Chefe da facção GDE se apresentava como PM em Fortaleza e usava farda e carteira funcional
O falso policial militar transitava 'em determinados ambientes sociais e institucionais sem levantar suspeitas', segundo o Ministério Público do Ceará
Um chefe da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) se "camuflava" para se aproximar da Polícia Militar do Ceará (PMCE) em Fortaleza. Segundo o Ministério Público do Ceará (MPCE), William de Oliveira Silva, o 'Cego' ou 'Ceguinho', se apresentava como policial militar e usava até a farda e a carteira funcional da Corporação.
Em uma representação de mandados contra 29 membros da GDE, o MPCE destacou que 'Cego' é um líder da facção no bairro Piedade, em Fortaleza, "sendo responsável por coordenar ações criminosas como tráfico de entorpecentes, fornecimento de armas, planejamento de homicídios e estratégias de evasão frente à atuação das forças de segurança pública".
Ao ser preso em novembro do ano passado, William foi flagrado na posse de uma pistola calibre Ponto 40, com numeração suprimida, e um documento funcional falsificado da Polícia Militar do Ceará, com os dados pessoais dele.
Imagens localizadas no aparelho celular demonstram o representado trajando uniforme completo da corporação militar estadual, aparentando exercer função policial, o que lhe permitia transitar em determinados ambientes sociais e institucionais sem levantar suspeitas, inclusive mantendo contato com verdadeiros agentes públicos, os quais, em tese, acreditavam se tratar de um policial em formação."
Em um áudio obtido pelo Ministério Público, 'Cego' deu ordens a um subordinado, por uma rede social, para dividir as funções dos integrantes da organização criminosa.
"Macho, faz logo uma lista aí, uma lista dos caba que rouba, esse aqui é 33 (referindo-se ao artigo de tráfico de drogas), esse aqui mata, tá entendendo? Nós tem que ter a equipe dos ladrão, dos que mata, dos que tem a bocada, dos que vende. É assim que se era o crime organizado (...) pra meter um fortalecimento mesmo legal, tem que dividir", orientou o chefe da GDE.
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Alvo de operação há um mês
Mesmo preso, William de Oliveira Silva foi alvo de um novo mandado de prisão e de mandado de busca e apreensão, na Operação Refratária, deflagrada pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) no último dia 11 de julho.
mandados foram cumpridos por policiais civis contra a facção Guardiões do Estado, na Operação - sendo 11 mandados de prisão e 70 mandados de busca e apreensão.
'Ceguinho' e Carlos André de Almeida Bandeira, o 'Jacaré', foram presos, em novembro do ano passado, pela morte de Thiago Barbosa Feitosa, o 'Xilito'. O crime aconteceu no bairro Joaquim Távora, em Fortaleza, no dia 2 de outubro de 2024.
A dupla foi denunciada pelo Ministério Público do Ceará por homicídio qualificado - por motivação torpe - em fevereiro deste ano. A 5ª Vara do Júri recebeu a denúncia, e os dois homens viraram réus no processo criminal.
Conforme a denúncia, 'Xilito' era comparsa dos acusados na facção GDE. "Em decorrência do uso indiscriminado de crack e por apresentar outros comportamentos tidos como inadequados à facção, o denunciado William, v. 'Ceguinho' determinou que Carlos André , v. 'Jacaré' executasse (assassinasse) a vítima Thiago, v. 'Xilito'", afirmou o MPCE.
'Xilito' estava no seu ponto de comercialização de drogas, quando foi surpreendido por André, armado. William teria tranquilizado André "sobre eventuais questionamentos que sejam levantados por moradores a respeito da morte da vítima".
'Ceguinho' se denominava, com os comparsas, como "o homem que decide as coisas". "E outra coisa, se alguém vier falar, meu filho, rapaz tu diz: quem decide as coisas ai não é eu não, quem decide as coisas aí é o homem aí, entendeu? Se foi feito, foi feito da parte do homem aí, pronto. E mataram, tá entendendo? Acabou. Vamo para frente", orientou o chefe da facção, em mensagem obtida pelos investigadores.
As defesas dos investigados citados nesta matéria não foram localizadas para comentar as acusações contra eles. O espaço segue aberto para futuras manifestações.