevivência dos partidos

Outras siglas de centro e esquerda também iniciaram as conversas sobre a formação de federações em 2022. Presidente do Cidadania em Fortaleza, Michel Lins afirma que a conversa com o PV está bastante avançada, mas não descarta união com outros partidos. 

"Com o rumo mais encaminhado está a construção com o PV, mas estão havendo outras definições. Têm conversas com a Rede e com outros partidos, mas ainda está muito no começo, muito superficiais". 
Michel Lins
Presidente do Cidadania Fortaleza

Segundo ele, não existe nenhuma preocupação quanto a uma união temporária, mas a definição deve sair apenas no começo do próximo ano.

O presidente do PV no Ceará, Marcelo Carvalho, afirma que ainda há resistências à formação da federação dentro do partido. "Não estamos muito simpáticos, existem muitas dúvidas. Mas a nossa perspectiva é tomar uma decisão em que seja assegurada a sobrevivência do partido", ressalta. 

Um dos pontos que deve ser levado em consideração, completa, é o apoio ao ex-presidente Lula (PT) na disputa presidencial - que tem sido defendido por ala do PV a nível nacional. 

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Apesar dos diálogos entre Cidadania, Rede e PV - para a formação de uma federação - já terem sido citados pelos dirigentes nacionais do Cidadania e do PV, o porta-voz nacional da Rede, Wesley Diógenes explica que ainda não ocorreram conversas oficiais. 

"Ainda vai ser discutido internamente, talvez no começo do próximo ano. A tendência do partido é que não faça federação", afirma. Segundo ele, a meta da legenda tem sido "tentar sobreviver só" à cláusula de barreira na eleição do ano que vem. Ele cita como principal obstáculo os cenários estaduais. 

"Do ponto de vista da teoria, as federações foram um avanço, porque possibilita partidos mais identitários  manterem a autonomia e apresentarem projeto conjunto no país. Mas, do ponto de vista da vida prática, temos as realidades de cada estado. E a correlação de forças nos estados é diferentes". 
Wesley Diógenes
Porta-voz do Rede Sustentabilidade

Diálogos na esquerda

Um dos maiores apoiadores da proposta que instituiu as federações partidárias, o PCdoB também iniciou conversas com partidos sobre essa união temporária. O presidente da legenda no Ceará, Luis Carlos Paes, diz que não há dúvidas de que a sigla irá integrar uma federação. 

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"Não é apenas para beneficiar pequenos partidos que correm risco com a cláusula de barreira - o que também é verdade. A federação é mais ampla que isso", ressalta. "Não vai ser um partido sozinho que vai poder construir um novo projeto de desenvolvimento, é uma tarefa para diversos partidos políticos". 

Segundo ele, o PCdoB iniciou os diálogos com todas as siglas com semelhanças no projeto político - como PSB, Rede, PDT, PV, dentre outras. A definição, contudo, deve ficar para janeiro ou fevereiro do próximo ano, completa.

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