Mais baratas, viagens de ônibus podem impulsionar turismo doméstico

Diferença de preços das passagens rodoviárias e aéreas chega a 226%. Com a oferta de voos reduzida, modal pode preencher lacuna e ganhar força na retomada do turismo após a retomada das atividades, mas ainda esbarra em gargalos

Escrito por Redação ,
Legenda: Passagens de ônibus têm preços mais competitivos para destinos de média distância
Foto: Fabiane de Paula

Escolher o ônibus na hora de viajar pode proporcionar uma economia de até 225,8%, se comparados aos preços das passagens de avião. Historicamente mais barato, viajar de ônibus passa a ganhar outros atributos diante do novo contexto do turismo após a pandemia do coronavírus, mas esbarra em uma série de gargalos, sobretudo considerando a região Nordeste.

A comparação foi constatada em pesquisa direta realizada pela reportagem na última quarta-feira (2) em sites de busca de bilhetes aéreos e rodoviários ClickBus e Kaiak, além dos sites das empresas de ônibus e das próprias companhias aéreas.

Para o levantamento, Fortaleza foi considerada como ponto de partida, no dia 25 deste mês, com retorno no dia 2 de outubro. A variação de 225,8% foi observada no trecho Fortaleza-Natal, ida e volta, cujo bilhete aéreo mais barato encontrado (com taxas) era R$ 538,31, enquanto a passagem de ônibus, também ida e volta com taxas, custava R$ 165,20 para as mesmas datas.

A mesma comparação foi feita para outros cinco destinos. Também foi possível observar diferença expressiva no trecho Fortaleza-Juazeiro, cuja passagem de ônibus custava R$ 158,95 e o bilhete aéreo, R$ 454,07. Ir de Fortaleza para Belém de ônibus na data também é 52,6% mais barato que pegar um voo até a capital paraense.

No trecho Fortaleza-Recife, quase não há diferença e preços: viajar de ônibus para a capital pernambucana é apenas 2,3% mais barato em relação ao preço que consumidor pagaria por um bilhete aéreo.

O professor doutor do departamento de Turismo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Marcius Tulius Soares Falcão, corrobora que o turismo doméstico se destaca em um cenário no qual os indicadores começam a melhorar, mas ainda não há uma vacina que ofereça segurança suficiente para que o ritmo seja plenamente retomado.

Considerando esse contexto, há espaço para o fortalecimento do transporte rodoviário, já que a oferta de voos ainda não foi completamente retomada. “Não é um novo normal do turismo, porque não será uma normalidade, mas o setor terá que se adaptar a isso”, afirma.

“A nossa saída vai ser o turismo doméstico e isso já devia ser uma construção de mais</CW> tempo. O brasileiro não é ainda turista do seu próprio país como deveria ser. Nesse momento o turismo vai precisar de uma grande readaptação”, pontua Falcão.

Infraestrutura

Para ele, porém, o potencial do transporte rodoviário dentro da nova configuração do turismo esbarra em gargalos antigos, a exemplo da infraestrutura das vias, principalmente no Nordeste. “Rodovias cheias de buracos, trechos pelos quais não é possível passar. Eu já tive que voltar com um ônibus de turismo porque não tinha como passar. Além disso, as obras de restauro e duplicação se arrastam”, lamenta Falcão, destacando que o fortalecimento do transporte rodoviário poderia favorecer, no Ceará, por exemplo, o turismo religioso e o turismo rural. “Que é uma aposta, é”, enfatiza o professor.

Pontos de apoio

Além da infraestrutura das vias, ele reforça que outro obstáculo no qual o desenvolvimento do turismo rodoviário esbarra está relacionado às próprias empresas.

“Serviço de bordo é um gargalo. As empresas da região Nordeste não são muito chegadas nesse serviço. Basta fazer uma experiência viajando e passando pelos pontos de apoio ao longo do percurso, que muitas vezes não possuem banheiros com condições adequadas para receber o turista, espaços precários e um serviço de alimentação que não é confiável. Com estradas boas e pontos de apoio de qualidade, consistentes, aí teríamos condições”, diz. A insegurança nesses percursos é outra questão delicada destacada pelo professor.

Aposta

Para o grupo Guanabara, o transporte rodoviário já é um impulsionador do turismo doméstico nesse novo contexto e reconhece que o modal realmente esbarra na infraestrutura, mas que a questão dos pontos de apoio não é um problema para a empresa. “Já está impulsionando, porque o transporte rodoviário tem uma capilaridade muito maior. O transporte aéreo sofreu uma redução de malha”.

“A Guanabara desenvolveu há 15 anos um programa com o Sebrae-CE para criar um selo de qualidade para os restaurantes nos quais a Guanabara faz suas paradas. Com esse selo, os estabelecimentos precisam estar adequados em termos de segurança alimentar, espaço e passam por consultoria”, reforça Rodrigo Mont’Alverne, gerente de Marketing do grupo.

Mont’Alverne também reforça que os ônibus do grupo estão passando por higieni-zação mais rígida, com sanitização a bordo e limpeza dos filtros de ar internos a cada viagem.

Mais distantes

Conforme o levantamento realizado pela abordagem, para apenas dois destinos, viajar de avião é financeiramente mais vantajoso: Brasília e São Paulo. O bilhete aéreo saindo de Fortaleza para a capital federal estava custando, na data do levantamento, R$ 720,69. Já a passagem do transporte rodoviário mais barata encontrada custava R$ 848,66, variação, portanto, de 17,7%. 

Já para São Paulo, o menor valor do bilhete de avião encontrado era R$ 641,74, enquanto o preço da viagem de ônibus era R$ 1.156,38, diferença de 80,1%.

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