Agenda de Lula no CE teve movimento pré-eleitoral discreto e ausência de lideranças em atos públicos
Diversos pré-candidatos participaram dos eventos com o presidente do Ceará, mas Lula não comentou sobre as eleições deste ano
Seja pela chacina registrada em Viçosa do Ceará, seja pelo incêndio na Assembleia Legislativa (Alece), a terceira passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Ceará, na última quinta-feira (20), teve movimentos pré-eleitorais discretos e ausências de lideranças políticas importantes para o Estado.
Os dois eventos públicos com a participação do petista em Fortaleza focaram em agendas institucionais positivas para o mandatário. Pela manhã, Lula anunciou um pacote de investimentos de R$ 788,9 milhões em obras de Saúde e Educação para 28 cidades do Ceará. À tarde, o político entregou 416 apartamentos aos novos moradores do residencial Cidade Jardim 1, no bairro José Walter.
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Deputados estaduais e federais, além de prefeitos e pré-candidatos estreantes nos pleitos eleitorais, disputaram espaço — e fotos — ao lado do presidente. Contudo, Lula não fez qualquer menção às eleições de outubro deste ano durante a visita aos cearenses. Mesmo no caso da Capital, onde o PT oficializou como pré-candidato o presidente da Alece, Evandro Leitão, o encontro público entre o presidente da República e o chefe do Legislativo cearense foi frustrado pelo incêndio na sede do Parlamento estadual.
De olho nos pré-candidatos
Segundo interlocutores do pré-candidato, Evandro estava se dirigindo ao Palácio da Abolição quando recebeu a informação da situação emergencial e se deslocou para a Alece. Outros deputados que também estavam na sede do Governo do Ceará deixaram o evento, entre eles o vice-presidente da Casa, Fernando Santana (PT), pré-candidato a prefeito de Juazeiro do Norte.
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À tarde, quando o presidente participou do evento no bairro José Walter, os parlamentares ainda acompanhavam o trabalho de rescaldo na Alece. Evandro e Lula só tiveram um encontro à noite, durante um jantar oferecido pelo governador Elmano de Freitas (PT) ao presidente da República e a governadores do Nordeste.
O pré-candidato petista, no entanto, negou que o encontro tenha tratado de assuntos eleitorais. “Foi mais acompanhando a reunião dos governadores. Fui convidado e participei, mas não tivemos nenhuma conversa ou diálogo sobre a questão eleitoral que se avizinha”, disse em entrevista ao Diário do Nordeste.
Quem também esteve no jantar e até presenteou Lula foi o pré-candidato a prefeito de Caucaia, Waldemir Catanho (PT). Diferentemente de Evandro, ele confirmou que tratou de eleições com o presidente. “Em um município tão importante como Caucaia é importante o alinhamento e parceria entre o governo Federal e municipal”, declarou. O político ainda presenteou Lula com uma camisa do Caucaia, time da cidade.
Durante o evento no Palácio da Abolição, outro pré-candidato que recebeu muitos cumprimentos de petistas foi Roberto Pessoa (União Brasil), atual prefeito de Maracanaú que disputará a reeleição. Recentemente, o político teve o apoio do PT confirmado para as eleições no município, mesmo sob protestos do deputado estadual Júlio César Filho (PT), que tinha planos de lançar seu nome na disputa local.
“A cidade de Maracanaú, politicamente, é adulta. Ela tem 41 anos de idade, mas tem uma formação política muito sólida e não existe esse problema. Agora, quanto mais apoio melhor, voto não empanzina”, disse Pessoa ao Diário do Nordeste.
Também estiveram no Palácio da Abolição os pré-candidatos Ilo Neto (PT), de Iguatu; Professor Marcelão (PT), de São Gonçalo do Amarante; Fabiana Almeida (MDB), de Acopiara; Vitor Marques (PT), de Quixadá; Alan Macêdo (PSB), de Milhã; e Lígia Protásio (PT), de Santa Quitéria.
Ausência de aliados
Duas ausências que chamaram atenção nesta passagem de Lula pelo Ceará: a deputada federal Luizianne Lins (PT) e o senador Cid Gomes (PSB). Esta, inclusive, foi a terceira visita de Lula ao Ceará que a ex-prefeita não participou.
Em janeiro, quando o mandatário lançou a pedra fundamental do Instituto de Tecnologia e Aeronáutica (ITA), a petista não o acompanhou sob justificativa de uma suposta proibição de acesso. Em abril, quando Lula esteve em Iguatu, no Centro-Sul cearense, ela também não participou.
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A ex-prefeita foi derrotada, no fim de abril, em uma disputa interna para ser lançada como pré-candidata da sigla para a Prefeitura de Fortaleza. Ela retirou o nome minutos antes da escolha dos correligionários, confirmando a pré-candidatura de Evandro Leitão.
Procurada pela reportagem, Luizianne disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não tem justificativa para a ausência.
Já Cid, que acumula um histórico de relações conturbadas com o PT, esteve em Iguatu ao lado de Lula em abril deste ano. O senador integra a base de Lula no Congresso Nacional e é um dos principais aliados do ministro Camilo Santana (PT).
A ausência de Cid ocorre no momento em que o parlamentar tenta costurar uma vaga na chapa a ser liderada por Evandro Leitão na Capital, com destaque, nos bastidores, para os nomes da ex-secretária da Cultura Luisa Cela e da vereadora Enfermeira Ana Paula, ambas filiadas ao PSB. O espaço também é disputado pelo PSD.
Na véspera da visita de Lula ao Ceará, Cid ainda teve um bate-boca com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). O cearense acusou o petista de ter descumprido um acordo na votação do texto-base que regulamenta a produção de hidrogênio de baixo carbono no Brasil.
Papel de Camilo e Elmano no Ceará
Mesmo com a discrição ao tratar de eleições municipais, Lula reforçou o papel de liderança do ministro Camilo Santana e do governador Elmano de Freitas em diversas ocasiões nas horas em que esteve no Estado.
Ao falar do ex-governador, o petista repetiu o desafio que o impôs de superar o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já comandou o Ministério da Educação (MEC) entre 2005 e 2012. O mesmo comentou ao falar de Elmano, a quem Lula disse que espera que supere Camilo Santana na gestão do Governo do Ceará.
Na entrevista exclusiva à Verdinha FM 92,5 e ao Diário do Nordeste, o presidente falou sobre o papel do ministro cearense.
“Quando eu convidei o Camilo para ser ministro da Educação, não tinha outra razão a não ser a qualidade da educação que foi feita no Ceará, sobretudo no ensino fundamental. Não foi pelos belos olhos do Camilo, não foi pelos 80% de aprovação que ele tinha, que era 85% — ele teve mais votos do que o Putin na Rússia —, ou seja, parece que era unanimidade no estado. Eu chamei ele porque todos os indicadores, de todos os indicadores, seja de iniciativa privada ou de IBGE, provavam que o Ceará tinha conseguido fazer melhor educação no ensino fundamental”, disse durante conversa com a jornalista e editora de política Jéssica Welma.