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O que está em jogo na terceira visita de Lula ao Ceará em seis meses

Presidente participa de agendas voltadas à Educação e à moradia nesta quinta-feira (20), em Fortaleza

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Lula no Ceará
Legenda: O presidente Lula visita o Ceará pela terceira vez em 2024
Foto: Thiago Gadelha

As visitas do presidente Lula (PT) ao Ceará em 2024 seguiram linha semelhante: o anúncio ou a entrega de obras nos municípios do Estado. Nesta quinta-feira (20), ele desembarca em Fortaleza para agendas com foco em Educação e Habitação. Essa será a segunda visita à capital cearense apenas neste ano e a terceira ao Ceará — em abril, ele esteve em Iguatu. 

Desde a posse na presidência da República, em janeiro de 2023, essa será a quinta vez que Lula vem ao Ceará. Em apenas uma delas, o foco não foi a realização de obras — ele participou, em setembro do ano passado, da celebração dos 25 anos de CrediAmigo e de 18 anos de AgroAmigo, ambos vinculados ao Banco do Nordeste. 

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Contudo, em um ano eleitoral, o foco na realização e entrega de obras ganha outros contornos. O PT tem como foco ampliar o número de prefeituras no Ceará. Agora, o partido conta com 45 prefeitos em municípios cearenses. Em outubro, a legenda deve ter candidato próprio em, pelo menos, 90 cidades e quer aumentar o número de prefeitos eleitos

Cidades como Fortaleza, Juazeiro do Norte e Caucaia têm pré-candidaturas do PT indicadas — Evandro Leitão (PT), Fernando Santana (PT) e Waldemir Catanho (PT) devem concorrer ao cargo em outubro, respectivamente. 

A visita, no entanto, não deve ter apenas contornos eleitorais. No Palácio da Abolição, Lula vai realizar uma série de anúncios para a Educação Superior, justamente a área do governo federal — sob comando do cearense Camilo Santana (PT) — que tem enfrentado problemas. Professores e servidores de instituições de ensino superior completaram dois meses de greve. 

No Ceará, o Governo Elmano de Freitas (PT) também enfrenta movimentos grevistas nas universidades. Tanto a nível federal como estadual, as negociações não têm avançado, e os profissionais recusaram as propostas feitas. Ao lado de Camilo e Elmano, Lula deve anunciar a construção de novos Institutos Federais (IFs), hospitais universitários, cursos, laboratórios e restaurantes universitários.

'Desvio de foco'

"O mais interessante dessa visita talvez seja como será que os aliados do presidente que, nesse momento, estão em um flanco mais problemático poderão fazer uso desse tipo de estratégia. (...) Especialmente a maior liderança vinculada ao presidente Lula no Ceará, o ministro da Educação, que hoje enfrenta uma greve enorme na Educação", pontua a coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC), Monalisa Soares.

O ministro Camilo Santana disse, na última sexta-feira (14), que considera que este é "o momento de encerrar essa greve". A declaração foi feita durante lançamento de editais para a construção de mais 38 escolas de Ensino Médio em Tempo Integral no Ceará, no Palácio da Abolição.

"Greve só acontece quando não há diálogo. Os servidores públicos federais passaram 6 anos com reajuste zero. No primeiro ano do Governo Lula, ele dá [reajuste de] 9%, o dobro da inflação, e abre todas as mesas de negociação", argumenta. "Após essas negociações, nunca, em nenhum governo, se fez uma proposta como se fez agora, tanto para docentes como TAEs (servidores técnicos administrativos)", disse o ministro. 

"A vinda do Lula aqui nesse momento tem também a ver, certamente, com agendas que se expressam no Ceará, mas impactam nacionalmente", pontua o professor das Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA), Marcos Paulo Campos, citando os movimentos grevistas no Ensino Superior. 

Monalisa Soares aponta que a agenda positiva ligada ao tema pode ser um 'desvio de foco'. "É como se eles tivessem tirando do foco um termo central que é um tema que interliga, digamos assim, o discurso do governo federal, a maior liderança do Governo no Estado, que é o ministro Camilo Santana, e a própria situação do governador", cita ela, em referência aos movimentos grevistas.

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"E dá, em alguma medida, uma resposta. Eles anunciam investimentos na área da Educação, nos campi, quase como uma resposta para dar, mas dentro de um bojo que seria maior. Então, se dá uma resposta, mas não se trata o tema diretamente, que seria um tema inevitável", completa a professora. 

Campos argumenta, no entanto, que a visita de Lula ao Ceará "pode estar também relacionada a um aprofundamento ou a um reforço da importância do diálogo entre Estado e movimentos grevistas dos professores universitários do Ceará e do Brasil na tentativa de, pelo diálogo, pela negociação, pelas mesas de negociação, obter o encerramento das greves".

"Aqui mesmo, no Ceará, o governador Elmano fez declarações que foram muito mal recebidas pela categoria dos professores universitários, mas depois encaminhou um conjunto de indicativos e negociações na tentativa de sinalizar ao movimento algumas conquistas e permitir o encerramento do movimento. A mesma coisa em nível nacional. O Camilo Santana e a ministra Esther Dweck apresentaram propostas, mas recentemente reclamaram um pouco da demora do movimento nacional em ser encerrado. Mas, de uma forma geral, há uma expectativa de que esses processos se encerrem pela negociação", detalha.

Fortaleza como prioridade eleitoral

Líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT) negou que deva existir, durante a visita do presidente no Ceará, quaisquer discussões eleitorais. "Ele não vai tratar de eleições", garantiu o deputado federal. 

Isso não significa, contudo, que não será possível perceber movimentos eleitorais ao longo das agendas presidenciais. Pré-candidatos a prefeito devem participar dos eventos e aproveitar a proximidade para tentar vincular a própria imagem à de Lula. 

"Os candidatos petistas vão sempre aproveitar a visibilidade que uma visita do Lula oferece para demonstrarem o seu vínculo, fazerem uma aproximação com o capital político que o Lula mobiliza e fazer um sinal para suas bases eleitorais", afirma Marcos Paulo Campos.

Cientista político, Cleyton Monte concorda e ressalta ainda que o presidente Lula é "um influenciador eleitoral muito importante". "Então, óbvio que os aliados, os pré-candidatos a prefeito e pré-candidatos a vereadores vão querer colar a imagem em quem tem uma posição política muito boa", argumenta. 

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O anúncio de novos investimentos e a entrega de obras finalizadas — que são mais "visíveis" e para o eleitorado, como aponta Monalisa Soares — não são incomuns entre gestores públicos. "Essa é uma característica comum das lideranças, nos períodos eleitorais, buscarem dar ênfase a essa dimensão mais material das entregas. Então, as obras servem muito para isso, principalmente com maior magnitude", explica. 

"E a expectativa é de que o palanque, os anúncios que ocorrerão no Palácio da Abolição, permitam, em alguma medida, essa possibilidade da interação do presidente Lula com esses candidatos já muito postulados. Nem que seja do ponto de vista das fotografias, do conjunto de material que pode ser mobilizado já nas redes sociais para ir intensificando essa vinculação", completa Soares. 

Essa estratégia deve ter especial destaque em Fortaleza, onde o pré-candidato à Prefeitura, Evandro Leitão, é também presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). "Então, ele tem uma posição institucional nessa visita", lembra Monte. Em agendas presidenciais anteriores, Evandro foi uma das autoridades a ficar no palco do evento.

Para o PT, existe ainda uma "importância estratégica" da eleição para a Prefeitura de Fortaleza. "Vale lembrar que o PT não disputa as principais capitais ou, quando disputa, disputa de uma forma muito inexpressiva. Então, Fortaleza é estratégica para o PT, para o movimento de fortalecer o PT agora e fortalecer o PT também em 2026. E o Lula sabe disso", completa o cientista político. 

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Prestígio dos aliados políticos no Ceará

Em 2024, essa será a terceira visita de Lula ao Ceará — ultrapassando o número de agendas presidenciais no Estado em todo o ano de 2023. 

A recorrência das visitas do presidente ao Ceará revelam, na avaliação dos especialistas entrevistados pelo Diário do Nordeste, o prestígio de lideranças políticas cearenses, com destaque para o ministro Camilo Santana. 

O resultado eleitoral que Lula teve no Ceará em 2022 e a importância estratégica de cidades cearenses nas eleições de 2024 também são fatores que influenciam, segundo eles. 

"O Ceará é o segundo estado do País onde o Lula mais teve percentual e está entre os quatro estados do país em que o Lula teve uma votação acima de 65% do eleitorado no segundo turno de 2022. Então, ele vir ao Ceará, estado de um governador aliado, para apresentar aqui os seus feitos é uma oportunidade que está sempre em vista", explica Marcos Paulo Campos.

Além disso, continua o professor, "uma das agendas mais importantes do seu governo está confiada a um cearense, que é o maior líder político do Estado nesse momento, o Camilo Santana". "Então, ele vir aqui é vir numa zona confortável", ressalta.

A avaliação é semelhante à feita por Cleyton Monte. "Entre os seus ministros mais importantes está o ministro Camilo Santana, que é um ministro sempre muito bem contemplado nas falas, nas ações e no governo Lula", elenca. 

"Tem essa dimensão de prestígio, não só do ministro Camilo Santana, como a maior liderança e ministro próximo, trazer o presidente Lula. Ele é o mais significativo, mas também o líder do Governo é do Ceará. Então, isso mostra um prestígio dessas lideranças", completa Monalisa Soares. 

*Com informações de Alessandra Castro. 

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