Humor, ironia e trends: a disputa de pré-candidatos à presidência pelo eleitorado jovem do TikTok
O Brasil é o segundo país do mundo que mais usa a plataforma, e 66% do público dela tem menos de 30 anos de idade
Dos cinco pré-candidatos à presidência que estão à frente nas pesquisas de intenção de voto, só dois estão no TikTok: Jair Bolsonaro (PL), que deve pleitear a reeleição, e Ciro Gomes (PDT), que se posiciona como alternativa a Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT), os mais fortes na disputa até então.
Foram buscados perfis oficiais dos pré-candidatos Jair Bolsonaro (PL), Lula (PT), Sérgio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e João Dória (PSDB).
O TikTok é uma plataforma digital que, mesmo ainda pouco popular no Brasil à época, teve uma importante repercussão nas eleições municipais de 2020, quando políticos aproveitaram a ferramenta para se "humanizar" diante do eleitorado jovem da internet.
Desde então, o aplicativo cresce exponencialmente e se mostra uma potente ferramenta de marketing digital — e político. “O Brasil é o segundo país que mais usa o TikTok no mundo, atrás apenas da China, país de origem da empresa que controla o aplicativo”, dimensiona a jornalista Ana Clara Dias, especialista em marketing político digital.
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Além de Ana Clara, outros dois especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste para esta reportagem afirmam que o TikTok se sobressai diante de redes sociais como Instagram e Facebook, por exemplo, pelo alcance das suas publicações e pela faixa etária que mais atinge.
Dos usuários cadastrados atualmente na plataforma, 66% têm menos de 30 anos de idade. O TikTok tanto é o mais consumido por jovens como, também, é onde eles mais produzem conteúdo. Um levantamento da agência weCreate feito em 2021 e publicado pela Shopify mostrou que só 4,76% dos criadores de conteúdo no TikTok têm mais de 35 anos de idade.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já firmou parceria com as empresas que lideram o WhatsApp e o TikTok para minimizar problemas nas eleições de 2022. À última plataforma, caberá bloquear perfis que compartilharem notícias falsas e responsabilizar seus criadores.
“O TikTok é uma ferramenta com algoritmo diferente do Facebook e do Instagram. O mesmo conteúdo que você postou três meses atrás continua aparecendo para as pessoas. Na campanha eleitoral, vai ser muito usado porque eles (políticos) querem expandir, mostrar que estão acompanhando a modernidade, se atualizando na forma de fazer marketing. A gente está vendo isso cada vez mais forte. E ia chegar o momento do TikTok. É onde os jovens estão”, observa a analista de mídias sociais e influenciadora digital Carla Sabrina Silveira.
Ainda sobre o algoritmo do aplicativo, o consultor e especialista em marketing político digital, Alexsandro Santos, exemplifica que “muitas pessoas reclamam que os vídeos que vão para o Reels, para os Stories ou para o Feed do Instagram não têm tanto impacto, já quando colocam no TikTok tem um poder maior de se espalhar”.
Bolsonaro e Ciro
Por ser, hoje, a principal autoridade do País e ter mais alcance em todas as redes sociais, Bolsonaro sai à frente de Ciro em número de seguidores (750,5 mil) e curtidas (5,7 milhões) no TikTok, ainda que tenha chegado à plataforma um mês depois dele. Até a última sexta-feira (11), o pedetista acumulava apenas 57,6 mil seguidores e 255,2 mil curtidas no aplicativo.
O perfil do presidente mescla pronunciamentos com fundo musical dramático, ataques à imprensa e a adversários políticos, religião, humor e rotina, conteúdos geralmente apreciados pelo seu público. No entanto, os vídeos são apresentados numa roupagem mais séria, sisuda, sem dinâmica e diálogo efetivo, ainda muito distantes do que propõe a plataforma.
Ciro Gomes, por sua vez, aposta em tendências que surgem dentro do aplicativo e em “reações” ao que seus adversários políticos declaram — formato que tenta se aproximar do que é feito, por exemplo, pelo streamer Casimiro Miguel, que é fenômeno nacional. Porém, a maior parte do conteúdo de Ciro é de entrevistas ou falas longas sobre assuntos espinhosos como teto de gastos e privatização.
“Vejo o movimento dos pré-candidatos (no TikTok) como positivo. Estão buscando o público mais jovem, que consome esse tipo de conteúdo mais viral, mais engajado. É interessante atingir esse pessoal. O conteúdo é que vejo ainda um pouco travado, sisudo. No TikTok, tem que ser um conteúdo pensado para as pessoas, para os jovens, e os jovens são dinâmicos”, analisa Alexsandro Santos.
“Ciro e Bolsonaro divulgam conteúdos com teor político, ironias, críticas a adversários, trechos de entrevistas e posicionamentos. Poucos (são os) conteúdos leves, que são predominantes no TikTok. Porém, ambos têm seguidores consideráveis e (isso) pode ser interessante para eles. A equipe precisa avaliar os resultados, as métricas e o engajamento”, opina Ana Clara Dias.
Saber usar a plataforma
Para Ana Clara, um político não precisa estar em todas as redes sociais. “É preciso estar nas mais estratégicas para ele”, diferencia. Além disso, continua, “cada canal tem um público, um formato de conteúdo, um estilo de mensagem, e os políticos precisam se adequar a isso”.
Sem entender as plataformas, os pré-candidatos subaproveitam sua presença digital e correm o risco até de frustrar a tentativa de aproximação com o eleitorado jovem.
“Por ser uma plataforma mais suave, divertida, (os políticos) vão acabar pegando muitas trends do momento para mostrar que são gente como a gente. Vão tentar trazer para mais perto o dia a dia deles como candidatos. Acho interessante para mostrar para os jovens como é trabalhoso cuidar de uma nação”, aposta a analista de mídias sociais Carla Sabrina.
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Contudo, para que isso aconteça, é preciso vontade do pré-candidato.
“Estou disposto a produzir conteúdo de acordo com meu público e a me relacionar com a minha audiência em determinada rede social? Se a resposta for sim, vale a pena estar nela. Quanto mais presença digital, melhor. Mas rede social requer comprometimento do candidato. Assim como ele dedica tempo, trabalho e esforço para as ações de rua e offline, precisa se dedicar na internet e ter uma equipe profissional para ajudá-lo”, diz Ana Clara.
O TikTok oferece aos candidatos uma forma de se apresentar de maneira leve. “E isso é bem importante para uma campanha eleitoral porque os candidatos precisam se conectar a esse público, que é um público que não gosta de política, a verdade é essa, que não procura ver conteúdo político. Então, para se adequar (ao público), o candidato tem que ser mais humano, mais simpático, para que possa conseguir a empatia do jovem”, orienta Alexandro.