Legislativo Judiciário Executivo

Com voto de Zanin, STF condena Bolsonaro e outros sete réus por crimes contra a democracia

Julgamento teve 4 votos favoráveis à condenação do ex-presidente e um contrário

(Atualizado às 18:18)

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou nesta terça-feira (11) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e os outros sete réus do "núcleo crucial" da tentativa de golpe de Estado no Brasil orquestrada em 2022. O presidente do órgão colegiado, ministro Cristiano Zanin, foi o último a votar, após a ministra Cármen Lúcia, e acompanhou a maioria dos ministros e reconheceu integralmente a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Após o voto, ele detalhou seu posicionamento para cada um dos acusados e foi iniciada a dosimetria das penas

Com o voto magistrado, o placar do julgamento fica 4x1 pela condenação de todos os réus pelos cinco crimes. Antes do último voto, Primeira Turma já havia formado maioria pela condenação dos acusados. 

O único a divergir foi o ministro Luiz Fux, que, entretanto, concordou em condenar por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito o ex-ajudante de ordens do ex-presidente, tenente-coronel Mauro Cid, e o ex-ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto.

A imagem mostra o ex-presidente Jair Bolsonaro, de terno, olhando para a câmera durante interrogatório da ação penal da tentativa de golpe no STF
Legenda: O ex-presidente e seus aliados foram condenados por cinco crimes contra a democracia
Foto: Ton Molina/STF

Zanin confirma competência do STF e rejeita teses da defesa 

No início de seu voto, Zanin confirmou a competência do STF para julgar a ação penal, e também já rejeitou a tese de cerceamento de defesa. Segundo o magistrado, as defesas tiveram tempo para analisar todos os documentos e provas. 

"Aqui todos nós somos juízes, mas temos experiências diversas a partir das nossas carreiras profissionais. E eu me lembro como advogado ter trabalhado com arquivos de 80, de 80, 100 terabytes, inclusive sem a disponibilização por link ou por qualquer outro meio, mas sim sala cofre da Polícia Federal fazendo análise. Então aqui inclusive foi, a meu ver, facilitado o trabalho das defesas a partir do encaminhamento integralmente do material na forma decidida pelo eminente relator", relembrou o presidente da 1ª Turma do STF.

O relator Alexandre de Moraes pediu a palavra e reiterou que os advogados dos oito réus tiveram "total acesso" aos autos. 

Zanin também rejeitou que há suspeição de Moraes no caso: "Não há qualquer indício de parcialidade", e validou a colaboração premiada do réu Mauro Cid Barbosa

Réus pretendiam romper com o Estado Democrático de Direito 

Zanin analisou a conduta individualizada dos oito réus e concluiu que há provas suficientes nos autos para concluir que todos pretendiam romper com o Estado Democrático de Direito. 

"A estabilidade da organização, e o próprio direcionamento das ações antes e depois das eleições de 2022, revela a continuidade do projeto em torno do escopo maior da organização, que era a manutenção de grupo específico no poder, independentemente da vontade popular", indicou. 

Segundo o ministro, a responsabilização adequada é fundamental para a pacificação social e a manutenção do Estado Democrático de Direito. Os ministros colegas da 1ª Turma, Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cármen Lúcia pediram a vez e corroboraram as falas. 

Cristiano Zanin pontuou que as ações da organização criminosa se intensificaram após a eleições de 2022, quando Bolsonaro foi derrotado nas urnas. "O grupo trabalho com hipótese de recursos e medidas excepcionais", pontuou. 

Relembre quem são os réus do ‘núcleo crucial’ da trama golpista 

  1. Jair Bolsonaro: ex-presidente da República;
  2. Alexandre Ramagem: ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
  3. Almir Garnier: ex-comandante da Marinha;
  4. Anderson Torres: ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal;
  5. Augusto Heleno: ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
  6. Paulo Sérgio Nogueira: ex-ministro da Defesa;
  7. Walter Braga Netto: ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice na chapa de 2022;
  8. Mauro Cid: ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

O que está em julgamento?

O STF julga a ação penal 2668, que trata da denúncia oferecida pela PGR. São acusados 31 réus, divididos em quatro núcleos:

  • Núcleo 1: envolve oito réus, incluindo Bolsonaro, e é considerado o núcleo "central" ou "crucial" da articulação golpista.
  • Núcleo 2: conta com seis réus que são acusados de disseminar informações falsas e ataques a instituições democráticas.
  • Núcleo 3: é formado por dez réus associados a ataques ao sistema eleitoral e à preparação da ruptura institucional.
  • Núcleo 4: sete réus serão julgados por propagação de desinformação e incitação de ataques às instituições.
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