'Aviação e turismo têm perspectivas boas no Ceará após pandemia'

Estado ganha destaque porque câmbio elevado e o medo das pessoas em fazerem viagens internacionais pode contribuir para viagens nacionais

Escrito por Redação ,
Legenda: Para o presidente da Abear, ainda é difícil estimar um retorno dos voos em Fortaleza como antes da pandemia devido aos diversos fatores que influenciam a aviação
Foto: FOTO: REINALDO JORGE

As perspectivas para a aviação e para o turismo no período pós-pandemia no Ceará são positivas. É o que afirma nesta entrevista o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz. A Abear congrega atualmente duas das maiores companhias do País - Gol e Latam -, além da Voepass.

"Primeiro, o Ceará é um dos destinos mais interessantes do País do ponto de vista turístico. Segundo, as atividades econômicas do Ceará, que hoje são plurais e são muitas, vêm garantindo ao longo dos últimos anos um movimento crescente da malha aérea, inclusive uma internacionalização importante do aeroporto. Eu entendo que você tem um dos destinos mais interessantes do País, Portanto, as perspectivas, levando em conta a história, são muito positivas para o Estado", diz Sanovicz.

No entanto, ele não conseguiu especificar quando exatamente se dará a retomada do setor, diante da crise provocada pela pandemia.

"Agora ainda é um pouco cedo para definir em quanto tempo se dará a recuperação e em que volume, porque as condicionantes ainda estão indefinidas, como câmbio, querosene, demanda corporativa, demanda de lazer. A gente vai, ainda, esperar um pouco para poder começar a fazer os cálculos", acrescenta.

Além disso, Sanovicz afirma que os voos regionais no Ceará devem voltar à medida que a demanda cresça. Segundo ele, a aquisição da TwoFlex - empresa que faz os voos regionais para cidades do interior em parceria com a Gol - pela Azul vai alterar a estrutura da malha aérea.

"Haverá alguma mudança, sim, porque é uma outra empresa, mas eu acredito que em havendo demanda esse programa (dos voos regionais) será retomado".

As companhias aéreas tinham alguma chance de se preparar para um momento como o que vivemos? De que forma?

O primeiro sinal que nós tivemos que a crise estava chegando foi quando, algumas semanas antes, um voo que ia para Itália, para Milão, saindo do Brasil, estava com mais ou menos 90% de ocupação, e diversos passageiros simplesmente não apareceram, sem nenhum tipo de aviso prévio. Isso acendeu todos os alarmes e nós começamos a nos preparar. Isso foi duas semanas antes da crise de fato se instalar.

Nós fizemos um painel de medidas. O primeiro bloco de medidas internas, de revisão de custos, relação de trabalho, chamamos os sindicatos e negociamos uma série de licenças, revisão de jornada e salário e não demitimos ninguém. Fizemos uma revisão, por exemplo, dos contratos de leasing (termo inglês para aluguel de aeronaves).

Houve um segundo bloco de medidas que foram medidas de infraestrutura e regulação. Essas medidas já começaram a ser visíveis para o público, estacionamos vários aviões nos pátios da Força Aérea e construímos a malha mínima que está operando hoje. São 180 voos por dia contra 2.700 voos por dia numa demanda normal. Nós temos que manter o País todo conectado principalmente por conta da carga, na parte de baixo do avião, transportando material, remédio, respirador. É importante que a aviação continue voando ainda com prejuízo, porque praticamente não tem passageiro.

Outra medida importante foi construir um acordo com o Ministério Público Federal no sentido de permitir a todo mundo remarcar o bilhete sem custo e sem multa para até um ano, e mais ou menos 87% dos passageiros estão remarcando o bilhete, 13% estão pedindo o dinheiro de volta. Um terceiro bloco foram medidas econômicas com pedidos ao Ministério da Economia.

Como está agora a situação financeira das companhias associadas à Abear?

As companhias sofreram muito, porque houve uma redução brutal de receita, mas os anúncios são públicos, e as empresas têm caixa para enfrentar. O momento é muito grave, mas as empresas conseguem enfrentar a crise.

O tamanho que elas vão sair do outro lado depende de a gente conseguir uma linha de crédito para capital de giro, que é a demanda que fizemos ao Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A situação de caixa é dura, não é uma situação confortável, mas a gente atravessa. O problema é de que tamanho a gente chega do outro lado.

As companhias aéreas suportam quanto tempo nessa situação?

O tempo de cada uma é diferente, mas a gente atravessa a crise (do novo coronavírus).

Como está essa linha de crédito com o BNDES?

As empresas aéreas receberam anteontem (dia 12 de maio) a contraproposta do BNDES, e estão avaliando. Essa discussão ainda vai demorar de uma a duas semanas. (Na noite da sexta-feira, 15, após esta entrevista, o BNDES anunciou a adesão de Gol, Latam e Azul ao pacote).

Antes da pandemia, Fortaleza registrava números crescentes de movimentação e novos voos. Como avalia o ritmo de recuperação do setor aqui no Estado?

O ritmo de cada destino será diferente e vai ser ditado pelo ritmo de recuperação da atividade econômica em cada destino. Isso é absolutamente singular em cada destino. A aviação não cria demanda, a aviação responde à demanda. Na medida que a gente começa a sentir que há necessidade e demanda, a aviação retorna.

Então, a velocidade em cada destino depende muito mais de como cada destino vai se comportar em torno da economia do que da nossa vontade. Estamos com 90% da frota parada. Portanto, para onde vai o avião? Vai para onde aparecer demanda.

Primeiro, o Ceará é um dos destinos mais interessantes do País do ponto de vista turístico. Segundo, as atividades econômicas do Ceará, que hoje são plurais e são muitas, vêm garantindo ao longo dos últimos anos um movimento crescente da malha aérea, inclusive uma internacionalização importante do aeroporto. Eu menciono o Grupo Air France-KLM.

Eu entendo que você tem um dos destinos mais interessantes do País, portanto, as perspectivas, levando em conta a história, são muito positivas para o Estado. Agora, ainda é um pouco cedo para definir em quanto tempo se dará a recuperação e em que volume, porque as condicionantes ainda estão indefinidas, como câmbio, querosene, demanda corporativa, demanda de lazer. A gente vai ainda esperar um pouco para poder começar a fazer os cálculos.

Os voos internacionais também eram bastante promissores em Fortaleza. Qual o tempo de retomada dessas operações?

Sim, eu creio que a retomada doméstica vai ser anterior à internacional. Nós vamos retomar primeiro o doméstico com distâncias menores, depois longas distâncias e depois o internacional, que vai demorar mais. Eu não tenho condições, hoje, de dar os números fechados de quando vamos retomar. Não há capacidade técnica para você fazer previsões de números com tantas variáveis indefinidas.

Os passageiros não vão querer sair viajando para longe de primeira hora porque as pessoas ainda vão estar inseguras. Não somos nós que definimos isso, os passageiros é que vão definir. A pessoa dificilmente vai querer fazer um voo intercontinental com restrições nos outros países. Não é a aviação que define isso. São as pessoas.

O Ceará, antes desta crise, estava estreando diversos voos regionais. Qual a sua expectativa para o retorno dos voos regionais no Estado? Seguirá uma evolução do que pode ocorrer no restante do País? A Gol tinha uma parceria com a TwoFlex, que foi adquirida pela Azul. O plano da Gol acaba depois disso?

Os voos regionais vão ser retornados da mesma forma que os domésticos. Haverá alguma mudança, sim, pois é uma outra empresa (assumindo a parceria), mas eu acredito que em havendo demanda esse programa (dos voos regionais) será retomado.

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