Jorge Helder revela projetos solos e fala de sua reputação na MPB

Músico de apoio da linha de frente da MPB, o cearense comenta os novos projetos e observa a postura que conquistou a confiança de nomes como Chico Buarque e Maria Bethânia

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: O músico cearense esteve em Fortaleza e apresentou, pela primeira vez, um tributo a Toninho Horta
Foto: Foto: Rodrigo Gadelha

O cearense Jorge Helder, 56, se destacou logo cedo no cenário da música brasileira. Como músico de apoio, o baixista, radicado há mais de 30 anos no Rio de Janeiro, fez jus à reputação de "um dos músicos mais requisitados da MPB", sobretudo quando passou a integrar o time de confiança de Chico Buarque, desde 1991.

Discreto e sem a vaidade típica dos que se alimentam de holofotes, o músico situa, em entrevista ao Verso, que o rótulo de artista "super-requisitado" é a ponta do iceberg de um trabalho musical feito com aprendizado, lógica e pés no chão. Afinado ao contrabaixo elétrico e acústico, Jorge agora dá passos mais firmes com seu trabalho solo, e revela que acabou de gravar o seu primeiro disco.

Durante o Carnaval, ele foi uma das atrações do II Cocoricó Jazz Festival, no Cantinho do Frango (Aldeota). Na programação do evento, Jorge participou dos tributos a Mile Davis, Nina Simone e Etta James; além de fazer a estreia do tributo ao mineiro Toninho Horta, um show criado pelo cearense. "Sempre toco o jazz. Do Toninho Horta eu já era fã e admirava muito, mas nunca tinha tido oportunidade de apresentar as músicas dele no meu trabalho solo, essa é a primeira vez", observa.

Ao lado de Toninho, Jorge participou do registro do DVD em homenagem aos 40 anos de João Bosco (2012), dentre outros projetos. No entanto, ao olhar para a obra do mineiro, Jorge segue a perspectiva de combinar o "velho" (interpretar o cancioneiro de vários autores) e o "novo" (com um filtro autoral) em sua carreira de baixista.

Foto: Foto: Rodrigo Gadelha

"Meus shows (solo) sempre são em cima do repertório de algum autor que eu gosto. Já fiz aqui (em Fortaleza) os tributos a Tom Jobim, Chico Buarque. E agora estou fazendo essa homenagem, mas ainda não é meu trabalho autoral", alinha Jorge.

Indagado se o trabalho solo só teria espaço em sua agenda nos intervalos dos compromissos ao lado dos "medalhões" da MPB, o baixista pondera que, na prática, todo trabalho tem a mesma validade. "No momento, minha música está sendo mais uma opção de trabalho pra mim. De conseguir aumentar a renda e melhorar a qualidade de vida da minha família", sintetiza.

Jorge Helder observa como o tempo passa e percebe os artistas com os quais trabalha, a exemplo de Chico Buarque, Edu Lobo e Maria Bethânia, reduzirem o ritmo de produção, por conta da própria idade.

"Eles estão num processo de diminuir a quantidade de shows e trabalho. É normal, a idade tem avançado pra todos. Não há mais necessidade, e nem a disposição física pra encarar turnês, estrada. Estou tendo que inventar projetos pra me sustentar, não está fácil", reconhece o baixista.

Parcerias

Para o primeiro disco solo, ainda inédito, Jorge revela que encaminhou três parcerias. Com Aldir Blanc (poeta, clássico parceiro de João Bosco), fez uma homenagem a Dorival Caymmi, cantada por Dori Caymmi (75), filho do ícone baiano. Rosa Passos (BA) e Celso Biafra (SP) também compuseram ao lado do cearense.

A exemplo do que já tinha feito com Chico Buarque (a primeira canção dos dois foi "Bolero Blues", registrada no álbum "Carioca", 2006), Jorge faz a música, e os parceiros escrevem a letra.

Apesar de transitar entre os figurões da MPB há mais de três décadas, o cearense contabiliza criações pontuais em parceria, e observa que participar desse "primeiro escalão" da música brasileira se dá por conta da "sintonia" de trabalho entre ele e os próprios autores.

"O que acontece nesses grupos, com o Chico, Bethânia, Edu (Lobo), é sintonia musical. Tento me localizar dentro do projeto. Ser coerente com aquela situação. Pra agregar, e não pra me destacar com uma ideia totalmente diferente. Ver uma forma de cooperar com todos, enxergando todo mundo", reflete.

Postura

Antes avesso a entrevistas, hoje Jorge fala com clareza e de forma pontual sobre cada projeto da carreira. A simplicidade na comunicação é reflexo, também, da postura que mantém diante da vida e da notoriedade profissional. "Essa é a minha verdade. Estou tentando ser coerente comigo mesmo, não é nem contigo. Procuro ser prático, gosto de trabalhar em cima da lógica e buscar a coerência, principalmente quando estou conversando", sugere o músico.

Fora da rotina profissional, ele mantém a mesma sintonia. Jorge não tem nenhum hobby artístico ou projeto paralelo para além da música. "Gosto muito de cuidar de casa, de estar com a minha família. Adoro estar com meus filhos. Eles são Fluminense, eu sou vascaíno. Mas quando tem jogo do Fluminense eu fico aflito, começo a suar (risos), e a gente vai pro Maracanã. É bom demais", conta.

"Também adoro andar, sem ouvir música, pelas ruas do Rio. Pegar bicicleta, ir ao cinema. Fora isso, a música dá muito trabalho (risos)", complementa Jorge Helder.

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