Dengue, zika e chikungunya: casos de arboviroses caíram, mas CE registra 9 mortes e 12 mil infecções
Chikungunya teve a queda mais expressiva com 95% menos infecções de janeiro a agosto de 2022 em comparação com 2023
O Ceará acumula 12.837 casos e 9 mortes por arboviroses (dengue, zika e chikungunya), entre janeiro e o início de agosto deste ano, conforme o monitoramento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram 63,3 mil casos, há uma queda de 79,7% dos diagnósticos.
A queda mais expressiva foi notada nos casos de chikungunya, que passaram de 34.606, no período de 2022, para 1.656 neste ano, o que representa menos 95%. Com esse grande volume anterior, foram registradas 24 mortes pela doença entre janeiro e agosto de 2022. No recorte deste ano, 2 pessoas perderam a vida por chikungunya.
Os casos de dengue também tiveram uma queda acentuada de 61% com a redução de 28.731 para 11.156 diagnósticos na comparação. Apesar disso, o número de casos graves foi praticamente o mesmo: 18 e 17 respectivamente.
Mas, afinal, por que os números estão mais baixos? As arboviroses deixam de ser uma preocupação? A queda pode estar relacionada à imunidade de ondas anteriores, mas outros subtipos das doenças, como da dengue, acendem o alerta.
Álvaro Madeira Neto, médico sanitarista e professor de Medicina, contextualiza que a a alta disseminação das doenças no último ano podem ter contribuído para essa queda atual.
“Isso ocorre porque, após uma infecção pelo vírus da chikungunya, por exemplo, o indivíduo adquire uma imunidade duradoura. Esse fenômeno de imunidade coletiva, resultante de uma grande parcela da população já ter sido infectada, pode reduzir a circulação do vírus no ano subsequente”, frisa.
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Além do aumento de casos em 2022, outros picos de transmissão das arboviroses acontecem em 2016 e 2017, como analisa Álvaro, o que também contribui para a imunidade coletiva.
“O empenho em ações preventivas, como campanhas de educação para a população e estratégias intensivas de combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor dessas doenças, certamente desempenhou um papel crucial na redução dos casos”, acrescenta.
A presença de óbitos, mesmo com a queda nos casos, é um lembrete doloroso de que as arboviroses não devem ser subestimadas. Elas têm o potencial de causar complicações graves e, por isso, as estratégias de prevenção são fundamentais
Ana Cabral, coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Sesa, detalha que outros fatores também se relacionam para a redução dos casos.
"O abastecimento regular de água, a coleta de lixo, a redução dos criadouros de mosquitos e a baixa circulação viral são fatores que influenciam na redução do número de notificações numa região", avalia.
O risco da dengue tipo 3
Em 2023 houve a confirmação do sorotipo 3 da dengue em estados brasileiros, o que se tornou motivo de preocupação entre especialistas. Isso porque essa forma do vírus não circula há mais de 15 anos em Fortaleza e a população mais jovem não possui anticorpo para a doença – ou seja, está mais vulnerável.
Álvaro explica que a dengue é uma doença causada por quatro sorotipos distintos do vírus, sendo que cada um dá “imunidade vitalícia” ao paciente. Isso significa que quem teve dengue fica protegido do tipo que o afetou, porém não dos demais.
Os indivíduos que são infectados por tipos diferentes de dengue em momentos diferentes podem desenvolver formas mais graves.
“O sorotipo DENV-3 da dengue tem sido o predominante no Brasil, especialmente nos últimos 15 anos, e está associado a manifestações clínicas mais severas. Devido ao seu elevado potencial de infecção, esse vírus requer uma atenção especial”, alerta.
Por causa disso, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) divulgou a ampliação de ações de controle, principalmente no segundo semestre, com inspeção de domicílios, áreas públicas e outros pontos estratégicos.
O planejamento acontece para reduzir os casos no período de sazonalidade, de janeiro a junho, quando as chuvas favorecem o acúmulo de água e a formação de criadouros do mosquito Aedes Aegypti.
“É fundamental que as autoridades de saúde monitorem de perto a circulação dos sorotipos de dengue e implementem medidas preventivas, especialmente, em populações vulneráveis como crianças e adolescentes”, conclui o médico.
Monitoramento em Fortaleza
O boletim de arboviroses em Fortaleza mais recente, com dados apurados até 31 de julho, mostra quedas acentuadas nos registros da doença. Em relação à dengue e à chikungunya, há uma concentração de casos em determinadas áreas da cidade.
Barra do Ceará, Cristo Redentor e Pirambu foram identificados como os principais focos de ocorrência da dengue nessa região na Regional I, onde há o aglomerado de alta intensidade.
Também há concentração significativa nos bairros Vicente Pinzón e Cais do Porto, da Regional II, Jardim América, Bom Futuro, Parreão, Montese e Vila União, da Regional IV, e nos bairros Pici e Bela Vista, da Regional III.
Os casos confirmados de chikungunya também afetam, principalmente, os bairros Cristo Redentor e Pirambu. Além destes, Henrique Jorge, Bonsucesso e Parque Dois Irmãos possuem números relevantes da doença.
Sintomas e prevenção das arboviroses
Ainda que haja a queda dos casos confirmados, as arboviroses causam quadros graves e complicações sérias. Em alguns pacientes, as doenças podem ser assintomáticas, mas também podem ser intensas a ponto de causar a morte.
“Algumas pessoas, especialmente aquelas com comorbidades ou que são reinfetadas, por exemplo, pela dengue de um sorotipo diferente, correm risco maior de desenvolver formas graves da doença”, reforça Álvaro.
Todas as arboviroses podem ser prevenidas com limpezas domésticas e em espaços públicos para evitar a criação de mosquitos, além do uso de repelentes e mosquiteiros. Conheça os sintomas das arboviroses apontados pelo Ministério da Saúde.
Sintomas da dengue:
Febre alta (superior a 38°C)
Dor no corpo e articulações
Dor atrás dos olhos
Mal estar
Falta de apetite
Dor de cabeça
Manchas vermelhas no corpo.
Sintomas da chikungunya:
Febre
Dores intensas nas articulações
Dor nas costas
Dores pelo corpo
Erupção avermelhada na pele
Dor de cabeça
Náuseas e vômitos
Sintomas da zika:
Febre baixa (menor ou igual que 38,5 ºC) ou ausente,
Exantema (irritação na pele) de início precoce
Conjuntivite não purulenta
Dor de cabeça
Aumento dos linfonodos (chamados de ínguas).