Logística de produção e distribuição agropecuária ainda é desafio para crescimento do setor
Assunto foi tema de painel na Expolog, maior feira de logística do Norte e Nordeste
Apesar do que se acredita no senso comum, em média, 50% da produção agropecuária do Brasil é originária do cooperativismo, que tem 71,2% dos estabelecimentos no perfil da agricultura familiar, conforme levantamento da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
Tendo em vista a importância dos pequenos produtores, a Expolog, maior feira de logística do Norte e Nordeste, escolheu a logística na produção e distribuição de produtos do agro como um dos focos de discussão nesta quinta-feira (24).
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Antônio Rodrigues de Amorim, presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), lembrou que os primeiros meios de transporte dos pequenos produtores costumavam ser os animais, prática que resiste até hoje em algumas localidades, apesar de ter sido modernizada e substituída em sua maioria pelos veículos, especialmente motos.
Segundo ele, a falta de recursos financeiros para investimentos incitou a criatividade dos agricultores e pecuaristas, que fizeram diversas adaptações e inovações para otimizar a produção, como o transporte de carga em motos, carrocerias e até máquinas agrícolas feitas a partir de moto de motos.
"Essas pequenas máquinas agrícolas dão acessibilidade para os pequenos produtores e podem fazer diferença entre grandes e pequenos", afirmou.
Desafios para as cooperativas
O analista de mercado e diretor de Economia e Estatística na Ceasa/CE, Odálio Girão, ressaltou o papel que o mercado tem para o escoamento da produção agrícola e o abastecimento do mercado varejista local. Uma das principais características que equipamentos como as ceasas precisam é a visão de futuro.
Girão lembra que no início da operação da Ceasa/CE, há 50 anos, o volume de produção movimentado era de 65 mil toneladas por ano, valor que hoje chega a 570 mil toneladas. O crescimento do mercado e da própria infraestrutura exigiu adaptações e expansões ao longo desse período para continuar atendendo a demanda.
Por estarem em constante evolução e dinâmicos, os mercados atacadistas do Brasil devem ser estruturados de forma a garantir agilidade em suas operações, sempre se adaptando às mudanças nos hábitos de consumo"
Girão elencou alguns desafios que o segmento tem enfrentado recentemente:
- Vendas por meios virtuais devem ter ainda mais qualidade, para fidelizar clientes
- Oferecer qualidade sem elevar significativamente os custos
- Bolso do consumidor ainda tem sido afetado
- Consumidor cada vez mais exigente quanto à procedência dos alimentos
- Sustentabilidade ganha peso nas escolhas dos consumidores
Uma das principais tendências que devem se fortalecer é a regionalização da distribuição da produção, inclusive com ceasas mais próximas ao produtor no Interior, chamadas de Mini Ceasas. Essa estratégia diminuiria o tempo de deslocamento entre o produtor e o consumidor final, reduzindo custos.
Organização e profissionalização
O presidente da Confederação Nacional do Transporte Cooperativo e representante nacional do ramo transporte na OCB, Evaldo Matos, destacou a participação das cooperativas na produção agropecuária brasileira, que chega a cerca de 50%. A participação pode atingir 75% em alguns casos, como o trigo.
Segundo Matos, o País ainda tem uma a cada três pessoas ligadas ao cooperativismo, que proporciona uma organização e profissionalização que não seria possível para os pequenos produtores de forma individual. Uma das principais vantagens desse tipo de arranjo é a redução dos custos.
"A tecnologia no âmbito dos transportes contribuiu para o crescimento do agro no Brasil, mas o sucateamento da frota, além das condições ruins das estradas, prejudica o avanço do setor e precisa de atenção", ressaltou.