Ana Karina Frota: Hub de Comércio Exterior promoverá "transformação histórica" para o Ceará
A gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiec e presidente da CS de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro da Adece avaliou a atividade no Ceará nos últimos anos e projetou o futuro
Acompanhando o que foi observado no contexto global, o comércio exterior no Ceará obviamente não saiu ileso aos impactos da pandemia do coronavírus. Apesar do momento difícil que ainda é enfrentado pelas empresas para importar e exportar diante do alto custo do frete, falta de contêineres e câmbio em patamar recorde (o que ora beneficia, ora prejudica), o Estado vislumbra um futuro próspero.
Em curto prazo, as exportações cearenses devem ultrapassar US$ 2 bilhões em 2021 - o que faria o Estado praticamente retomar o patamar pré-pandemia, quando foram enviados ao exterior cerca de US$ 2,3 bilhões em mercadorias. Em um longo prazo, com a operação plena dos hubs de comércio exterior e de hidrogênio verde, ambos anunciados recentemente, a economia do Ceará vivenciará "um momento de transformação histórica".
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As projeções foram reveladas em entrevista no Diálogo Econômico desta semana pela gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e presidente da Câmara Setorial de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Ana Karina Frota.
Com a energia de quem acredita no comércio exterior como um forte vetor de desenvolvimento local e global, Ana Karina fala sobre a importância da internacionalização das empresas e a necessidade de discutir a diversificação da pauta exportadora e de parcerias comerciais, bem como o próprio saldo da balança comercial com um olhar amplo.
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Quais as principais mudanças no comércio exterior do Ceará nos últimos anos?
De 1997 a 1999, nós tínhamos como principal produto exportado pelo Estado a castanha de caju, que hoje ainda possui muito protagonismo na nossa pauta, mas há 24 anos estava em primeiro lugar, seguido - com uma diferença expressiva - pelas lagostas. Tínhamos os tecidos de algodão com uma relevância visível na nossa pauta e as ceras e calçados, que permanecem até hoje.
Dentro desse contexto, nós tivemos uma abertura de mercado mundial que impactou positivamente as relações comerciais do mundo. Então no decorrer desses anos, além da lagosta, foi inserido o camarão - que teve um problema que na época estava causando necrose muscular, isso foi um problema - e tivemos a introdução dos melões frescos já chegando por volta de 2008.
Nesse momento, o mundo também passa por uma transformação global. Nós tivemos uma maior introdução dos produtos asiáticos no mercado global e, com essa questão da própria abertura mundial e com a introdução da Ásia, falando fortemente de China, nós tivemos uma concorrência muito acirrada naquele momento. Quando eu falo de 12, 15 anos atrás, os produtos asiáticos ainda eram muito vistos como produtos de qualidade duvidosa, digamos assim. Era como se naquele momento não fosse uma concorrência leal porque os produtos que tinham origem asiática eram produtos considerados de qualidade duvidosa.
Então naquele momento nós passamos por todas essas transformações. Veio muito forte a questão do setor têxtil chinês. O próprio setor de calçados acabou concorrendo também com os produtos asiáticos, veio o problema relacionado ao camarão e a castanha de caju passou a contar com concorrentes fortes como a Índia e o Vietnã. O nosso setor industrial perdeu muita competitividade, quando falo de preço do produto.
O cenário foi de perda de competitividade até que fossem feitos ajustes, acordos comerciais. Nós entramos em um momento de discussão entre nações.
E aí se você perceber, na análise da série histórica, em 2016 nós temos uma mudança muito relevante na pauta com o início das primeiras operações relacionadas às exportações dos produtos siderúrgicos. Nesse momento em que as operações comerciais dos produtos siderúrgicos têm início, com o passar dos meses esse setor é extremamente fortalecido em termos de valor exportado e hoje, como é de conhecimento, os produtos do ferro e aço ocupam o primeiro lugar na nossa pauta, sendo responsáveis por mais de 50% das vendas internacionais do Ceará.
Porém quando eu volto à análise para aquela pauta tradicional as mudanças não são tão impactantes.
Claro, eu tenho a exceção das exportações também das pás eólicas, que hoje possuem um certo protagonismo nesse ranking de produtos exportados, mas na minha análise, hoje, temos o pescado, principalmente o atum, como um produto extremamente expressivo; tenho o retorno das exportações das lagostas, incluindo a exportação do produto, com as inovações logísticas que temos hoje, vivo.
Temos o fortalecimento das ceras vegetais, no caso a cera de carnaúba; as frutas que entraram muito fortemente no mercado internacional e a água de coco, com o Ceará sendo referência nacional.
Então se a gente olhar para a matriz do produto, as diferenças não são tão grandes, porque a gente vê na pauta hoje produtos derivados. Nós não temos mais a força das exportações de tecidos, mas temos as exportações de lingerie, de confecção. Então a novidade está relacionada aos produtos do segmento industrial.
As empresas precisaram se transformar em termos de adaptação de produto e também tiveram que fazer outras adaptações para atender às exigências do mercado internacional, como mudanças de embalagem, rótulos, principalmente as empresas que possuem dentro de suas estratégias a internacionalização. Nós temos empresas da indústria de calçados que possuem filiais em outras partes do mundo para que esse calçado continuasse competitivo, sendo mais interessante fazer essa exportação direta para, no caso, uma filial.
Por que se fala tanto na importância de diversificar a pauta do Estado e por que é necessário diversificar não só em termos de produto, mas também de parceiros comerciais do Ceará? Como o Estado tem trabalhado isso?
Tradicionalmente os Estados Unidos sempre foram o principal parceiro comercial do Ceará. Eles compram produtos siderúrgicos, castanha de caju, calçados, pás eólicas, cera de carnaúba e água de coco. Então se eu pegar todos esses produtos que possuem essa projeção em termos de produtos exportados pelo Estado, os EUA aparecem com um grande fator comercial.
E aí aparece o questionamento: mas é tão importante diversificar a pauta e os parceiros? Importantíssimo! Importante, necessário e fundamental. Mas quando eu falo dos Estados Unidos, eu preciso considerar o tamanho da nação. Os Estados Unidos representam um país que vale por vários outros países, se eu considerar o tamanho dele e o potencial de consumo dele.
Mas é um país que não está isento de uma crise, inclusive nós temos conhecimento de crises que aconteceram em anos anteriores. E, na hora que um parceiro de grande relevância passa por uma crise, eu sofro um impacto muito grande enquanto produtor nacional. Se eu tenho outros nichos de mercado, outros parceiros de outros mercados, eu tenho condições de transferir toda aquela minha produção, que é voltada para o mercado norte-americano, por exemplo, para outros mercados.
Vamos pegar, por exemplo, da questão da Europa. Quando se fala da facilidade logística que o Estado possui para a Europa, eu não posso considerar apenas a região de Portugal, da Espanha, porque aqueles países estão dentro de uma união que é a União Europeia, então eu estou falando de 27 mercados em que nós temos opções de inserir o produto cearense.
Quando eu vou para a África, eu tenho outros nichos e outras oportunidades de mercado, mas é como eu costumo dizer: é importante diversificar? Importantíssimo. Mas eu não posso diversificar mercado sem ter uma cadeia logística que atenda aos meus clientes.
Não adianta a Karina levar, por exemplo, o suco de fruta dela para a maior feira de alimentos do mundo se ela não pode garantir a exportação daquele produto para aquele mercado-alvo. Aqui na Federação (Fiec), por exemplo, nós trabalhamos muito a questão da promoção comercial. Eu não posso fazer essa promoção em um mercado onde eu não terei condições de atender de forma logística com preço competitivo. O comércio exterior é realmente uma cadeia.
De que maneira a Fiec orienta as empresas cearenses para o mercado internacional?
Nós temos essa expertise, mas nós não temos condições de dizer para a empresa só ir para mercado A ou B. Porque nós trabalhamos com muitos segmentos. Eu atendo empresa de calçado, de castanha, de confecção, de biquíni, de alho, e quem conhece o produto é o dono da empresa, é o comercial daquele negócio. Nós costumamos dizer que é uma construção coletiva.
Quando a empresa coloca a internacionalização como estratégia de mercado, ela só tem duas opções: exportar ou desistir. Por que ocasionalmente ela desiste? Porque ela precisa adequar um tamanho, porque ela precisa adequar uma modelagem, porque ela não possui uma máquina para embalagem exigida por um mercado específico, por exemplo. E para entrar no mercado internacional, mesmo que em valores pequenos, normalmente são necessários alguns investimentos. Nem sempre a empresa está disposta a realizar esses investimentos.
Então a Fiec, enquanto Centro Internacional de Negócios, conta com essa consultoria completa, tanto para a empresa que deseja exportar o seu produto, como para aquela que deseja identificar no mercado internacional potenciais fornecedores de matéria-prima com o objetivo de aumentar a sua competitividade, tornando o seu processo produtivo mais barato.
A empresa pode, portanto, importar com preço mais competitivo e se a importação for realizada com objetivo exclusivo de produzir para exportar, aí é que a empresa pode ser beneficiada através de um regime aduaneiro especial chamado drawbeck, que permite a isenção ou suspensão de tributos incidentes na importação.
Como o Ceará está posicionado em relação aos outros estados nordestinos em termos de comércio exterior? E em relação aos outros estados do País? Quais são os nossos principais gargalos e o que nos impede de ter um destaque ainda maior?
O Ceará ainda está, hoje, entre a 14ª e 15ª posição no ranking dos principais estados exportadores do País.
No Estado, a gente tem como principais municípios exportadores: São Gonçalo do Amarante, com uma concentração muito grande obviamente porque é lá que está a única Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em funcionamento no Brasil, e em segundo lugar eu tenho Caucaia, por causa das pás eólicas, e eu tenho em terceiro lugar Fortaleza e posteriormente Sobral, cujo mérito é dos calçados.
Então 70% das exportações do Ceará estão localizadas em quatro municípios. Quando eu vou para os principais países de destino, temos EUA em primeiro lugar. China, que era um parceiro forte nas importações agora aparece com muito destaque nas exportações, ocupando o segundo lugar. Aí depois eu trago Canadá, Turquia e México muito voltados para a relevância que possuem os produtos siderúrgicos.
Mais de 90% das exportações do Estado acontecem via modal marítimo. Nós estávamos em um movimento muito bom e crescente de exportações por via aérea. No entanto, há mais de um ano e oito meses esse movimento teve um retrocesso por ocasião da própria pandemia. Então, hoje, as exportações do Ceará via marítima são mais de 90% e aí a gente fica com menos de 1% no que se refere às exportações aéreas. Não fosse isso, nós estaríamos melhor posicionados.
Então essa questão da intermodalidade é um gargalo?
Hoje nós passamos por uma situação que não é restrita ao Ceará ou ao Brasil. Nós estávamos em um momento de desenvolvimento econômico relevante e infelizmente por ocasião do que aconteceu no mundo nós ficamos nessa situação.
Como a Fiec trabalha com a internacionalização de empresas e qual é a importância desse trabalho para fortalecer a economia cearense?
Nós da Fiec atendemos também médias e grandes empresas, mas nós atendemos essas empresas em produtos e serviços específicos. Por exemplo: a Fiec é a única emissora de certificado de origem no Estado. Empresas que exportam precisam desse documento para terem benefícios no mercado internacional. O importador, quando compra o produto que vem com o certificado de origem, tem alguns benefícios no seu país.
Então essas empresas já são independentes e já possuem seus departamentos de exportação. Quando nós visitamos e fazemos esse estudo considerando o mercado mundial, as pequenas empresas, para algumas economias, são responsáveis por mais de 90% das vendas internacionais de vários países e de vários países considerados pequenos. Essa não é a realidade do Ceará.
As exportações das nossas empresas pequenas ainda são muito tímidas. Essas empresas precisam de programas específicos de apoio para elas. Normalmente para que elas exportem são necessários investimentos que a empresa pequena, isoladamente, não tem condições de fazer.
A gente trabalha com o apoio e o incentivo à internacionalização das micros e pequenas empresas e, dentro desse contexto, a Fiec, além da área internacional, que é o Centro Internacional de Negócios, que possui essa expertise para trabalhar toda a consultoria voltada para a trilha da internacionalização, conta com grandes parceiros e grandes apoiadores, que é o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil).
A Fiec também trabalhou em muitos eventos internacionais, muito fortemente com o Governo do Estado, com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e com outros elos importantes da cadeia, como as próprias instituições financeiras. Nós conseguimos, juntos, realizar eventos visando a promoção comercial de empresas pequenas, com rodadas de negócios e encontros virtuais. Nós temos empresas que formalizaram as suas primeiras exportações e/ou importações durante esse período da pandemia.
Mesmo diante de um cenário econômico totalmente desconhecido, nós tivemos empresas que se transformaram, que apostaram nesse mercado internacional como uma alternativa de recuperação de suas economias. E temos esses casos de sucesso que aconteceram. Isso foi de muito orgulho para nós.
E quais são as lições para o comércio exterior no Ceará e mundial deixadas pela pandemia?
Junto com a pandemia, nós tivemos valores recordes no que se refere ao câmbio. Obviamente o câmbio alto nos traz alguns benefícios, principalmente relacionados às vendas internacionais. E muitos segmentos tinham a oportunidade de exportar em um momento de pandemia, porque alguns mercados demandavam produtos específicos, como os alimentos. Porém a gente não consegue internacionalizar uma empresa em um período de tempo tão curto.
Não tem como uma empresa atuar no mercado doméstico em um dia e no outro dia ela estar no mundial, porque nós temos alguns protocolos e diretrizes importantes para tornar essa exportação viável, então quanto às empresas que nunca tinham imaginado entrar no mercado internacional, nós não tivemos naquele momento como trazer o mercado internacional para elas como uma opção, mesmo com o produto delas sendo demandado por outras nações.
E as empresas que já tinham a exportação dentro da sua rotina estratégica conseguiram, mesmo com a pandemia, realizar as vendas internacionais, considerando um cenário de frete altíssimo e falta de contêineres. Nós tivemos pedidos que foram cancelados, isso é fato, aconteceu no mundo todo, mas alguns pedidos, dependendo do que era o produto, foram honrados mesmo nesse momento de pandemia.
Outro ponto é que as empresas que dependiam de matéria-prima 100% nacional, mesmo quando a produção voltou, não tinham como comprar, porque, quando os decretos autorizaram o funcionamento dos seus parques industriais, a demanda foi muito grande. Então faltou matéria-prima no mercado doméstico. E aí quem conseguiu trazer a matéria-prima do mercado internacional de forma mais rápida? Quem já tinha experiência internacional.
Tivemos alguns segmentos, como o setor de móveis, com uma disparada em vendas internacionais em tempos de pandemia. Móveis de uso doméstico, produtos de cama, mesa e banho, itens voltados para a construção civil voltaram para o fluxo econômico muito rapidamente. Então essas empresas (internacionalizadas) conseguiram um desempenho mais rápido.
As empresas estão fortalecendo a atenção para o Ambiental, Social e Governança (ASG). Como essa questão tem sido vista no cenário internacional e como a condução da política ambiental impacta essas relações?
Eu considero que a Fiec assumiu um grande protagonismo em relação ao tema Ambiental, Social e Governança. Hoje, a Fiec tem uma área voltada exatamente para o que foi o motivo da sua pergunta. É uma tendência e em um curto espaço de tempo será uma exigência.
Há um estudo de uma universidade que diz que empresas e instituições que possuem boas práticas nesses campos apresentam resultados de destaque ao longo do tempo. Acredito que vocês tenham visto um memorando de entendimento entre o Governo do Estado e uma grande empresa do Brasil que trabalha com o comércio exterior.
E essa questão das melhores práticas voltadas para o Ambiente, Social e Governança já é um critério de escolha, ela aparece como um grande diferencial no mercado para os grandes investidores. O Ceará, em termos de indústria, eu tenho conhecimento de que já entrou nessa onda, muito por conta até dessa área que existe dentro da Federação, implantada na nossa gestão atual, pelo presidente Ricardo Cavalcante, e que é uma área de apoio às indústrias cearenses dentro desses três conceitos.
A partir da assinatura do memorando com a Comexport, o Governo anunciou que o Ceará ganhará um Hub de Comércio Exterior. Qual a importância desse hub, principalmente porque essa empresa também deve ter um papel importante no assessoramento para internacionalização?
O Ceará assume hoje uma projeção significativa, tanto na captação como na própria atração de investimentos estrangeiros. Quando esse movimento começou, há mais de 20 anos, ele foi muito tracionado pelos primeiros voos internacionais diretos, quando a TAP começou a operar aqui no Estado com o voo que liga Fortaleza e Lisboa.
E essa projeção significativa acontece porque nós estamos em um momento em que as grandes concessões que foram realizadas resultaram nas nossas conexões aéreas, nas próprias conexões marítimas, tecnológicas. Quando eu vejo o aéreo, o marítimo e o tecnológico na situação hoje do Estado é visível o impacto expressivo que eles causaram e causam para o progresso.
Então o Ceará avança exponencialmente em termos de recuperação e desenvolvimento econômico. Quando a gente fala em desenvolvimento econômico, em crescimento socioeconômico, a gente não pode deixar de falar do comércio exterior. Fica muito claro que é o início de uma importante estratégia para atrair investimento, gerar emprego e internacionalizar de fato a indústria cearense.
Quando eu falo disso, estou falando de exportação, de importação, de investimento estrangeiro, de turismo. É um contexto. E, por mais que a expectativa seja de grande investimento para o Estado, existe a proposta de apoio também àquelas empresas que pretendem exportar ou importar através de uma facilidade financeira.
É por isso que o Hub de Comércio Exterior tem de fato um diferencial, porque, além da operação, a gente vai ter essa questão da facilidade financeira, que é, sim, um gargalo para as pequenas empresas, tanto no que se refere à importação quanto à exportação. Então o memorando vem como uma espécie de transformação para a economia local, através da promoção do Estado e da promoção de oportunidades de negócios consistentes para a nossa própria indústria.
O Ceará está preparado através de uma infraestrutura adequada, temos equipamentos atrativos, temos um ambiente de negócios favorável para o desenvolvimento inclusive de novos negócios. Então eu considero o comércio exterior um mecanismo legítimo para o avanço global e para o desenvolvimento econômico local. Eu acho que nós vamos passar por um momento de transformação histórica para a economia do Estado.
Também foi anunciado recentemente o hub de Hidrogênio Verde. Na sua avaliação, qual deve ser a magnitude da mudança na pauta a partir do funcionamento desse hub? Qual é a magnitude desse empreendimento para as exportações em relação ao início do funcionamento, por exemplo, da CSP?
Além do Estado afirmar as suas vocações e trazer como projeção esse diferencial geográfico, o hub de hidrogênio verde surge para tracionar as potencialidades econômicas do Estado. Com a consolidação do hub de hidrogênio verde e com essa empresa brasileira especializada nas operações comerciais, tanto de importação como exportação, nós vamos conseguir transformar a nossa pauta através de produtos que até então não estão nos resgates das séries históricas do Estado.
Então além da questão do próprio hidrogênio verde, eu trago uma expectativa muito grande de trabalhar com importações automotivas, de montagem de aeronaves executivas, de equipamentos que vão atuar tanto na indústria como no próprio setor de energias renováveis.
Então quando eu pego o contexto de hidrogênio verde, do hub de comércio exterior e da infraestrutura extremamente convidativa do Estado, a gente vê que o Ceará vai impulsionar um crescimento econômico que será destaque no País, tanto através da transformação que vai acontecer em termos de balança comercial, como pela própria situação do hidrogênio verde. O Ceará hoje já está de portas abertas para o mundo.
Como nós estamos em termos de projeções para o fechamento das exportações cearenses em 2021?
No ano passado nós enfrentamos algumas barreiras protecionistas no mundo e aí, como foi previsto, não conseguimos ter a exportação que nós havíamos imaginado para um cenário sem pandemia.
Para 2021, até o momento, o Ceará já exportou mais de US$ 1 bilhão. O segundo semestre sempre registra uma exportação maior que o primeiro, porque nós temos alguns produtos sazonais. Então a expectativa é que a gente este ano ultrapasse os US$ 2 bilhões e chegue muito próximo do resultado do ano de 2019, que foi um ano sem pandemia, quando ultrapassamos US$ 2,3 bilhões.
O Ceará tem uma balança comercial historicamente deficitária. Nós estamos nos aproximando cada vez mais de um equilíbrio? O que o Ceará tem feito para alcançar esse superávit?
Antes da pandemia, nós chegamos a ter uma balança comercial superavitária. Estávamos em um momento de aceleração do crescimento econômico, tínhamos vários voos que transportavam carga e era um momento de frete internacional com preço competitivo.
Não vamos atrelar o crescimento e desenvolvimento econômico a uma balança comercial superavitária, porque hoje, além da importação de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e outros utilizados no enfrentamento à pandemia, tivemos um acréscimo na importação de produtos que simplesmente desapareceram do mercado doméstico e a nossa indústria precisava continuar com o seu processo produtivo.
Hoje eu não posso simplesmente atrelar o desenvolvimento econômico do Estado a uma questão de balança comercial. Eu vou te dar um exemplo: O trigo que é importado serve como matéria-prima para as nossas indústrias e muitas delas também terminam exportando seus produtos.
Temos também um movimento muito grande de importação de máquinas e equipamentos para renovação do parque dessas empresas. Hoje o que nós mais comentamos é sobre inovação, tecnologia, transformação digital. Então as nossas empresas precisam de fato renovar os seus parques industriais e isso acontece através da importação de máquinas e equipamentos.
Eu estou trazendo para você o que causa também um certo desequilíbrio, então é preciso analisar o contexto e o momento como um todo. Hoje eu acredito na tração do desenvolvimento econômico do Estado através da internacionaliazação, tanto de importação para tracionar os processos produtivos industriais do Estado, como também da aquisição de produtos para o aumento da competitividade da indústria doméstica inclusive no mercado internacional.