Crianças mortas em incêndio dormiam enquanto mãe trabalhava em feira: 'pra não ver filhos com fome’

Tio das vítimas ainda tentou salvá-las ao perceber que fogo consumia a casa; Polícia investiga o caso

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: As crianças ficaram sozinhas quando a mãe saiu para trabalhar
Foto: Acervo pessoal

Ainda era madrugada, quando um grito da avó alertou a morte de duas crianças num incêndio na cidade de Tururu, no Litoral Oeste do Ceará, domingo (5). A mãe tinha saído para trabalhar na feira da região “para não ver os filhos passando fome”.

O relato é de Valdeci da Silva, de 33 anos, tio das 2 crianças e quem tirou os sobrinhos da casa. Foi ele quem levantou com o desespero da avó assustada com o fogo e quebrou a porta do lugar onde estavam os sobrinhos. Lá, Valdeci viu um fogo alto tomando de conta da cama e ouviu o choro da menina de 2 anos e 7 meses.

O bebê, de 1 ano, teve a vida consumida pelo fogo ainda na casa e foi sepultado no mesmo dia. Nesta segunda-feira (6), a família volta a se reunir para enterrar a menina, que chegou a ser levada para Fortaleza durante o atendimento médico, mas não resistiu.

Ela está muito abalada, está aqui na residência da minha mãe, que fica no mesmo terreno. Estamos apoiando e consolando, porque é o que a gente pode fazer. Ela ainda não acredita no que aconteceu
Valdeci da Silva
Tio das crianças

O corpo da pequena estava sendo transferido para a cidade do interior durante a entrevista em que Valdeci compartilhou do sofrimento que vivencia há pouco mais de 24h. “A minha cabeça está... Eu nem sei o que falar mais”, desabafa o tio que trabalha com a confecção de sapatos.

A mente e o corpo, que foi marcado por uma queimadura na perna, ainda processam o que aconteceu. Em outros momentos, os já tinham ficado sozinhos enquanto a mãe ia trabalhar, como relata o tio. Dessa vez, a suspeita é de que o ventilador tenha gerado o fogo.

“Ela foi fazer uma coisa que tinha de fazer para não ver os filhos passando fome, não era o querer dela, foi precisão”, frisa o homem.

“Como a gente nunca espera que algo ruim aconteça, ela deixava (as crianças em casa), minha mãe dava o mingau a eles e trazia para cá. Nesse dia foi um negócio muito rápido, quando ele chorou, minha mãe pensava que estava com fome, mas já era o fogo”, lembra.

Legenda: Família atuou no resgate e na contenção do incêndio neste domingo
Foto: Reprodução/Marcílio Barbosa

O que aconteceu

Valdeci precisou quebrar a porta da casa para o resgate e mantém na mente o grito da avó ao ver o fogo e o choro da criança.

“Ela estava num estado muito grave, estava chorando e ficou assim enquanto eu chamava a ambulância. Quando o doutor colocou ela no braço, parou de chorar”, detalha sobre o momento inicial.

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Ainda no domingo, a família viu o bebê de 1 ano ir para a funerária e ser recebido na capela próximo ao cemitério onde foi enterrado. Depois disso, a tia da menina que veio para Fortaleza comunicou à família sobre a partida da pequena.

O pai das crianças não vivia na mesma casa, mas foi ao local quando soube do incêndio. “Ele veio aqui depois do ocorrido, viu a imagem e chorou. Ele ficou calado e foi embora, pegou uns documentos para ir ao hospital. Ele e a família estavam no funeral”, detalha.

Investigação

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que a Polícia Civil apura as circunstâncias do incêndio. A Polícia Militar do Ceará e a Perícia Forense atenderam a ocorrência. Agora o caso está em análise pela Delegacia Municipal de Tururu.

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