Três a cada cinco cearenses perderam renda com a pandemia, aponta pesquisa

Levantamento do Instituto Opnus mostra que impacto da crise reduziu a renda de quase 60% da população, principalmente das camadas mais vulneráveis, como autônomos e pessoas com renda familiar de até um salário mínimo

Escrito por Cinthia Freitas ,
Legenda: Pesquisa mostra que 34% dos cearenses perderam trabalho ou deixaram de trabalhar por causa da pandemia. A situação atingiu 43% daqueles com renda familiar de até um salário mínimo
Foto: José Leomar

A renda de quase 60% dos cearenses foi deteriorada por conta da pandemia, revela pesquisa realizada pelo Instituto Opnus em parceria com o Sistema Verdes Mares. O impacto foi maior sobretudo a camadas mais vulneráveis da população, reduzindo fontes de renda de 73% de profissionais autônomos e de 70% de pessoas com renda familiar de até um salário mínimo (R$ 1.045).

Entre os segmentos sociais mais afetados com o cenário econômico adverso também estão as pessoas com escolaridade até o ensino médio (64% dos entrevistados nessa faixa relataram perdas econômicas no período) e mulheres (61% ante 57% dos homens).

“É como se fossem vários fatores contribuindo justamente para que a pandemia chegasse com mais força em quem já estava em condições de maior vulnerabilidade. As pessoas de menor renda foram aquelas que mais perderam durante a pandemia. Quem mais perdeu emprego, mais esteve exposto no trabalho, aquela pessoa que fazia um bico de trabalho informal e também as famílias foram os que mais tiveram diminuição da renda, são aquelas que ganham até um salário mínimo. A base da pirâmide econômica”, observa o coordenador da pesquisa e diretor do Instituto Opnus, Pedro Barbosa. 

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Perda de trabalho na crise

Segundo a pesquisa Opnus, 34% dos cearenses relataram terem perdido trabalho ou deixado de trabalhar devido à pandemia. A situação atingiu 43% das pessoas com renda familiar de até um salário mínimo e 51% dos profissionais autônomos. Entre os empregados do mercado formal, 19% perderam o trabalho. 

A existência de um familiar ou de outro morador da residência que tenha deixado de trabalhar em decorrência da crise também foi relatada por 37% dos entrevistados, sendo com maior frequência pelos autônomos (43%) e por pessoas com renda de até um salário mínimo (45%). 

“Fica muito claro aí esse recorte pegando muito fortemente a população de renda mais baixa. São aqueles que mais declararam ter perdido o seu trabalho durante a pandemia. A gente percebe também que são pessoas que agora estão declarando a renda familiar de até um salário mínimo. Pode ser que antes da pandemia tivessem até uma renda familiar um pouco mais alta, porque tinham a possibilidade de trabalho e agora eles diminuíram esse poder aquisitivo”, comenta Barbosa. 

O Instituto entrevistou 1.380 pessoas dentre a população cearense com mais de 18 anos e que possui telefone celular, com a distribuição da amostra seguindo cotas por sexo e idade nas diferentes regiões do Estado. As entrevistas foram realizadas entre os dias 27 e 30 de março de 2021 e trazem opiniões, percepções, hábitos e comportamentos dos cearenses durante a pandemia. 

Medo de perder o emprego

No mercado de trabalho formal, apenas 14% dos entrevistados disseram terem perdido o emprego após o início da pandemia, realidade que ficou equilibrada em Fortaleza (16%) e na Região Metropolitana (16%). As demissões, segundo a pesquisa, foram mais acentuada entre pessoas com ensino médio completo (17%), e entre 35 e 44 anos. 

E o medo de perder o emprego, ficar sem trabalho ou precisar fechar o próprio negócio também ronda os cearenses. Conforme o levantamento, 61% dos entrevistados disseram estar “muito preocupados” com a possibilidade, intensidade que afeta 66% dos profissionais autônomos e 69% de jovens de 16 a 24 anos.

“No caso dos autônomos, não é nem que eles tenham o risco de perder, eles perdem imediatamente (a fonte de renda). Falando do sujeito que muitas vezes trabalha para subsistência, que vende churrasquinho na praça e não está podendo vender agora. Ele não tem uma reserva para passar um mês, dois, três. Ele trabalha naquele dia, normalmente para pagar as contas do outro. É subsistência mesmo. Esses são exatamente os que têm aquela renda menor e estão na situação de vulnerável até de segurança alimentar, porque é a situação mais dramática da população”, salienta o gerente da unidade do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) do Centro de Fortaleza, Jidlafe Rodrigues. 

Exigência do auxílio emergencial

E são justamente essas camadas as que mais precisam do auxílio emergencial, cujo pagamento começa nesta terça-feira (6). De acordo com o levantamento da Opnus, a população cearense é quase unânime (95%) a respeito da necessidade de que o Governo Federal conceda o auxílio em 2021. 

Entre os entrevistados, 71% disseram que eles próprios ou outro morador da casa receberam o benefício no ano passado. Essa proporção cresce a 81% entre aqueles com renda familiar de até um salário mínimo e profissionais autônomos, e a 80% entre pessoas desempregadas.

 

 

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