Com chefes de facções e foragidos no alvo, Força Integrada no Ceará realiza 127 prisões em 7 meses

Investigações da Ficco desarticularam a alta cúpula de duas facções criminosas que atuavam no Ceará, neste ano

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Ficco reúne policiais federais, militares, civis e penais no mesmo espaço físico, em Fortaleza
Legenda: Ficco reúne policiais federais, militares, civis e penais no mesmo espaço físico, em Fortaleza
Foto: Reprodução

Em apenas 7 meses de funcionamento, a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Ficco) realizou 127 prisões - entre operações e ações individuais. Os principais alvos do conglomerado de Forças de Segurança são chefes de facções criminosas e foragidos da Justiça - principalmente aqueles que tenham cometido crimes há mais tempo, que pareciam ter "caído no esquecimento" da Polícia. O Órgão também colaborou a recaptura dos fugitivos do Presídio Federal de Mossoró.

A Ficco é composta pela Polícia Federal (PF), Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), Polícia Militar do Ceará (PMCE), Polícia Civil do Ceará (PCCE), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), Perícia Forense do Ceará (Pefoce) e Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização do Ceará (SAP). Agentes das diferentes Forças trabalham juntos, em um mesmo espaço físico, na Superintendência Regional da PF no Ceará.

"A gente entende que a Ficco é uma instituição nova, composta por diversos integrantes, que se propõe a fazer um trabalho novo: de combate sistemático às organizações criminosas violentas. A gente tem linhas específicas de trabalho, e uma delas é a captura de foragidos", pontua o coordenador da Força Integrada no Ceará e delegado da Polícia Federal, Igor Conti.

Desde a criação da Ficco, com a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica entre a União e o Estado do Ceará, no dia 27 de outubro do ano passado, o Órgão realizou 127 prisões. Somente neste ano de 2024 (em cinco meses incompletos), foram 79 detenções - sendo 44 foragidos e 35 alvos de operações. Em pouco mais de dois meses de 2023, foram mais 48 capturas.

A Ficco substituiu a Força Tarefa SUSP (do Sistema Único de Segurança Pública), que já reunia órgãos federais e estaduais e que tinha como principal foco o cumprimento de mandados de prisão. "Foi uma mudança de nomenclatura e trouxe novos integrantes para a própria Ficco. A Ficco, agora, existe em todos os estados", explica Conti.

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Combate às facções criminosas

A maior estruturação do conglomerado de Forças de Segurança permitiu o avanço em investigações policiais próprias da Ficco, paralelas ao cumprimento de mandados de prisão em aberto. Das quatro operações deflagradas em 2024, duas ações se destacaram por combater a alta cúpula de facções criminosas que atuavam no Ceará.

A Operação Primma Migratio, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará no último dia 24 de abril, desestruturou um braço da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) envolvida com jogo do bicho, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e tráfico de armas no Ceará.

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suspeitos foram presos preventivamente na Operação. Entre eles, familiares de Marcos Willians Herbas Camacho, o 'Marcola' - número 1 do PCC - e dois policiais militares do Ceará. A organização criminosa teria movimentado R$ 300 milhões, em uma década, no Estado.

"A 'Primma Migratio' foi um grande desafio, uma investigação que nasceu justamente da cooperação de diversos atores que representam a Ficco. Nasceu, em um primeiro momento, de informações coletadas por policiais civis e militares, que ficam mais nas ruas, e de policiais penais. Ter vários componentes dentro da Ficco facilita bastante esse cruzamento de dados e confirmação de informações", considera o delegado federal Igor Conti.

Já a Operação Extramuros prendeu o principal líder da facção cearense Massa Carcerária, quando ele se encaminhava para tentar obter o passaporte, em um shopping de Fortaleza, no dia 5 de abril deste ano. Ele comandava o tráfico de drogas da facção e tinha contatos na Bolívia, para trazer entorpecentes.

Na sequência da Operação, nos dias seguintes, a Ficco prendeu dois médicos, um advogado e mais seis suspeitos de participar da lavagem de dinheiro da facção cearense. A organização criminosa teria movimentado ao menos R$ 33 milhões em 41 contas bancárias, que foram bloqueadas pela Justiça.

Captura de foragidos antigos

A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará também tem como alvos foragidos da Justiça - principalmente aqueles que cometeram crimes há bastante tempo ou estão com mandados de prisão em aberto há muitos anos.

Foi assim que o ex-policial civil Luiz Gonzaga Oliveira Filho, de 64 anos, foi preso no Bairro de Fátima, em Fortaleza, na última quarta-feira (8). Ele foi condenado a 12 anos de prisão por matar um homem em uma discussão de trânsito, em março de 2000, mas recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Depois de 24 anos, o processo transitou em julgado, e um novo mandado de prisão foi expedido contra o réu.

A Ficco também localizou Evaldo Batista Ferreira, conhecido como 'Evaldo Coragem', de 59 anos, apontado como líder do PCC na Região Norte do Ceará, que esteve na Lista de Mais Procurados da polícia cearense. O suspeito, que teria reagido à ação policial, foi baleado e morto, no Município de Juazeiro, na Bahia, em 18 de janeiro deste ano. Ele era um dos 'Irmãos Coragem' - como ficaram conhecidos três irmãos acusados de vários crimes, como homicídios, roubos a bancos, tráfico de drogas e ataques a agentes de segurança.

Coordenador da Ficco, o delegado Igor Conti pontua que há quem entenda a busca por foragidos mais antigos não é uma atividade tão relevante para a Polícia. "Eu já penso o contrário. Você trabalhar a captura de foragidos enfraquece o fenômeno da impunidade. Muitas vezes, o indivíduo é investigado, condenado, e não é preso, porque ele se manteve escondido, alheio às forças policiais, ou mudou de estado, o que rompe a linha de buscas. Quando a gente de fato pune, vai atrás de foragidos de repercussão, lideranças, a gente passa um recado pedagógico para a população", opina.

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