Quando se trata de eleições, cada município tem a sua complexidade, e Eusébio leva a sério essa sina. Lá, o prefeito Acilon Gonçalves (PL) pretende dar continuidade à estratégia de manutenção de poder iniciada há 20 anos, quando foi eleito ao Executivo pela primeira vez. Governou por dois mandatos e emplacou um aliado na sucessão, em 2012.
José Arimatea Júnior, então, comandou a cidade entre 2013 e 2016, ano em que Acilon disputou novamente a Prefeitura nas urnas e saiu vitorioso. Em 2024, o gestor finaliza mais uma dupla de mandatos consecutivos na gestão de Eusébio e quer lançar Arimateia mais uma vez para a disputa.
A tática – replicada em municípios como Maracanaú – tem evitado uma disputa profunda dentro do próprio bloco pela indicação ao pleito e uma ascensão da oposição local nos últimos anos.
A movimentação, contudo, não tem impedido investidas rivais. Em Eusébio, a disputa na base e na oposição funciona em paralelo com Aquiraz, não apenas devido à história e geografia da região, já que a primeira foi emancipada da segunda em 1987.
Do ponto de visto político, é intenção do grupo de Acilon manter as prefeituras que já têm atualmente, em especial a de Aquiraz, governada por seu filho Bruno Gonçalves (PL). No município vizinho, a oposição se concentra em um nome, o do vereador Jair Silva (PP), apoiado pelo ex-prefeito Edson Sá (PSB).
O termo “ex-prefeito” é ambíguo no texto porque ele já governou tanto Aquiraz quanto Eusébio. Esta é outra peculiaridade da cidade gerida por Acilon: hoje em grupos adversários, os dois já chegaram a estabelecer aliança há alguns anos.
Sintetizando esse cenário, vê-se outro fato curioso: a cidade de 36 anos só teve quatro prefeitos em toda a sua história. Há municípios mais jovens, como Catunda e Choró, instituído nos anos 90, com uma galeria mais ampla. Ambas tiveram cinco gestores.
Em busca de retorno
Edson Sá é veterano em Eusébio. Tanto que foi o primeiro prefeito da cidade, eleito em 1988 pelo PSDB. Àquela altura, a cidade completava apenas um ano de emancipação de Aquiraz.
O mandato seguiu até 1992, quando foi substituído por Raimundo Damasceno Silva. Vale destacar que o direito à reeleição só foi garantido em Emenda Constitucional de 1997, sob a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Foi naquele ano que Edson voltou à Prefeitura, conquistando a recondução em 2000. Nesse período, teve como vice-prefeita Marta Gonçalves, atualmente deputada estadual pelo PL e esposa de Acilon.
Em 2004, Edson recalculou a rota e lançou-se candidato em Aquiraz ainda como prefeito de Eusébio. A investida não foi para a frente e quem se elegeu na primeira foi Ritelza Cabral e na segunda foi Acilon. Edson, então, manteve a estratégia e conseguiu chegar ao Executivo de Aquiraz, mas sem tirar o pé de Eusébio. No seu berço político, emplacou a filha Leca Sá como vice de Acilon.
“Mas vice não manda em nada, tem que ficar caladinha”, relata a ex-vice-prefeita. “Mas não existe briga, existem divergências politicas. Uma coisa é ser inimigo, outra é divergir na política”, completa.
No ano de 2012, a vitória de Arimateia nas urnas de Eusébio frustrou os planos do então gestor de Aquiraz de retornar ao seu berço político. O fluxo entre os dois municípios e problemas de desincompatibilização lhe tornou símbolo cearense do termo “prefeito itinerante”, que chegou a ser objeto de julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até pouco mais de dez anos atrás.
Agora, o clã Sá quer voltar a comandar a jovem cidade. Inicialmente, o advogado e conselheiro da Agência Reguladora do Estado do Ceará (Arce) Rafael Sá, filho de Edson e irmão de Leca, foi cogitado para a disputa, mas acabou assumindo outro projeto.
O pai, então, foi escolhido pré-candidato. Filiado ao PDT até pouco tempo, ele migrou para o PSB na última terça-feira (20), após reunião com o senador Cid Gomes (PSB). “Ficou combinado que todos os partidos da base iriam nos apoiar em Eusébio e Aquiraz. [...] A oposição estará unida em torno de um projeto que não é de Edson nem de Jair, mas de melhoria da população”, afirma.
No momento, o ex-prefeito prefere não detalhar as tratativas em curso, mas adianta que seu nome também tem apoio de Camilo Santana (PT) e Chiquinho Feitosa (Republicanos). Por ora, busca dialogar com vereadores e novas lideranças.
Poder na sucessão
Em meio a conflitos internos no PL e tratativas com outros partidos, o atual gestor já acumula o quarto mandato em Eusébio – estando, atualmente, no segundo consecutivo. Primeiro, governou entre 2005 e 2012 pelo PSB.
De volta à Prefeitura, em 2016, ele passou pelo Patriota (hoje, PRD) até pousar no PL em 2019. Na agremiação liberal, ele conseguiu eleger aliados em cinco municípios no ano seguinte, contando com o filho Bruno Gonçalves (PL), em Aquiraz.
Para as eleições deste ano, ele mobiliza esforços para a eleição de Arimateia. O arco de aliança deve ser composto por três partidos, contando com o PL.
“Nós que temos o PL formado no município, estamos levantando o número de vereadores para a disputa eleitoral, e, assim, saber quantos partidos deverão compor o leque de aliança partidária”, indicou, ainda.
Segundo aliados em vários municípios, há a possibilidade de Acilon não seguir no PL em 2024. Essa movimentação ocorre após crises internas com bolsonaristas na sigla liberal levarem à sua renúncia da direção estadual, impondo um novo perfil ao PL sob gerência de Carmelo Neto e lançando incertezas sobre o grupo coordenado pelo prefeito.
Se assim for, ele pode disputar as eleições em Fortaleza – se viável juridicamente, como pondera o seu filho Bruno – para vereador por outra agremiação. Uma das opções apontadas nos bastidores é o PRD. Questionado sobre isso, o prefeito de Eusébio evita comentar sobre a filiação e afirma que a jovem legenda “deverá ser uma das que vai compor o arco de aliança nos diversos municípios”.
Outras possibilidades
Com a recente baixa no quadro de filiados, incluindo Sá, o PDT ainda não sabe como deve se posicionar nas eleições de Eusébio. Segundo o presidente estadual da legenda, Flávio Torres, há uma boa relação com Acilon, também devido a ele já ter sido colega de agremiação, mas nada fechado sobre eleições.
Há, ainda, quem espere a posição oficial do Governo sobre a candidatura em Eusébio. É o caso do Solidariedade (SD) que, há cerca de um ano, incorporou o Pros, representado por Chico do Posto nas eleições de 2020. O partido vai compor o oposição no município, conforme a indicação da cúpula petista. "Nós estamos esperando a definição de quem vai ser realmente candidato para nos posicionarmos no Eusébio", afirmou.