Entenda o que é constelação familiar, técnica que inspirou tatuagem de Anitta e repercutiu nas redes
Prática considerada terapêutica para resolução de conflitos recebeu parecer contrário do Conselho Federal de Psicologia (CFP)
A constelação familiar é uma prática considerada terapêutica, feita em grupo ou individualmente, para resolver conflitos familiares. A técnica, que não tem respaldo científico, inspirou uma tatuagem da cantora Anitta e repercutiu nas redes sociais.
A artista respondeu a comentários que classificou como "polêmicos" em relação ao novo desenho na pele.
"Tem muita gente que não gosta de constelação familiar. Vai de cada um. Tem coisas que são boas para um e não são boas para o outro. (...) Essa tatuagem é como se fosse um símbolo da constelação familiar, uma terapia que tem me ajudado muito na minha vida, a ser feliz, viver com mais plenitude e entender coisas da vida que às vezes é difícil a gente entender".
Embora seja utilizada há pelo menos uma década na Justiça, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) emitiu parecer contrário à prática. A entidade destacou “incongruências éticas e de conduta profissional” no uso da constelação familiar enquanto método da categoria.
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O QUE É CONSTELAÇÃO FAMILIAR?
A constelação familiar faz uso da dramatização de situações, nas quais os participantes interpretam o histórico familiar do paciente. A técnica foi criada pelo alemão Bert Hellinger (1925-2019).
Conforme nota do CFP, a teoria enfatiza que os relacionamentos são regidos por três leis de caráter universal, chamadas de “Ordens do Amor”, que devem ser seguidas para o equilíbrio e a harmonia das relações. Em resumo, são elas:
- “Lei do pertencimento pelo vínculo”, segundo a qual é inerente ao ser humano a necessidade de pertencer a um grupo. Além disso, ninguém que tenha pertencido ao sistema pode ser excluído;
- “Lei do equilíbrio” seria uma dinâmica nas relações que pressupõe troca, um equilíbrio considerando a real possibilidade de doação de acordo com os papéis na relação;
- “Lei da ordem da hierarquia”, definida pela precedência no tempo, a qual exige que todo membro da família ocupe o lugar que só a ele corresponde.
Em março de 2023, o CFP emitiu nota técnica orientando psicólogos a não usarem a constelação familiar. A entidade afirma que a prática entra em conflito com o Código de Ética Profissional do Psicólogo, pois "pode suscitar a abrupta emergência de estados de sofrimento ou desorganização psíquica, e que o método não abarca conhecimento técnico suficiente para o manejo desses estados".
Além disso, o CFP indica que as bases teóricas da constelação familiar também "consagram uma leitura acerca do lugar da infância e da juventude fortemente marcada por um viés afeito à naturalização da ausência de direitos e de assujeitamento frente aos genitores, desrespeitando normativas dos Sistema Conselhos de Psicologia e o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)".
Outra crítica aponta que a prática viola ainda as diretrizes normativas sobre gênero e sexualidade consolidadas pelo Conselho Federal de Psicologia, ao reproduzir conceitos “patologizantes das identidades de gênero, das orientações sexuais, das masculinidades e feminilidades que fogem ao padrão hegemônico.”