Erika Hilton recebe visto dos EUA com gênero masculino e diz que acionará a ONU para tratar do caso

Segundo a deputada, o episódio não se resume a uma manifestação de transfobia individual, mas configura uma afronta direta à legalidade dos seus documentos reconhecidos oficialmente no Brasil

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Redação producaodiario@svm.com.br
Imagem da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que teve seu visto para os Estados Unidos alterado para o gênero masculino. A deputada, que na imagem está na tribuna da Câmara dos Deputados, diz que acionar a ONU para tratar do assunto.
Legenda: Apesar de já ter tido um visto com gênero feminino em 2023 e apresentado documentos oficiais, Erika recebeu desta vez um visto com a designação masculina.
Foto: Reprodução / Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) teve visto emitido pelos Estados Unidos com a identificação de gênero masculino, contrariando seus documentos oficiais brasileiros. Ela classificou o caso como um ato de transfobia e anunciou que irá denunciar o país na Organização das Nações Unidas (ONU), por considerar a situação uma violação dos seus registros civis. A informação foi dada pelo jornal Folha de S. Paulo e confirmada pela deputada nas redes sociais.

Em 2023, Erika já havia obtido um visto norte-americano no qual constava o gênero feminino. Desta vez, no entanto, apesar de ter apresentado sua certidão de nascimento e passaporte diplomático — ambos com registro feminino —, o novo documento foi emitido com a designação masculina.

Além disso, Erika afirma que, durante o processo para obtenção do novo visto, não preencheu nenhum formulário que justificasse a alteração do gênero em seu documento.

Até a manhã desta quarta-feira (16), a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil não se pronunciou sobre o caso.

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Segundo a deputada afirmou à Folha, o episódio não se resume a uma manifestação de transfobia individual, mas configura uma afronta direta à legalidade dos seus documentos reconhecidos oficialmente no Brasil. Ela afirma que irá tomar medidas legais internacionais contra o governo do presidente Donald Trump e exigirá esclarecimentos formais do embaixador norte-americano por meio do Itamaraty.

Também ao jornal, Erika relata ter se sentido violada e desrespeitada, destacando que o erro representa também um ataque à soberania brasileira. Para ela, a decisão reflete a visão transfóbica de uma liderança que, segundo suas palavras, ignora direitos fundamentais e atua como se estivesse acima das normas internacionais.

Nas redes sociais, a deputada afirmou que a atitude do governo estadunidense, no entanto, não a surpreende. "Isso já está acontecendo nos documentos de pessoas trans nos EUA faz algumas semanas. Não me surpreende também o nível de ódio e fixação dessa gente com pessoas trans", escreveu ela na postagem.

VIAGEM MARCADA

A parlamentar estava com viagem marcada aos Estados Unidos no último sábado (12), para ser palestrante de um painel na Brazil Conference — evento organizado por estudantes brasileiros da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT. A missão havia sido autorizada oficialmente pela presidência da Câmara dos Deputados.

No entanto, diante da situação, ela decidiu cancelar sua participação por temer o tratamento que poderia receber ao desembarcar em território americano. 

MUDANÇAS NO GOVERNO NORTE-AMERICANO

A mudança nas diretrizes norte-americanas em relação ao reconhecimento de identidades de gênero tem sido marcada por medidas controversas desde o retorno de Donald Trump ao poder.

Em janeiro deste ano, ele assinou uma ordem executiva que limita a classificação de gênero a apenas "masculino" ou "feminino" em formulários governamentais, eliminando referências à identidade de gênero. Além disso, o governo suspendeu a emissão de passaportes com marcação “X”, voltados a pessoas não binárias — política implementada durante a gestão de Joe Biden.

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