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Especialistas e investigador dizem não haver prova de fraude no sistema eleitoral em 2018

Jair Bolsonaro sustenta que um hacker poderia ter removido o registro de sua candidatura à Presidência

Escrito por Patrícia Campos Mello, Folhapress ,
voto impresso
Legenda: Bolsonaro alega que o código-fonte esteve nas mãos de um hacker, que pode ter fraudado o último pleito
Foto: Mauro Pimentel/AFP

O inquérito da suposta invasão ao sistema eleitoral, citado pelo presidente Jair Bolsonaro na noite dessa quarta-feira (4), já havia sido obtido pela Folha de S.Paulo na semana passada. Especialistas e uma pessoa envolvida na investigação ouvidas pela reportagem foram unânimes: o inquérito não conclui que houve fraude no pleito de 2018 ou adulteração dos resultados. 

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O caso da invasão, em módulos que não alteram a votação em si, já tinha sido revelado em reportagem no site Tecmundo em novembro de 2018.

A partir disso, foi instaurado ainda naquele ano um inquérito sigiloso pela Polícia Federal, que foi obtido pelo deputado Filipe Barros (PSL-PR), relator da PEC do voto impresso na Câmara.

O que alega Bolsonaro

Na entrevista à Jovem Pan, nessa quarta-feira,  Bolsonaro afirmou que o código-fonte esteve nas mãos de um hacker e, por isso, a eleição de 2018 pode ter sido fraudada. "Quando tivemos eleições em que o código-fonte esteve na mão de um hacker, pode ter acontecido tudo, [o eleitor] aperta 17 e sai nulo", disse.

Essa tese é rebatida por Diego Aranha, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Aarhus (Dinamarca), um dos maiores especialistas em segurança digital. Aranha é crítico das vulnerabilidades do sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e defende o comprovante impresso, mas não já para a próxima eleição.

"É naturalmente falso o argumento de que a posse do código-fonte é suficiente para provocar fraude. Se fosse o caso, os fiscais de partidos políticos que possuem acesso ao código-fonte nas dependências do TSE estariam fraudando eleições a torto e a direito desde o princípio, o que não é nada razoável de se assumir", disse Aranha, que também teve acesso ao inquérito.

Investigação

O inquérito foi instaurado em 8 de novembro de 2018 a partir de reportagem do jornalista Felipe Payão, publicada no site Tecmundo. Na época, Payão revelou comunicações de um hacker que dizia ter invadido o sistema GEDAI.

No entanto, como a própria reportagem deixava claro, "os invasores não tiveram acesso ao módulo do sigilo do voto: isso significa que não foi possível acessar a parte do sistema que exibe os votos dos eleitores. Além disso, o código do GEDAI é 'público': após a assinatura de um termo de sigilo, partidos, Ministério Público e OAB, por exemplo, podem pedir o acesso".

Além disso, segundo atesta o professor Paulo Matias, do Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos, o inquérito não conclui que o invasor entrou e pôde modificar o código-fonte.

"E mesmo se o atacante tivesse obtido acesso de escrita ao repositório de códigos-fonte interno do TSE, o Git tem algumas salvaguardas contra modificações no repositório central de códigos: ele guarda o histórico de alterações, e não é possível alterar o histórico antigo. Então seria possível detectar se tivesse havido modificação pelo invasor", diz Matias, que defende a implementação gradual do voto impresso.

Código-fonte

Especialistas defendem que o código-fonte seja inclusive divulgado na internet, e não apenas para líderes de partidos. Assim haveria mais transparência, e a população inteira poderia acompanhar o desenvolvimento e fiscalizar para verificar se aparecem alterações estranhas. O TSE afirmou em 2017 que faria isso, mas ainda não o fez.

Bolsonaro alega que o ataque de 2018, utilizando o acesso à chave do GEDAI-EU, poderia ter removido o registro de sua candidatura à Presidência, e uma seção atacada jamais aceitaria como voto válido o 17 -número do PSL, partido pelo qual concorria. Matias diz que essa mudança, se tivesse ocorrido, teria sido facilmente encontrada pelos peritos da PF nas urnas periciadas após a eleição.

Segundo um participante da investigação, a Polícia Federal não chegou a resultados conclusivos no inquérito, ao contrário do que afirmaram Bolsonaro e o deputado na entrevista desta quarta-feira. O principal motivo, segundo essa pessoa, é porque o TSE não disponibilizou os logs (registros) da época.

O próprio especialista que participou da entrevista ao lado de Bolsonaro, Mario Gazziro, da Universidade Federal do ABC, afirmou que "muito são conjecturas, e que não é possível comprovar porque não há logs".

Bolsonaro afirma que o próprio TSE apagou os logs e "cometeu um crime".

No inquérito, o TSE explica que uma empresa terceirizada era a responsável pelos logs. E , segundo o texto, os logs foram apagados porque o disco de armazenamento, gerenciado por uma empresa terceirizada, lotou -o que gerava a apagamento automático após atingir a capacidade de 80 GB. Segundo especialistas, isso é normal, e todo sistema funciona assim.

Tampouco há admissão pelo TSE no inquérito de fraudes, como disse Bolsonaro. A investigação descreve etapas onde se verificou que não houve alteração indevida de sistemas críticos que fazem parte do ecossistema da urna.

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