Jorge Helder revela projetos solos e fala de sua reputação na MPB
Músico de apoio da linha de frente da MPB, o cearense comenta os novos projetos e observa a postura que conquistou a confiança de nomes como Chico Buarque e Maria Bethânia
O cearense Jorge Helder, 56, se destacou logo cedo no cenário da música brasileira. Como músico de apoio, o baixista, radicado há mais de 30 anos no Rio de Janeiro, fez jus à reputação de "um dos músicos mais requisitados da MPB", sobretudo quando passou a integrar o time de confiança de Chico Buarque, desde 1991.
Discreto e sem a vaidade típica dos que se alimentam de holofotes, o músico situa, em entrevista ao Verso, que o rótulo de artista "super-requisitado" é a ponta do iceberg de um trabalho musical feito com aprendizado, lógica e pés no chão. Afinado ao contrabaixo elétrico e acústico, Jorge agora dá passos mais firmes com seu trabalho solo, e revela que acabou de gravar o seu primeiro disco.
Durante o Carnaval, ele foi uma das atrações do II Cocoricó Jazz Festival, no Cantinho do Frango (Aldeota). Na programação do evento, Jorge participou dos tributos a Mile Davis, Nina Simone e Etta James; além de fazer a estreia do tributo ao mineiro Toninho Horta, um show criado pelo cearense. "Sempre toco o jazz. Do Toninho Horta eu já era fã e admirava muito, mas nunca tinha tido oportunidade de apresentar as músicas dele no meu trabalho solo, essa é a primeira vez", observa.
Ao lado de Toninho, Jorge participou do registro do DVD em homenagem aos 40 anos de João Bosco (2012), dentre outros projetos. No entanto, ao olhar para a obra do mineiro, Jorge segue a perspectiva de combinar o "velho" (interpretar o cancioneiro de vários autores) e o "novo" (com um filtro autoral) em sua carreira de baixista.
"Meus shows (solo) sempre são em cima do repertório de algum autor que eu gosto. Já fiz aqui (em Fortaleza) os tributos a Tom Jobim, Chico Buarque. E agora estou fazendo essa homenagem, mas ainda não é meu trabalho autoral", alinha Jorge.
Indagado se o trabalho solo só teria espaço em sua agenda nos intervalos dos compromissos ao lado dos "medalhões" da MPB, o baixista pondera que, na prática, todo trabalho tem a mesma validade. "No momento, minha música está sendo mais uma opção de trabalho pra mim. De conseguir aumentar a renda e melhorar a qualidade de vida da minha família", sintetiza.
Jorge Helder observa como o tempo passa e percebe os artistas com os quais trabalha, a exemplo de Chico Buarque, Edu Lobo e Maria Bethânia, reduzirem o ritmo de produção, por conta da própria idade.
"Eles estão num processo de diminuir a quantidade de shows e trabalho. É normal, a idade tem avançado pra todos. Não há mais necessidade, e nem a disposição física pra encarar turnês, estrada. Estou tendo que inventar projetos pra me sustentar, não está fácil", reconhece o baixista.
Parcerias
Para o primeiro disco solo, ainda inédito, Jorge revela que encaminhou três parcerias. Com Aldir Blanc (poeta, clássico parceiro de João Bosco), fez uma homenagem a Dorival Caymmi, cantada por Dori Caymmi (75), filho do ícone baiano. Rosa Passos (BA) e Celso Biafra (SP) também compuseram ao lado do cearense.
A exemplo do que já tinha feito com Chico Buarque (a primeira canção dos dois foi "Bolero Blues", registrada no álbum "Carioca", 2006), Jorge faz a música, e os parceiros escrevem a letra.
Apesar de transitar entre os figurões da MPB há mais de três décadas, o cearense contabiliza criações pontuais em parceria, e observa que participar desse "primeiro escalão" da música brasileira se dá por conta da "sintonia" de trabalho entre ele e os próprios autores.
"O que acontece nesses grupos, com o Chico, Bethânia, Edu (Lobo), é sintonia musical. Tento me localizar dentro do projeto. Ser coerente com aquela situação. Pra agregar, e não pra me destacar com uma ideia totalmente diferente. Ver uma forma de cooperar com todos, enxergando todo mundo", reflete.
Postura
Antes avesso a entrevistas, hoje Jorge fala com clareza e de forma pontual sobre cada projeto da carreira. A simplicidade na comunicação é reflexo, também, da postura que mantém diante da vida e da notoriedade profissional. "Essa é a minha verdade. Estou tentando ser coerente comigo mesmo, não é nem contigo. Procuro ser prático, gosto de trabalhar em cima da lógica e buscar a coerência, principalmente quando estou conversando", sugere o músico.
Fora da rotina profissional, ele mantém a mesma sintonia. Jorge não tem nenhum hobby artístico ou projeto paralelo para além da música. "Gosto muito de cuidar de casa, de estar com a minha família. Adoro estar com meus filhos. Eles são Fluminense, eu sou vascaíno. Mas quando tem jogo do Fluminense eu fico aflito, começo a suar (risos), e a gente vai pro Maracanã. É bom demais", conta.
"Também adoro andar, sem ouvir música, pelas ruas do Rio. Pegar bicicleta, ir ao cinema. Fora isso, a música dá muito trabalho (risos)", complementa Jorge Helder.