Após exposição sobre casamento gay, gerente do Centro Cultural Banco do Nordeste é afastado do cargo
Faixa que falava sobre homofobia foi retirada da fachada do prédio e artistas acusam o equipamento de censura
O gerente executivo do Centro Cultural Banco do Nordeste em Fortaleza, Gildomar Marinho, foi afastado do cargo após a colocação de uma faixa em defesa do casamento gay. O material faz parte de uma instalação artística selecionada para a 70ª edição do Salão de Abril, promovido pela Prefeitura de Fortaleza.
A obra "O que pode um casamento (gay)?", de autoria de Eduardo Bruno e Waldírio Castro, contém memórias de uma série de performances que os artistas fizeram para o próprio casamento. A proposta era fazer da celebração um ato político e artístico.
Uma faixa com a inscrição "Em terra de homofóbicos casamento gay é arte" foi instalada na fachada do centro cultural, que pediu que os artistas retirassem da entrada do prédio após a abertura da mostra. Os artistas negaram e uma reunião foi marcada para encontrar uma solução para o caso.
Antes do encontro acontecer, o centro cultural tomou a decisão de retirar o material da entrada sem o consentimento dos artistas e da curadoria. Nesta terça-feira (28), os autores decidiram retirar toda a obra do espaço e protestar pela atitude.
O Diário do Nordeste confirmou que, depois do caso, Gildomar Marinho foi retirado da gerência executiva do centro cultural e foi transferido para a gerência da célula de cultura do Banco do Nordeste.
"Ato de violência"
"Não faz sentido manter toda a obra em local onde parte dela foi violada. Pra gente, isso é uma violência, um ato de censura", afirma Eduardo Bruno, que classifica a ação como um ato de homofobia. "Eu não consigo ver outra justificativa para isso. Me pergunto se existe outra justificativa", diz.
O artista diz que não entende outro motivo para a decisão. "Era uma faixa, na parte de dentro, tinha um beijo gay, que hoje até novela mostra. Não tem discurso de ódio, não tem palavra de baixo calão, não tem pornografia", afirma.
Jacqueline Medeiros, uma das curadores do Salão de Abril, diz que a decisão foi do centro cultural e os organizadores não foram consultados. "Na verdade, toda a conversa foi com o artista. A gente só foi comunicado depois que retiraram a faixa", afirma a pesquisadora em artes.
A deputada Áurea Carolina, do Psol/MG requereu esclarecimentos ao presidente do BNB acerca do cerceamento a exposição de arte do Centro Cultural Banco do Nordeste.
A Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor), que organiza a mostra, lamentou o caso por meio de nota e disse que vai realocar a obra na Casa Barão de Camocim, que também integra a mostra.
Também em nota, o Banco do Nordeste admitiu que retirou a faixa na entrada do equipamento porque estaria "descaracterizando a fachada do prédio e comprometendo sua identidade visual".