Setembro Amarelo: Como cuidar da sua saúde mental

É imperativo questionarmos como estamos com as vertentes de nossas vidas

Escrito por Ana Patrícia de Aragão ,
Tartaruga
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em sua constituição, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define que “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença ou enfermidade”. Para a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental é um estado de bem-estar no qual um indivíduo realiza suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de fazer contribuições à sua comunidade.

Lembrando de uma frase corriqueira que sempre me vem quando se trata de saúde mental, “conhece-te a ti mesmo” (templo de Apolo em delfos), não penso apenas no cunho filosófico que venha a ingressar desta, mas no entendimento psicológico que ela traduz. Como posso buscar ter saúde mental sem me conhecer, sem me apropriar do que sou.

Trazendo esse questionamento na busca pela profundidade da alma ou da psiquê, asseverou o teórico e psiquiatra C.G.Jung [...], é preciso ter consciência de mim mesmo, assim me diferencio do outro [...]. Logo, preciso entender a mim, quais as minhas necessidades para obter saúde.

O que te traz prazer? O que você gosta de fazer? O que está fazendo no seu lazer? Seu trabalho te completa? É algo que te realiza? Que te fortalece? E como está a interação com o grupo familiar? E os grupos de amigos são realmente aqueles que você escolheu, você se identifica? E como você está com o seu corpo?

Somos seres biopsicossociais espirituais, complexos, que têm suas histórias, suas necessidades próprias e individuais. Dessa forma, é imperativo questionarmos como estamos com as vertentes de nossas vidas, se compreendemos com clareza nossas aspirações reais, pois o posicionamento que nos colocamos no mundo traduz muito de nós, do que somos ou do que imaginamos ser.

Veio-me um poema maravilhoso de Ana Cláudia Saldanha Jácomo, que fala da “Alma perfumada”, onde retrata o ser que se reconhece em essência e brilha da forma que é. Ele revela a leveza do ser, destituído de todas as bagagens desnecessárias que por vezes carregamos sem compreender o porquê.

“Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra.

Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.

Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria.

Recebendo um buquê de carinhos.

Abraçando um filhote de urso panda.

Tocando com os olhos os olhos da paz.

Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.” (A.C.S,Jácomo 1996)

Retrata o equilíbrio de ser fiel a sua história, pois somos afago quando estamos bem. Vejo esse poema como uma oportunidade de reflexão, até mesmo um recomeço, como um estalo da vida, de reavaliar como estamos. Será que somos nossa melhor versão? Isso inclui avaliar o que estamos fazendo na prática. Organizar a vida é também uma forma de organização psíquica. A maneira como você se compreende em conexão consigo e com o universo a sua volta, de forma saudável, é onde está sua saúde mental, seu posicionamento verdadeiro na vida.

A psicoterapeuta Verena Kast (2004) fortalece esta reflexão quando nos traz que “poder seguir os próprios e verdadeiros interesses pode moldá-los, dá mais vitalidade a pessoa e assim melhora os sentimentos de auto estima”. Ou seja, conceder ao sujeito a liberdade de ser você possibilita a emersão de suas potências, é se reconhecer em essência.

Não existe receita de bolo pra cuidar da saúde mental, pois cada sujeito tem uma caminhada muito própria, com posicionamentos distintos que embalam a canção de sua vida. Destacando que são inúmeros os caminhos de busca pela saúde mental, importa ressaltar que é a história desse sujeito que vai posicioná-lo no melhor mecanismo de satisfação e completude psíquica.

Emfim... A vida nos oferece todos os dias uma nova e infindável gama de oportunidades. Arrisque-se a romper com seus limites, suas barreiras. Realize, construa, desconstrua... erre, conserte... preencha os espaços vazios com o que te faz bem, e viva!

Ana Patrícia de Aragão

Psicóloga clínica

Especialista em saúde mental

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