Três anos após acordo com o Governo, o que falta para chinesa Mingyang investir no Ceará?

Empresa está de olho no mercado eólico offshore e na geração de hidrogênio e amônia verdes

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
Foto que contém eólicas offshore
Legenda: Complexo eólico offshore segue no radar da chinesa Mingyang três anos após assinatura de memorando
Foto: Divulgação

Em 10 de setembro de 2020, Larry Wang, vice-presidente da Mingyang Smart Energy, e o então governador do Ceará, Camilo Santana, assinaram memorando de entendimento (MoU) para a instalação de um complexo eólico offshore para aproveitar o potencial em alto-mar no Estado. Mais de três anos depois, no entanto, a construção do parque ainda não foi oficializada.

Segundo o secretário-executivo da Indústria da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Ceará, Joaquim Rolim, o projeto com a Mingyang está avançando em formato piloto, e o MoU entre o Governo e a empresa chinesa é válido até 2025.

Veja também

"Temos conversado com a Mingyang sobre a possibilidade de projeto-piloto de offshore, estamos avançando. Mas isso é um tema complexo, com o seu devido tempo para ser concretizado. (…) A previsão não tem ainda porque o MoU tem um prazo normalmente de cinco anos e um projeto eólico no mar também leva tempo, mas estamos avaliando as várias possibilidades porque tem outras perspectivas com a própria Mingyang também em termos de instalação de fábrica", revelou Rolim durante o Fiec Summit Hidrogênio Verde 2023.

A unidade fabril a qual o secretário se refere foi tratada pelo governador Elmano de Freitas em abril deste ano durante visita à China. Um novo acordo foi assinado com a companhia asiática para investimento e implantação do Centro de Tecnologia e Reparo de Aerogeradores no Ceará, instalação de planta-piloto de energia eólica offshore, além da produção de amônia e hidrogênio verde no Estado.

“O memorando envolve várias perspectivas e é um acordo com várias cláusulas. Na realidade ainda não tem concreta essa perspectiva (de início de obras), mas são estudos que estão sendo feitos com possibilidades futuras. São estudos bem amplos de instalação de energia no mar, possibilidade de instalação de unidade industrial, mas ainda não tem previsão de prazo. (…) Nos próximos dias estaremos avaliando o estágio no qual se encontram os projetos”, projetou Rolim.

A expectativa inicial da Mingyang no Ceará é gerar 15 MW de eletricidade offshore, de acordo com material divulgado no painel desta quinta-feira por Lauro Fiúza, presidente do Conselho do Grupo Servtec Energia e um dos fundadores Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

'Vitrine' para investimentos

Além de entraves de investimento e custo-benefício, uma vez que as eólicas onshore são ainda mais baratas e mais rápidas de serem instaladas do que os parques em alto-mar, há ainda a questão legal. A exploração das offshores para instalação dos equipamentos de geração de energia a partir dos ventos ainda não está regulamentada pelo Governo Federal.

A expectativa é de que isso aconteça até o fim de 2023. Atualmente, o projeto que autoriza o funcionamento das eólicas em alto-mar está no Congresso Nacional no mesmo documento que aprova a produção do hidrogênio verde e do mercado regulado de carbono. 

Conforme o deputado federal Danilo Forte, a promessa do presidente da Câmara, Arthur Lira, é de que o Congresso faça, em novembro, a 'semana verde', em que todos os projetos que tratam do tema serão apreciados. Caso aprovados, seguem para a sanção do presidente Lula.

O interesse crescente da Mingyang em um projeto-piloto em alto-mar vai à contramão do que empresas já instaladas no Ceará enxergam na geração offshore. Muitas companhias do setor de energia pretendem priorizar investimentos em eólicas em terra frente ao aumento da demanda por energia, inclusive pelo mercado de hidrogênio verde (H₂V).

Mas para Joaquim Rolim, é preciso iniciar a exploração para além dos equipamentos onshore em uma espécie de vitrine. Essa produção, ainda que experimentalmente, em alto-mar deve atrair mais empresas interessadas no potencial eólico offshore cearense.

“Entendemos ser importante ter uma eólica offshore no Ceará como foi feito com a eólica em terra. Por exemplo, aqueles parques eólicos do Mucuripe, da Prainha e Taíba servem como um showroom para que todos vejam, e vendo fica mais fácil de você apoiar. Eólica offshore tem seus atributos e a gente precisa mostrar mais isso, o projeto-piloto tem essa virtude, mas a gente entende que ele pode ir além”, classificou.

 

 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados