Arco Metropolitano: nova rota para escoar produção está parada e pedágios podem não virar realidade
A previsão era de ser inaugurado em 2026, com 3 pedágios e 40 mil veículos por dia
“O projeto do Arco Metropolitano está parado”. A afirmação é do coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Heitor Studart. A rodovia tem o objetivo de ser uma nova rota de escoamento de produção para o Porto do Pecém, retirando o tráfego de cargas pesadas da região Metropolitana de Fortaleza. A previsão era de ser inaugurado em 2026, com 3 pedágios, 40 mil veículos por dia e investimento de R$ 1,26 bilhão.
Sob a responsabilidade da Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra), o projeto foi apresentado para diversos representantes do setor produtivo, em novembro do ano passado, que aguardam os próximos passos. Procurada pela reportagem, a Seinfra informa que o projeto do Arco Metropolitano de Fortaleza segue em fase de atualização de estudos.
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“Atualmente os estudos de análise macroeconômica estão em fase de conclusão, levando em consideração o panorama pós-pandemia, a evolução de indicadores econômicos associados à produção e ao desenvolvimento do Estado (PIB). A Seinfra realiza ainda análise de modelagens operacionais e financeiras para avaliação e viabilidade do projeto”.
Em nota, a pasta informa já ter realizado pesquisas de dados primários, de consulta de usuários (condutores), atualização da matriz origem e análise dos deslocamentos. Uma das principais características do Arco Metropolitano é ter uma concessionária para operação privada da nova rodovia.
Discordâncias sobre a estrutura
Ainda segundo a Seinfra o projeto conta com estrutura apta a receber o transporte de cargas do Complexo do Pecém, proporcionando economia de tempo, redução de custos operacionais, de acidentes e do tráfego de caminhões pesados na zona urbana de Fortaleza. “Além de ser também um grande indutor para novos polos industriais e centros de distribuição, ao longo do trecho”.
Porém, não é exatamente essa a opinião dos especialistas e representantes do setor consultados pela própria pasta, no final do ano passado. Segundo Studart, que estava presente e coordenou o encontro na Fiec. “Alguns pontos foram elogiados, outros criticados.” Para este último grupo os técnicos teriam pedido alterações e, inclusive, sugerido soluções.
Entre os pedidos estão a construção já com pista dupla em toda a extensão (atualmente o projeto prevê apenas um pequeno trecho próximo ao Porto do Pecém com quatro faixas de rolagem), ao invés de asfalto, pavimento de concreto, mais indicado para aguentar grandes pesos e com menor manutenção.
O modelo de cobrança também foi considerado ultrapassado. A sugestão assim é que ao invés da construção de praças de pedágio, seria mais moderno apenas instalação de fotosensores, chamado de pedágio flutuante (modelo já utilizado por todas as grandes concessões de estradas brasileiras, como exemplo, as do estado de São Paulo).
“Ou seja, pontuamos uma série de melhorias para o aperfeiçoamento do projeto. Desde então, eles (representantes do Estado) se recolheram, ficaram de nos chamar e até hoje não foi dado mais nenhum passo a frente”, destaca o coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Fiec.
Novo projeto é defendido por setores industriais
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Em 2009, ou seja, há 15 anos, já se falava na construção de uma alternativa para o tráfego e escoamento de produção. O projeto recebia, então, o nome de Arco Metropolitano. Durante todo esse período a obra nunca saiu da fase de estudo e projeto.
O especialista Heitor Studart reforça que o ideal seria fazer um novo projeto do Arco Metropolitano, já que o que está recebendo adequação já não atenderia mais às necessidades atuais.
Esse projeto tem que ser posto na mesa, para discussão. O nosso parecer, do setor produtivo, é que deveria ser um novo projeto, uma nova consultoria. Este, que tentam adequar, é antiquado, não atende nem a demanda de hoje, que dirá de futuro, quando vamos ter a produção de hidrogênio verde, por exemplo. Então, na verdade, nós estamos querendo um novo desenho para o Arco Metropolitano"
Ele ainda afirma que foram “aproveitamentos de projetos” que trouxeram problemas em obras como a do Anel Viário, ou da ligação do Porto Pecém na CE-155.
Modelo pode não ser vantajoso para pedagiar
O vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado do Ceará (Sinconpe/CE), Eduardo Benevides, comenta que o projeto do Arco Metropolitano está sendo maturado e que um dos pontos que precisa de atenção é a forma de concessão que a rodovia poderá ter.
Ele explica que uma contagem de tráfego foi feita para avaliar se a demanda da via é suficiente para valer a pena ter um pedágio. O resultado teria revelado, conforme Benevides, que não há veículos suficientes trafegando em outras rotas que são potenciais usuários do Arco e que justificasse um pedágio e tornassem o trecho atraente para uma concessionária arcar com a construção da rodovia.
Assim, outros modelos estariam sendo considerados, como a migração para uma Parceria Público Privada (PPP), ou outro modelo misto de administração e investimento.
“Para viabilizar a construção o Estado ia ter que, de alguma forma, ajudar na construção, seja construindo uma parte da obra, ou financiando de alguma forma a concessionária na construção. Caso contrário não há viabilidade econômica”.
Pista simples pode ser bom para o início
Para o professor Mário Azevedo, do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), quando se faz um projeto de nova rota de tráfego de carga é possível se fazer por etapas. Contudo, ele lembra que a área de desapropriação precisa ter a previsão da pista dupla.
“Em princípio, a pista simples deve dar conta do volume de tráfego, não acredito que já no início ela tenha tanta demanda para justificar gastar praticamente o dobro do que está estimado. Então é normal colocar uma estrutura desse porte e depois, conforme aumenta a demanda, vai se construindo mais e assim, utilizando recursos que serão captados mais para frente”, explica Azevedo.
Ele lembra que essa ligação de várias rodovias estaduais e federais tira o tráfego, principalmente o de carga, que não precisa “chegar tão perto de Fortaleza e desvia por fora”. Além disso, o fato de passar pelo anel viário e nas proximidades da Capital, por conta do volume de fluxo grande e possíveis congestionamentos, pode tornar o frete mais caro.
Esse tipo de investimento também atrai outros empreendimentos, empresas de logística, indústrias e até empresas de manutenção de veículos e abastecimento, essenciais para a segurança também de quem trafega. Sempre se tem uma cadeia de negócios ao ter um link de transportes funcionando"
Já sobre ser cobrado pedágio, o professor ressalta que essa é uma forma de se ter operação e manutenção da estrada garantidos e sem onerar o público. “Assim são os usuários que estão pagando, não deixando esse custo para a sociedade em geral. Como vai facilitar mais o transporte comercial e esse não é o único meio de acesso, só é preciso se ter cuidado para que o valor compense que se passe por ali e não nas vias que já existem”.
O que é o Arco Metropolitano
A rodovia Arco Metropolitano de Fortaleza será um novo segmento rodoviário que contará com 108 quilômetros de extensão. O trajeto iniciará na BR-116, entre as cidades de Chorozinho e Pacajus, e fará interligação com a CE-253, CE-060, CE-065, CE-455, BR-020, BR-222, até chegar a CE-155, que dá acesso ao Porto do Pecém.
O trecho a ser implantado será entre a BR-116 e a BR-222 e contará com pista simples. O restante do percurso seguirá pela já existente CE-155, que está em duplicação.