Vendas do último quadrimestre devem crescer cerca de 10% no CE

Comércio local prevê que injeção de recursos emergenciais e redução dos juros contribuam para que varejo vivencie um fim de ano melhor que o do ano passado, apesar do turbilhão provocado pela pandemia

Escrito por Redação ,
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Legenda: O sorteio dos prêmios da Fortaleza Liquida foi transmitido, ao vivo, nesta sexta-feira (18) pelo canal da CDL de Fortaleza no Youtube.
Foto: Natinho Rodrigues

A redução dos juros à mínima histórica e a liberação de recursos emergenciais para atenuar efeitos da pandemia do coronavírus devem contribuir para que o varejo cearense tenha um fim de ano mais próspero. A expectativa do setor é que o faturamento cresça cerca de 10% em Fortaleza durante o período chamado "B-R-O-Bró", que compreende os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, em comparação a igual intervalo do ano passado.

A projeção é do presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves. "Neste fim de ano, o faturamento do comércio deve ser de 10% (maior), mas alguns setores devem faturar mais. Infelizmente, muitas empresas não aguentaram o período de fechamento compulsório e vão acabar perdendo essa excelente oportunidade", detalha ele.

Para ele, os sucessivos cortes efetuados na taxa Selic representam o principal vetor de alta do faturamento do comércio neste fim de ano. Isso porque, com a mínima histórica da taxa, a rentabilidade de aplicações conservadoras caiu consideravelmente.

"Se a pessoa tinha aquele dinheiro aplicado e percebeu que ele não está mais rendendo, acaba buscando outras formas de empregar aquele recurso. Às vezes, ela faz isso com a intenção de iniciar uma outra atividade, que pode servir como nova fonte de renda", pontua Alves, destacando que os recursos guardados pela população devem ser redirecionados ao comércio.

O destaque, na avaliação dele, é o segmento de produtos para a casa. "Em relação ao material de construção, isso já está configurado", reforça Alves. Conforme o último resultado da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em junho, o segmento foi um dos poucos a apresentar alta de vendas na comparação com igual período do ano passado (+13,9%).

Além dos benefícios emergenciais, a exemplo do auxílio emergencial - prorrogado até o fim deste ano, mas com valor reduzido à metade (R$ 300) - e do saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o pagamento do décimo terceiro salário para os trabalhadores tanto do serviço público como da iniciativa privada também é importante impulsionador do comércio, como normalmente ocorre todo fim de ano.

"Eu suponho que, independentemente da redução no valor do auxílio emergencial, teremos um fim de ano excelente, porque os juros básicos estão em mínima histórica e isso leva as pessoas deixarem um pouco de guardar e o dinheiro volta a girar na economia. Quando essas pessoas vão às compras, o comércio é o primeiro setor a receber esse impacto positivo", ressalta o presidente do Sindilojas.

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza também sustenta o otimismo no impacto dos recursos emergenciais na economia local - que inclusive foram responsáveis por dar ao comércio fôlego nas vendas para o Dia dos Pais. O presidente da entidade, Assis Cavalcante, entretanto, projeta um avanço um pouco mais tímido: crescimento de 5% na comparação com igual período do ano anterior.

"As nossas expectativas são boas. Sabemos que os consumidores ainda não estão saindo para ir às compras em sua plenitude, muitos são idosos, mas essa transferência de renda a partir dos recursos emergenciais e do 13º salário é muito importante", aponta. "Alguns setores devem apresentar um crescimento de 5%, outros menos. Temos iniciativas que ajudam, como o Fortaleza Liquida, e teremos outra ação para este fim de ano, que é o Centro Premiado", lembra o presidente da CDL Fortaleza.

Ele também avalia que o setor de material de construção está saindo na frente, mas completa que as vendas de eletrodomésticos também devem se destacar no último quadrimestre deste ano. Na outra ponta, porém, devem ter pior resultado itens do varejo que estão de alguma forma ligados ao setor de eventos e à atividades que provoquem aglomerações. "Artigos para eventos e festas, papelaria também", detalha ainda Assis Cavalcante.

'Incógnita'

O professor da Faculdade CDL, Christian Aquino Avesque, compartilha expectativas mais moderadas em relação ao desempenho do varejo neste fim de ano. Para ele, a Black Friday, evento que há alguns anos se consolidou no calendário do comércio brasileiro, será um divisor de águas e relevante indicador de como será o período para o varejo.

"Não dá para prever como será o B-R-O-Bró, porque isso depende de três variáveis: apoio do Estado para os 80 milhões de brasileiros na informalidade e que precisam de recursos para pagar as contas, índice de desemprego e a oferta de crédito. Auxílio emergencial mantido, se a gente continuar com uma taxa de desemprego abaixo de 15% - a taxa de desemprego está, atualmente, em 13,3% - e se os bancos continuarem emprestando dinheiro sem muito critério para irrigar o consumo das famílias, a gente tende a alcançar um patamar de vendas semelhante ao de 2019", avalia.

Ele reforça que o fim do ano ainda é, portanto, imprevisível. "É uma incógnita. O consumidor se move por uma palavra chamada confiança. Confiança de receber o salário em dia, confiança de que a empresa não vai quebrar. Nós estamos no pior índice de confiança dos últimos cinco anos". Destaca Avesque.

"Olhando para esses indicadores é possível ver que o consumidor ainda está ressabiado, prudente e seletivo. Não está tomando crédito a médio e longo prazo, porque ele tem medo de não conseguir pagar", pontua o professor.

Diferencial

O varejo cearense possui, entretanto, algumas características que "contribuem para que o setor sobreviva" ao momento difícil provocado pela pandemia do coronavírus, na avaliação do professor.

"Nós temos uma característica interessante que é a criatividade no uso de ferramentas e na logística. Algo que nós temos visto aqui é que os empresários que atuam no mesmo bairro têm passado a atuar como cooperativa de compras para a aquisição de matéria prima e insumos por um valor menor", lembra Avesque.

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