Coqueluche: mesmo sem casos em 2024, cobertura vacinal no Ceará está abaixo da meta

Número de casos aumenta no Brasil e em 17 países europeus. O último pico epidêmico da doença no país aconteceu em 2014 com mais de 8 mil casos

Escrito por Bernardo Maciel* , bernardo.maciel@svm.com.br
Legenda: Os bebês são o principal grupo de risco da doença
Foto: Shutterstock

Neste ano, pelo menos 17 países da União Europeia registram aumento de casos de coqueluche. Na América do Sul, a Bolívia também registrou surto da doença, com 693 casos confirmados de janeiro a agosto de 2023, sendo mais de 60% em menores de 5 anos. No Brasil, algumas cidades, como São Paulo também registraram aumento de casos da doença.

No Ceará, até o momento, não há registros de coqueluche em 2024. No entanto, de 1998 até 2023, o Estado registrou 731 casos. 2014 foi o ano com o maior número de confirmações da infecção, atingindo a marca de 184 infectados. Os dados são do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde.

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O QUE É COQUELUCHE?

A coqueluche é uma infecção respiratória, transmissível, causada pela bactéria Bordetella Pertussis. Ela compromete o aparelho respiratório, traqueia e brônquios e se caracteriza, principalmente, por crises de tosse seca.

De acordo com o Ministério da Saúde, os principais fatores de risco para coqueluche têm relação direta com a falta de vacinação.

  • Nas crianças a imunidade à doença é adquirida quando elas tomam as três doses da vacina, sendo necessária a realização dos reforços aos 15 meses e aos 4 anos de idade.
  • Pode ser que o adulto, mesmo tendo sido vacinado quando bebê, fique suscetível novamente à doença porque a vacina pode perder o efeito com o passar do tempo.

Robério Leite, médico infectologista e pediatra do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), destaca a importância da vacinação, assim como o reforço de doses com o passar do tempo.

“A vacinação é a melhor maneira de prevenção, devendo ser iniciada a partir de 2 meses de idade. Atenção especial para a vacinação das gestantes, pois representa uma estratégia muito importante para a proteção da própria mãe e do bebê nos primeiros dois meses de idade. Nem a doença e nem a vacina conferem imunidade duradoura, de modo que reforços de doses da vacina são necessários ao longo da vida, sobretudo para os mais vulneráveis.”

Legenda: A vacina está disponível na SUS para crianças, gestantes e profissionais de saúde
Foto: Shutterstock

Os sintomas da doença podem se manifestar em três níveis. No primeiro nível, o mais leve, os sintomas são parecidos com o de um resfriado:

  • Mal-estar geral;
  • Corrimento nasal;
  • Tosse seca;
  • Febre baixa.

Esses sintomas iniciais podem durar por semanas, época em que a pessoa também está mais suscetível a transmitir a doença. No segundo nível, a tosse seca piora e outros sinais aparecem.

  • Tosse passa de leve e seca para severa e descontrolada;
  • A tosse pode ser tão intensa que pode comprometer a respiração;
  • A crise de tosse pode provocar vômito ou cansaço extremo.

Geralmente, os sinais e sintomas da coqueluche duram de seis a dez semanas, podendo durar mais tempo, conforme o quadro clínico e a situação de cada caso. Nessa fase, os sintomas são mais severos e, dependendo do tratamento, podem durar até mais de um mês. É normal que adultos e adolescentes tenham sintomas mais leves em relação às crianças.

“A tosse vem em salvas, o paciente sente falta de ar, chega a ficar cianótico e emite um som característico, chamado de guincho, parecido com um piado, ao final desses episódios. É realmente muito angustiante. Essa apresentação clínica é mais comum nos bebês, que podem evoluir com complicações graves como apneia, pneumotórax, convulsões, hemorragia intracraniana e morte.”
Robério Leite
Médico Infectologista Pediatra

O infectologista explica como se dá a transmissão da coqueluche e fala do nível de contágio.

“A transmissão da doença é pelo ar. Através de gotículas eliminadas por tosse, espirro ou até mesmo ao falar. O afastamento do trabalho e da escola também é recomendado, por 5 dias para quem recebe o tratamento, ou por 3 semanas após o início dos paroxismos de tosse, para quem não recebeu tratamento. Devido ao alto poder de contágio, surtos epidêmicos podem acontecer repentinamente.”, pontua Robério Leite

A VACINA É OFERECIDA NO SUS

Devido ao cenário mundial de alta circulação da doença, o Ministério da Saúde publicou nota técnica no início deste mês, recomendando a ampliação (em caráter excepcional) e a intensificação da vacinação contra a coqueluche, assim como o fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica da doença no Brasil.

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A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informa que o esquema vacinal primário que protege contra a referida doença é composto por três doses, aos 2 meses, aos 4 meses e aos 6 meses, com a vacina Pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b; seguida de doses de reforço com a vacina DTP (tríplice bacteriana), administrada aos 15 meses e aos quatro anos, que protege contra difteria, tétano e coqueluche.

A meta de cobertura para ambas as vacinas é de 95%, no entanto, até o dia 17 de junho, o Ceará vacinou apenas 88,48% do público alvo com a vacina pentavalente e 88,50% com a vacina DTP e 79,88% com a dose de reforço, de acordo com os dados da  Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) do Ministério da Saúde.

A vacina está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no calendário da vacinação infantil de rotina, também para gestantes e profissionais de saúde, em todos os postos de saúde da capital, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h30, e aos finais de semana em dois postos de saúde, das 8h às 16h30.

 

*SOB A SUPERVISÃO DE KARINE ZARANZA

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