Conheça o padeiro cearense que lidera equipe brasileira no Mundial de Panetone

Brunno Malheiros venceu o título de "Melhor Panetone do Brasil" duas vezes. Ele descobriu a paixão pela panificação na padaria do avô

Escrito por
Carol Melo e Paulo Roberto Maciel* producaodiario@svm.com.br
Brunno Malheiros sorridente segurando um panetone e, ao lado, ele mesmo brincando com massa de pão esticada, ambos em ambiente de cozinha, ilustrando o processo de fazer pão caseiro, símbolo de paixão por panificação artesanal.
Legenda: Descrito por si próprio como um "eterno curioso", o padeiro e empresário vai representar o Brasil em uma das maiores competições de panetone do mundo, em outubro
Foto: Arquivo Pessoal

O padeiro cearense Brunno Malheiros, de 32 anos, descreve-se, antes de tudo, como um "eterno insatisfeito". Engana-se, porém, quem considera essa fala uma crítica ao próprio trabalho ou às próprias ambições. A característica, na verdade, é vista por ele como estímulo para enfrentar novos desafios.

Além de amante da panificação, Brunno é empresário e líder. Há cinco anos comanda a padaria Cheiro do Pão, no bairro Papicu, em Fortaleza, que, dentre outras guloseimas, oferece à clientela o "Melhor Panetone do Brasil", título ganho em 2022 e 2023.

Para ele, esse clássico da culinária natalina é visto como um "pesadelo" para os padeiros. Porém, foi o que rendeu a ele a oportunidade de liderar o primeiro time do Brasil a competir na Panettone World Championship, um dos maiores campeonatos de panetone do mundo.

Panetone da Cheiro do Pão recheado com frutas cristalizadas e gotas de chocolate, decorado com enfeites natalinos e uma decoração festiva ao redor.
Legenda: Apesar de ser um doce típico do Natal, o panetone é vendido durante o ano inteiro na padaria de Brunno, seja inteiro ou na opção de fatia
Foto: Divulgação

O evento acontecerá neste ano, em outubro, na Itália, e contará com a presença de Brunno e outros três brasileiros, Joze Nilson Diniz e Déborah Zanzini, de São Paulo, e Matheus Andrade, do Rio de Janeiro, contra 12 equipes de países diferentes. Quem vencer poderá ingressar no "Hall da Fama" dos profissionais da confeitaria mundial.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o padeiro e empresário deu detalhes sobre a competição, a preparação para este grande evento e como um cearense pode conquistar o mundo através do trigo, da farinha, da massa, do chocolate e das frutas cristalizadas.

'Para andar no futuro, você precisa de uma raiz'

Muito antes de ser dono de um doce reconhecido nacionalmente, Brunno Malheiros é um apaixonado por pães. Segundo ele, o ramo é difícil, mas igualmente gratificante. "O padeiro tem que sonhar com o pão. Ele tem que sonhar que queimou o pão. Se não, ele fica indiferente. Isso não é certo, é preciso ficar indignado, é preciso ficar triste quando algo dá errado, porque assim é criada a motivação para tentar de novo", articula.

O profissional associa a gênese da paixão pela cozinha ao avô, Carlos Malheiros. O também empresário e antigo proprietário da Casa Plaza, localizada no bairro Cocó, faleceu em agosto de 2023, aos 78 anos. Na época, foi homenageado pelo neto: "A tristeza é imensurável", escreveu Brunno nas redes sociais.

Dois homens, Brunno Malheiros e o avô, Carlos Malheiros, segurando uma cesta de baguetes em uma padaria artesanal, sorrindo para a câmera.
Legenda: Curiosamente, Brunno afirma não ter tido oportunidades para ingressar nos negócios da família, comandados pelo avô. Isso, segundo ele, o instigou a seguir o próprio caminho
Foto: Arquivo Pessoal

A caminhada do avô é motivo de orgulho do neto. "É muito ruim quando você não tem história para contar, ou quando você não sabe a raiz das coisas. E, através do meu avô, eu conheci a raiz de como funcionava antigamente", alegra-se.

A admiração de Brunno pelo avô é notável. Durante a conversa, fala com empolgação, e um pesar na voz, sobre as andanças e evoluções do falecido mentor. "Para você andar para o futuro, você precisa de uma raiz", cita. E, no jovem padeiro, essas raízes foram fincadas na cozinha e cresceram na farinha, água e sal.

Meu avô, pelos diversos anos de profissão, tinha amor pelo pão, tinha amor pela padaria. Ele gostava, sabe? Quando tinha já seus quase 80 anos, continuava acordando 5 horas da manhã para trabalhar. Passava na produção e checava tudo. Se algo não estava bom, chamava os funcionários e ensinava como melhorar, mesmo sem saber fazer um pão. [...] Ele tinha essa experiência e... eu sei que o amor não paga contas, mas se não tiver paixão por isso, nada acontece".
Brunno Malheiros
Padeiro e empresário

Veja também

Da obsessão ao melhor panetone do Brasil

Apesar de ter se formado em 2017, a "obsessão" pelo pão natalino começou em 2021, quando Brunno incorporou o doce ao catálogo da Cheiro do Pão. No início, estava insatisfeito com o produto. Então, investiu em maquinários e insumos, além de contratar um especialista espanhol para auxiliar no desenvolvimento do "panetone perfeito".

Enquanto estudava e testava receitas, surgiu um convite de um antigo professor: competir na seletiva nacional para a Coppa Del Mondo Del Panettone. O padeiro cearense chegou a ficar inseguro se deveria participar, mas após insistência do mestre e da esposa, a psicóloga Ana Carolina Carvalho, aceitou. 

"Teve a avaliação e eu ganhei. Só Deus sabe, mas ganhei. [...] Diante de tanta gente boa, para mim, foi uma grata surpresa". Na época, a receita de Brunno venceu como "Melhor Panettone Clássico Milanês do Brasil". 

Com vitória na seletiva nacional, seguiu para a etapa internacional da Coppa Del Mondo Del Panettone, na Itália, e ficou no top 10.

Grupo de estudantes em atividade cultural no exterior, com bandeira do Brasil e representando sua paixão pela culinária e cultura brasileira.
Legenda: Brunno em Milão, na Itália, onde foi finalista da Coppa del Mondo del Panettone por dois anos seguidos, em 2022 e 2023
Foto: Arquivo Pessoal

Em 2023, o panetone de Brunno foi eleito pela segunda vez consecutiva o melhor do Brasil, em etapa realizada em São Paulo. Ao receber o título, quis comemorar com sua inspiração: o avô, que não pôde acompanhar a conquista de perto, já que estava com a saúde debilitada e em Fortaleza.

"Liguei para ele e disse: 'Vô, ganhamos!' Ele ficou muito feliz e me respondeu: 'Ô, rapaz, queria estar aí'. E eu falei: 'Não, não se preocupe, não. Quando eu chegar, a gente comemora'. Só que o chegar não deu certo..."

Quando retornou ao Ceará, Brunno não conseguiu encontrar com o avô imediatamente e, logo depois, Carlos Malheiros foi hospitalizado e faleceu. "Não tive a oportunidade de celebrar ou de, enfim, fazer o que achava que ia conseguir fazer. Então, esse momento não tive", lamenta, emocionado.

Em novembro de 2024, o padeiro cearense seguiu para a final internacional da competição e novamente ficou entre os 10 melhores

Veja também

Próximo desafio: 'Hall da fama' do panetone

No início deste ano, Brunno recebeu dois presentes: a gravidez da esposa, que espera a primeira filha do casal, e um convite para liderar o primeiro time brasileiro na Panettone World Championship. Ao receber o sinal verde da companheira, aceitou a oportunidade, que reúne os melhores especialistas e padeiros do mundo. 

Diferentemente da Coppa Del Mondo Del Panettone, na qual os participantes podem preparar o pão nos seus locais de origem, a PWC exige que eles façam o panetone na Itália, em um local designado e equipado para o evento, em uma espécie de "Masterchef", como explica o cearense. 

Em outubro deste ano, a equipe do Brasil disputa com 12 grupos de outros países para saber quem é melhor em diversas categorias, como: "Melhor Panetone Clássico"; "Melhor Chocotone (Massa de Cacau)"; "Melhor Panetone Inovador com Sorvete", entre outras. 

A equipe é muito boa. Todo mundo tem experiência, e isso traz paz. A gente tá bem empolgado. Como brasileiro, a gente entra para ganhar, para fazer o melhor. Para mim, não interessa quem vai estar lá, se a Itália tem tradição… A gente tem uma coisa que ninguém no mundo tem: carisma, simpatia e vontade de fazer acontecer independente da circunstância, então a gente vai para ganhar.".
Brunno Malheiros
Padeiro e empresário

Apesar do desafio, as expectativas de Brunno são positivas. "Independente do resultado, acho que a gente quer construir uma boa participação, um bom evento, e deixar uma boa marca, um legado."

Imagem mostra os padeiros Brunno Malheiros, Joze Nilson Diniz, Déborah Zanzini e Matheus Andrade, integrantes da equipe brasileira na Panettone World Championship
Legenda: Brunno lidera a primeira equipe do Brasil na competição mundial que reúne os melhores especialistas e padeiros
Foto: divulgação

*Estagiário sob supervisão da jornalista Mariana Lazari.

Assuntos Relacionados