Criança de 5 anos usa capa protetora para abraçar avô, que mora sozinho em Fortaleza

O pequeno Miguel aguardou enquanto o avô descia as escadas para abraça-lo. O idoso não segurou a emoção após ver o neto

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Abraço
Legenda: Por conta da pandemia de Covid-19, o tão aguardado abraço não acontecida há mais de três meses
Foto: Arquivo Pessoal

Para driblar a saudade causada pela distâcia entre neto e avô durante o isolamento social, necessário por conta da pandemia da Covid-19, o pequeno Miguel, de apenas cinco anos, usou uma capa protetora para dar o tão aguardado abraço em José Joca, 74, avô que mora sozinho, em Fortaleza. A surpresa aconteceu na entrada da casa do idoso, que não segurou a emoção ao reencontrar o único neto.

Na quarta-feira (17), Miguel aguardou próximo a entrada da casa enquanto José descia as escadas. A criança usou uma capa feita pela mãe para impedir a transmissão do novo coronavírus por gotículas de saliva. Na proteção, uma plaquinha lembrava o avô: “Eu amo você!”. Ao se deparar com o único neto, o idoso se emocionou. “Vovô tava com saudades. Tá todo bonito!”, disse.

A ideia da homenagem foi da mãe de Miguel, Aline Joca. “Meu pai tem problema de visão, enxerga bem pouco. Por ser mais idoso e morar sozinho, as visitas estão sendo restritas. Só eu estou indo e estamos bem resguardados. O Miguel só havia ido uma vez, e ficado bem de longe. Ele tava com muita saudade. É seu único neto”, conta.

A capa foi feita com o material de trabalho de Aline: plástico usado para empacotar pipoca gourmet. O plástico usado é comum e fica aberto na parte de baixo para entrada de ar. Durante os momentos em que Miguel está com a capa, os pais ficam atentos à criança. O plástico foi higienizado com água sanitária diluída em água para prevenção contra o novo coronavírus.

“Vi a sugestão em vídeos nas redes sociais de pessoas de outros países. Disse: ‘vou tentar fazer’. Como no meu trabalho tenho vários tamanhos de sacos, deu tudo certo”, conta.

Distância necessária

A família está em isolamento social há mais de três meses e tomando todos os cuidados necessários para preservar a vida dos avós de Miguel - Dos Reis Ribeiro, 63, e Aldaídes Ribeiro, 81, avó e bisavô do pequeno, que moram em Caucaia; Ana Zélia, 65, e Newton Gurjão, 67 (avós por parte de pai, que residem em Fortaleza); e seu José Joca, que mora sozinho na Capital.

Abraço
Legenda: Durante os momentos em que a criança está com a capa, os pais de Miguel ficam atentos à criança. O plástico é higienizado com água sanitária diluída em água para prevenção contra o vírus.
Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Aline, as saídas às casas dos pais e sogros acontecem em extrema necessidade e para suprir as necessidades dos parentes. Ainda assim, sem contato físico. “Estamos bem resguardados, mas eles cobravam muito este momento por conta da saudade”, conta. “Quando a gente vai é para deixar alguma coisa. Levamos ele uma vez e os avós quiseram pegar, mas não podiam. Aí, minha esposa teve a ideia”, conta o pai, Claudio Gurjão.

Nesta semana, os outros avós do pequeno também receberam uma visita, com todos os cuidados necessários. “Ele ficou muito empolgado, é muito agitado. Mas, agora, vamos esperar este momento passar”, ressaltou a mãe. 

Especialistas

Mesmo com todos os cuidados, especialistas ressaltam que é preciso evitar este tipo de contato direto, principalmente se tratando de pessoas idosas, grupo de risco para a Covid-19. “Não acho possível uma desinfecção 100% garantida da capa. Há risco de contaminação e transmissão. Há risco, depois, da própria criança ou dos pais se contaminarem ao colocar ou tirar o saco. É uma atitude linda e emocionante de se ver, mas não é isenta de riscos. Então, não acho válido indicar”, aponta a médica Luana Costa.

“Do ponto de vista de infecção, vai depender muito de como isso é feito e como é essa proteção. Se é um vírus que tem transmissão aérea, temos que avaliar se é uma barreira segura. Outra questão é que sempre há riscos quando envolve plástico e criança. É preciso tomar todos os cuidados para evitar o sufocamento”, acrescenta o médico infectologista pediátrico, Robério Leite, pontuando que ainda não se tem total ciência de como funciona o comportamento do vírus. 

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