Fortaleza recupera apenas 25% dos voos internacionais; saiba quais destinos retomaram
Até o momento, apenas 10 das 40 frequências semanais registradas antes da pandemia voltaram a operar
O Ceará confirmou o registro dos três primeiros casos de Covid-19 no dia 15 de março de 2020. Três dias depois, as companhias aéreas anunciaram a suspensão de voos que ligavam a Capital a destinos como Orlando, Lisboa, Madri e Ilha do Sal.
Mais de dois anos depois da chegada da pandemia ao Estado, o Aeroporto de Fortaleza ainda não está nem perto de recuperar as cerca de 40 frequências internacionais por semana que tinha antes da crise sanitária.
Atualmente, apenas a TAP e a Air France/KLM retomaram as operações parcialmente para Lisboa e Paris, respectivamente. Ao todo, as duas empresas somam 10 frequências semanais.
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Planos de retomada
Parte do hub aéreo que se instalou no terminal cearense em 2018, a Gol planeja retomar os voos para Miami no dia 31 de outubro e para Buenos Aires em 3 de dezembro deste ano. Já o retorno da ligação entre Fortaleza e Orlando segue sem data para acontecer.
"A retomada da operação em Miami em detrimento à Orlando se dá pelo fato de que em Miami o Cliente cearense contará com o Hub Global da nossa parceira American Airlines, que oferecerá conexões não só para todos os Estados Unidos, como também para outros países do mundo", informou a companhia por meio de nota.
A Air Europa, que havia iniciado a operação para Madrid em dezembro de 2019, quer retomar os voos até o fim do ano, mas ainda não tem data prevista. A companhia reforça em nota que Fortaleza continua nos planos da empresa.
"Fortaleza continua nos planos para a Air Europa. A companhia trabalha com a expectativa de que os voos para a capital cearense possam ser retomados ainda neste ano. Neste momento, a Air Europa opera em regime de parceria com companhias aéreas nacionais para atender os passageiros de Fortaleza saindo desde São Paulo", informa.
Rotas sem previsão
Apesar de ter escolhido Fortaleza como cidade-foco de investimentos no País e estar incrementando fortemente a malha doméstica, a Latam Brasil não possui previsão de retomar os voos internacionais.
"A companhia reforça, no entanto, que possui voos a partir de Fortaleza para os seus hubs São Paulo/Guarulhos e Rio de Janeiro/Galeão que permitem conexão do Ceará com 19 destinos no exterior", ressalta a empresa em nota.
Neste mês de abril, a companhia deve conectar Fortaleza a 11 destinos domésticos. "O Ceará é muito importante para a retomada da Latam e qualquer nova rota será comunicada oportunamente", acrescenta o texto.
A Air France-KLM retomou os voos para Paris em outubro do ano passado, alcançando ocupação em torno de 80% a 85%, patamar acima do esperado pela companhia.
Mesmo com o resultado satisfatório, a empresa ainda não definiu qual deve ser o futuro da rota Fortaleza-Amsterdã, operada pela KLM.
Questionada se os investimentos devem ser voltados para o incremento de frequências para Paris, a companhia informou que "nossa prioridade é o investimento e a solidez das três frequências semanais já disponíveis em Fortaleza".
Negociações
O secretário do Turismo do Ceará, Arialdo Pinho, pontua que o segmento internacional da aviação mundial só recuperou cerca de 45% do que era antes da pandemia até o momento, ditando o ritmo de retomada também em Fortaleza.
Ele revela, no entanto, que as negociações continuam e que a volta de fato deve depender do mercado como um todo.
Contrariando o posicionamento oficial da companhia, o titular da Setur revelou que a Air France deve acrescentar mais duas frequências semanais para Paris até o fim do ano.
Pinho também pontuou que a Latam deve retomar os voos para Miami apenas no início de 2023. Embora o prazo seja mais longo, ele garante que Fortaleza deve ser a cidade priorizada pela companhia quando a volta da operação internacional no Nordeste acontecer.
"(A Latam) é a maior companhia hoje (em número de voos em Fortaleza). Isso abre margem para consolidar cada vez mais e quando eles recomeçarem a parte internacional no Nordeste, vão começar por Fortaleza", afirma.
Sobre a imprevisibilidade a respeito da rota Fortaleza-Amsterdã, o secretário indica que deve se reunir com a Air France-KLM até maio para definir o destino da operação.
"A Holanda teve muito problema com Covid, (a pandemia) foi muito forte lá. Talvez seja o destino que está mais lento nessa retomada", explica.
Destinos cancelados
Pelo menos duas rotas não devem retornar definitivamente, conforme Pinho: Fortaleza-Ilha do Sal, operado pela Cabo Verde Airlines, e Fortaleza-Caiena (Guiana Francesa), da Azul.
O secretário detalha que a Cabo Verde Airlines não resistiu às dificuldades da pandemia e encerrou as atividades.
Já sobre a perca da ligação com a capital da Guiana Francesa, ele não indicou um motivo, mas lembra que a Azul deve incrementar os voos regionais no Ceará e passar a operar em oito aeroportos do Interior, incluindo o de Sobral, inaugurado no início deste mês.
Procurada, a Cabo Verde Airlines não respondeu os contatos até esta publicação. A Azul informou que "não temos previsão de retorno das operações em Caiena".
Recuperação lenta
O ritmo lento de retomada dos voos internacionais e a dificuldade para deslanchar o processo não é exclusividade de Fortaleza.
O professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Cláudio Jorge, lembra que nem mesmo Guarulhos já recuperou todos os voos anteriores à pandemia.
Ele acrescenta que outros importantes terminais do Brasil, como Galeão (RJ), Confins (BH), Campinas (SP) e Juscelino Kubitschek (DF) também estão sofrendo na retomada do segmento internacional.
"A recuperação do segmento nacional foi muito boa. A Latam, por exemplo, está com mais destinos domésticos do que tinha antes. Já no internacional, ainda temos países com restrições sanitárias, a própria guerra na Ucrânia desencadeou uma situação no entorno que não favorece o fluxo de pessoas", esclarece.
As recentes altas no valor do petróleo também têm impactado no custo com o combustível dos aviões, especialmente nas rotas mais longas, e provocado aumentos nos preços das passagens, fator que prejudica a demanda.
Ainda assim, o avanço da vacinação e a queda das regras sanitárias mais rígidas entre os países, somado à esperança do fim do conflito entre Rússia e Ucrânia, fomentam a esperança do especialista em uma recuperação mais consistente passados os próximos seis meses.
A avaliação se estende à Fortaleza que, conforme Jorge, segue na disputa do protagonismo na Região.
"Fortaleza se tornou o hub do Nordeste, dividindo espaço com Salvador e Recife. Essa briga só não está mais acirrada porque as companhias não estão oferecendo voos. Mas Fortaleza é um ponto interessante de convergência e acredito em uma volta iminente, embora não seja agora ainda porque o cenário não é tão favorável", arremata.