Força Integrada prendeu 165 foragidos e apreendeu R$ 20 milhões em combate ao crime organizado no Ceará em 2024
Os agentes de segurança ainda realizaram 12 operações policiais no ano, com destaque para as ações que desarticularam um braço financeiro ligado à alta cúpula da facção paulista PCC e que prenderam o número 1 de uma facção cearense
A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Ficco-CE) prendeu 165 foragidos e apreendeu R$ 20 milhões em valores em espécie e bens, no combate ao crime organizado no Estado, no ano de 2024. Os agentes de segurança ainda realizaram 12 operações policiais, com destaque para as ações que desarticularam um braço financeiro ligado à alta cúpula da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e que prenderam o número 1 da facção cearense Massa Carcerária.
O coordenador da Ficco-CE, delegado federal Igor Conti, analisa que o ano de 2023 (no qual a Força Integrada foi instalada no Ceará) foi voltado para "criar rotinas". "E 2024 foi um ano com o horizonte aberto, para a gente começar a produzir, pôr em prática o que a gente planejou em 2023. Eu posso dizer que foi um ano bastante produtivo, com operações complexas, como a 'Primma Migratio' e a 'Extramuros', e operações sensíveis, que ajudaram o Estado a se proteger de alguma ameaça'", completa.
A Ficco-CE reúne agentes e integra trabalhos da Polícia Federal (PF), Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), Polícia Militar do Ceará (PMCE), Polícia Civil do Ceará (PCCE), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), Perícia Forense do Ceará (Pefoce) e Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização do Ceará (SAP).
No início, a Força Integrada - ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) - tinha como principal foco o cumprimento de mandados de prisão em aberto. Com o tempo, a Unidade desenvolveu investigações próprias contra facções criminosas, mas continuou a busca por foragidos da Justiça.
A maioria dos 165 foragidos capturados pela Ficco em 2024 também tem ligação com grupos criminosos, mas são pessoas investigadas por outras unidades policiais, por crimes como homicídios, roubos e tráfico de drogas.
Conti classifica que a busca por foragidos é "mais rápida de se produzir resultados". "A gente acha relevante atacar essa vertente nos foragidos porquê, de alguma forma, enfraquece a impunidade. Tem muitos foragidos que fogem para outros estados, para continuar a liderar e emitir ordens. Então, a captura de um foragido estratégico ou de uma pessoa que a gente chama de 'mais procurados', porque o próprio Estado já apontou que aquele foragido representa uma ameaça ao Estado, é relevante", explica.
Confira as principais prisões de foragidos:
- Levy da França Bruno: suspeito de ser uma liderança da facção criminosa cearense Guardiões do Estado (GDE) e de ser um dos mandantes da tentativa de chacina registrada no Morro do Santiago, na Barra do Ceará, em janeiro de 2024. Foi capturado no dia 13 daquele mês;
- Evaldo Batista Ferreira, o 'Evaldo Coragem': acusado de uma série de crimes, como homicídios, roubos a bancos, tráfico de drogas e ataques a agentes de segurança e de ligação com a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Foi capturado no dia 18 de janeiro de 2024;
- Weverton Monteiro de Oliveira: suspeito de ordenar o assassinato do ex-prefeito de Plácido Castro, no Acre, em 2021, e de ligação com a facção carioca Comando Vermelho (CV). Foi capturado no dia 29 de fevereiro de 2024;
- Nícolas Rodrigues Alves, João Victor Xavier da Cunha, Raíssa Forte Brito e Ciro Soares Muniz Junior: suspeitos de envolvimento na fuga dos presos da Penitenciária Federal de Mossoró e de ligação com o Comando Vermelho. Presos em abril de 2024;
- Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento: fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, ligados ao Comando Vermelho. A Ficco-CE colaborou com as prisões realizadas no Pará, em 4 de abril de 2024;
- Alan Cléber Nascimento dos Santos: preso que fugiu algemado da sede da Polícia Federal em Fortaleza, em 2022. Foi recapturado no dia 24 de abril de 2024;
- Ismário Wanderson Fernandes da Silva: era um dos criminosos mais procurados pela Polícia no Ceará, suspeito de ser uma das principais lideranças da facção carioca Terceiro Comando Puro (TCP) no Estado. Foi preso no dia 12 de junho de 2024.
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Investigações contra facções criminosas
Por outro lado, a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará começou a deflagrar operações em decorrência de investigações próprias. A Unidade fortaleceu o trabalho investigativo das polícias Civil e Federal no combate às facções criminosas que atuam no Estado.
mandados de prisão ou de busca e apreensão foram cumpridos pela Ficco-CE, por ordem judicial. Foram 128 mandados de busca e apreensão e 57 mandados de prisão, cumpridos em 12 operações policiais.
As investigações da Força Integrada também resultaram na apreensão de R$ 20 milhões em valores e bens. "É uma das diretrizes da Polícia Federal, que integra e supervisiona a Ficco, de direcionar a atenção à descapitalização dessas organizações criminosas. A gente entende que, se retirar esse ativo, promove um enfraquecimento, muitas vezes até maior do que retirar uma apreensão de droga, que já tá na planilha financeira de eventuais perdas da organização criminosa", afirma o delegado federal Igor Conti.
Entre os bens retidos pelas investigações, estão imóveis luxuosos, veículos de alto padrão e joias, comprados com o dinheiro proveniente de atividades ilícitas do crime organizado. "A organização não tá preparada para você fazer uma retirada do patrimônio que ela adquiriu com 300 outras apreensões (de ilícitos) que não foram feitas. É como se você pudesse resgatar o que não se fez no passado", compara o investigador.
Uma das principais operações deflagradas pela Ficco em 2024 foi a 'Primma Migratio', no dia 24 de abril. O alvo foi um braço financeiro da facção paulista PCC, acusado de lavagem de dinheiro no Ceará com o jogo do bicho. Familiares do número 1 da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o 'Marcola', e policiais militares foram presos. A organização criminosa teria movimentado R$ 300 milhões, em uma década, no Estado.
Já a Operação Extramuros, deflagrada no dia 5 de maio do ano passado, prendeu o principal líder da facção cearense Massa Carcerária, quando ele se encaminhava para tentar obter o passaporte, em um shopping de Fortaleza. Ele é suspeito de comandar o tráfico de drogas da facção e de ter contatos na Bolívia, para importar entorpecentes para o Ceará. Nos dias seguintes, a Ficco prendeu dois médicos e um advogado suspeitos de integrar o esquema criminoso, que teria movimentado R$ 33 milhões.
A Força Integrada também colaborou com as outras Forças de Segurança no combate a crimes eleitorais no Ceará, nas eleições municipais de 2024. Levantamentos realizados pelos investigadores chegaram a uma suposta organização criminosa, com a participação de prefeitos, candidatos a prefeituras, um deputado federal e empresários. O processo contra o parlamentar tramita sob sigilo de Justiça, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Igor Conti revela que a Ficco tem o objetivo de realizar, em 2025, mais operações voltadas a estancar a criminalidade em regiões específicas do Ceará. Em 2024, a Operação Vale Blindado atacou o aumento de homicídios na Região do Vale do Jaguaribe e a instalação da facção carioca Terceiro Comando Puro (TCP). Nos primeiros dias do ano atual, a Operação levou à prisão de um homem que pretendia trazer 1,3 tonelada de maconha de São Paulo para o Ceará.