'Rooftops' miram classe média e valorizam imóveis em até 10% em Fortaleza
A valorização causada pelos novos terraços proporciona uma melhor ocupação das áreas dos condomínios, antes subutilizadas
O telhado de novos empreendimentos residenciais em Fortaleza tem deixado de ser meramente um espaço destinado para serviços de manutenção ou até mesmo sem uso para contemplar paisagismo, celebrações diversas e opção extra para os moradores. Os rooftops (que em tradução literal significa telhado) se tornaram uma tendência que amplia a gama de áreas comuns dos novos imóveis, buscam atrair o público interessado em novas oportunidades de lazer e valorizam o preço do metro quadrado.
Além do lazer proporcionado, esse tipo de equipamento também valoriza o imóvel, como ressalta Sérgio Porto, presidente do Secovi-CE. Segundo ele, a área comum dos empreendimentos corresponde a praticamente metade dos condomínios, e o uso dos rooftops pode elevar o preço dos apartamentos em aproximadamente 10% o metro quadrado.
“O rooftop hoje acontece mais em empreendimentos para pessoas jovens, recém-casadas, solteiras ou divorciadas. Ele proporciona esse encontro. Quando não está reservado para um dos condôminos, está à disposição com espaço gourmet, telão para jogos, sala de cinema ou mesmo uma academia”, esclarece.
TENDÊNCIA
A reunião dos mais jovens nos rooftops em condomínios residenciais acompanha uma tendência de uma série de equipamentos comerciais que usam o telhado para festas, mudando o paradigma com relação a antigos espaços utilizados para esses eventos.
Sérgio Porto destaca que as áreas comuns ainda existentes em apartamentos mais antigos contam com salões de festa e de jogos, piscinas, churrasqueiras e até mesmo academias localizadas no térreo ou logo nos primeiros andares, o que reduz a privacidade dos condôminos, diferentemente das atrações em terraços bem estruturados.
“Houve uma inversão onde ficava o nosso salão de festa, embaixo dos prédios, que caíram em desuso, porque ambiental e arquitetonicamente é uma zona muito devassada. Às vezes, você está em uma festa, a festa é íntima e está passando o pessoal, fica constrangedor. O rooftop, ficando lá em cima, primeiro ele é mais exclusivo e, segundo, nos prédios em que ele é possível, tem uma vista deslumbrante. Você tem uma vista desde um batizado ao nascer do Sol, se você fizer relativamente cedo, como você tem o pôr-do-Sol. É o grande atrativo hoje para o dia, à noite, e não preciso nem dizer como fica um rooftop decorado, ambientado”, analisa.
OLHAR PARA CIMA
Há projetos, no entanto, que vão além do tradicional. O rooftop, originalmente apenas na parte superior, agora está também em espaços intermediárias de novos condomínios residenciais, funcionando como uma espécie de "zona de transição" entre apartamentos de diferentes tamanhos. É o que explica Patrolino Dias, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE).
“Não necessariamente fica no último andar. Tem prédios que estão sendo construídos em que o rooftop fica nos três quartos do prédio. Quem vai dizer se vai ser no último andar ou no intermediário é a sensibilidade do arquiteto no projeto, porque às vezes você pode fazer uma zona de transição, no meio ou a três quartos do prédio, que pode até mudar a tipologia. Se tem um empreendimento com dois apartamentos por andar de 180m², por exemplo, você tem uma zona de transição e a partir dali apartamentos de 200, 250 m², a arquitetura fica mais dinâmica”, expõe.
Patriolino acrescenta que quem busca um apartamento com rooftops, independente se está diretamente no telhado ou em andares mais próximos ao topo, está em busca de vista contemplativa e em voga com o momento atual de lazer ao ar livre.
Embora a tendência aponte para que esse tipo de construção aconteça principalmente em condomínios de alto padrão, o presidente da Sinduscon-CE traz o contraponto dos chamados empreendimentos econômicos, caracterizados pelos valores mais acessíveis e que podem ser financiados inclusive por programas do Governo Federal, como o Minha Casa, Minha Vida e por não estarem necessariamente em áreas nobres da cidade.
“Tem uma construtora que vai para o terceiro empreendimento na Cidade dos Funcionários, são apartamentos que não são grandes e têm rooftop. Tem outro empreendimento que é econômico, próximo ao Castelão e tem rooftop também. Não necessariamente precisa ser em uma zona verticalizada demais, empreendimento de altíssimo padrão, pode ser econômico também, não é algo só de alto padrão nem só de arranha-céus, tem em prédios de médio porte”, destaca.
Eu diria que é uma tendência, a gente tem que ver a viabilidade disso na quantidade de unidades nos empreendimentos. É ótimo, porque isso não é só no Ceará, mas em qualquer lugar do mundo, as pessoas buscam a vista, a contemplação, então a vista, sendo democratizada, gera essa valorização do empreendimento.
NOVOS MERCADOS
O uso de rooftops nos chamados prédios econômicos pode ainda gerar a conversão da antiga área ociosa de apartamentos antigos para o aproveitamento da área comum. Para Sérgio Porto, porém, a infraestrutura pouco preparada dificulta a mudança.
“No rooftop novo, o elevador chega lá. No antigo, chega no último andar e você tem que subir dois vãos de escada, que tem que ser protegida pelo Corpo de Bombeiros, também dá acesso à caixa de máquina do edifício, a caixa d'água e também ao para-raio. Quer dizer, são situações de funcionalidade do condomínio. Então, você vai ter que isolar tudo isso para ficar com uma parte desse terraço em condições de uso. Não é fácil, não é impossível, mas é mais fácil você fazer em novos”, analisa.
A valorização causada pelos novos terraços no preço do metro quadrado personaliza a escolha do cliente na hora de comprar o imóvel e proporciona uma melhor ocupação das áreas dos condomínios, antes subutilizadas.
“Valoriza porque consegue a máxima utilização. Tem que lembrar também que hoje temos o advento da outorga onerosa que possibilitou os nossos prédios a chegar a 50 andares. Então, tem um efeito extraordinário quando tem um rooftop em 50 andares enquanto a maioria dos prédios tem 22, está acima de todos eles. Já para os antigos, têm que ter uma adaptação, inclusive com aprovação do Corpo de Bombeiros”, salienta o presidente do Secovi-CE.
Um dos primeiros empreendimentos a adotar o novo conceito de telhado em Fortaleza foi o Rooftop Canuto 1000, no Meireles, da construtora Mota Machado. Entregue em 2022, o condomínio de alto padrão conta com um rooftop que inclui diversas funcionalidades de lazer, como salão de jogos, churrasqueira e adega.
“O bem-estar é uma exigência cada vez mais presente em todos os compradores de imóveis. Acreditamos que todos os clientes possuem esse desejo, no entanto, ter essas áreas pode alterar o custo da construção do empreendimento, o que acaba variando ou determinando a escolha do comprador. Acreditamos que esse investimento é uma forma de entregar uma melhor qualidade em moradia para os nossos clientes. A contemplação de uma vista, seja para a cidade ou para o mar, em uma área projetada para estar em família e amigos, proporcionam esse importante bem-estar para os moradores”.
A fala é de Wallace Soares, diretor comercial e de incorporação da construtora. Outros dois empreendimentos residenciais da construtora em Fortaleza contam com rooftops, e a tendência é continuar investindo nesse mercado.
“Temos o desejo de continuar investindo não só nessa atualização, mas em todas as outras que hoje dentro do mercado imobiliário proporcionam mais conforto e qualidade de vida. Essa decisão sempre passará por estudos prévios do segmento, para entendermos em que momento investiremos nessas áreas”, finaliza.