Às vésperas dos 300 anos de Fortaleza, Praça do Ferreira é um retrato do abandono

Prefeitura tem o desafio de entregar a praça, um dos ícones da Cidade, antes do tricentenário

Escrito por
Inácio Aguiar inacio.aguiar@svm.com.br
Legenda: Ícone da Capital, Praça do Ferreira sofre há anos com o descaso do poder público
Foto: Kid Júnior

Ícone cultural, ponto de encontro histórico e um dos cartões-postais de Fortaleza, a Praça do Ferreira, localizada no coração do Centro, vive hoje um retrato do abandono. Suja, mal iluminada, com a fonte central quebrada e bancos destruídos, o espaço público reflete não apenas um problema de conservação, mas uma desordem urbana que simboliza o descaso do poder público com a região central da capital cearense.

A situação atual é agravada pela ocupação — que parece crônica e crescente — de pessoas em situação de rua. A desordem somada à falta de manutenção desencadeia um ambiente de insegurança, retração econômica e empobrecimento estético e cultural da cidade.

Às vésperas do aniversário de 300 anos de Fortaleza, a Prefeitura tem o desafio — e a responsabilidade — de recuperar esse patrimônio da cidade e dar início a um processo de requalificação do Centro, historicamente prometido, mas nunca cumprido.

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A praça na história

O surgimento da Praça do Ferreira remonta ao ano de 1829, quando ainda era conhecida como “Praça das Trincheiras”. Posteriormente, em 1871, o logradouro passou a homenagear o tenente-coronel Antônio Rodrigues Ferreira, o “Boticário Ferreira”, um dos mais destacados políticos e farmacêuticos de sua época. Nascido em Niterói, em 1801, chegou a Fortaleza em 1825 e foi prefeito da cidade por dois mandatos.

Desde então, a praça se tornou um dos ícones de Fortaleza, passando por diversas reformas — sendo a última delas na gestão do então prefeito Juraci Magalhães, em 1991. Já se vão 34 anos.

Centro no Plano Diretor

O debate sobre a Praça do Ferreira faz parte de uma agenda maior de requalificação do Centro. E o tema ganha ainda mais relevância no momento em que a cidade discute o novo Plano Diretor. Desatualizado desde 2019, o instrumento urbanístico surge como uma oportunidade estratégica para reverter esse cenário. A revisão deveria colocar o Centro como prioridade, com diretrizes específicas de revitalização, estímulo à habitação, qualificação do transporte público e incentivo ao crescimento econômico sustentável.

A vitalidade de uma cidade está diretamente ligada à força do seu centro histórico. Para Fortaleza, resgatar a Praça do Ferreira e o entorno significaria reequilibrar o desenvolvimento urbano, que há décadas se concentra em outras regiões.

A responsabilidade de Evandro Leitão

Recém-chegado à Prefeitura da Capital — cuja sede está localizada exatamente no Centro — o prefeito Evandro Leitão (PT) recebeu uma região com um acúmulo de problemas. No entanto, ele tem agora uma oportunidade de promover uma mudança estruturada.

Herdeiro de um legado urbano que cuida de soluções rigorosas, Leitão já tem em mãos o projeto de reforma entregue pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que pode se tornar referência para a cidade.

Dar início a um plano robusto de revitalização do Centro — começando pela Praça do Ferreira — pode não apenas resgatar um espaço de memória afetiva para os fortalezenses, mas também reposicionar o Centro como polo de habitação, lazer, cultura e negócios. Há uma dívida histórica com essa região da cidade.