Casa dos Ventos coloca projetos de eólicas offshore em 2º plano e mira expansão no Centro-Oeste

Empresa cearense afirmou que vai priorizar projetos eólicos e solares em terra firma, uma vez que a regulamentação das usinas offshore ainda não existe no Brasil

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
Foto que contém eólica offshore
Legenda: Eólicas offshore ainda não estão regulamentadas no Brasil
Foto: Shutterstock

A Casa dos Ventos, uma das maiores empresas do setor de energias renováveis do País, vai priorizar os projetos de eólicas onshore (instaladas em terra) e de placas solares como principais fornecedores de energia para a produção de hidrogênio verde (H₂V) no Complexo do Pecém (Cipp S/A). A decisão vai de encontro aos planos de instalação das eólicas offshore (em alto-mar), que necessitam de regulamentação pelo Governo Federal. 

É o que garante Fernando Elias, diretor de Comercialização e Regulação da companhia cearense. Ainda segundo ele, a empresa também pretende ampliar o portfólio de projetos na região Centro-Oeste, além de locais no interior do País.

“Em um primeiro momento, para hidrogênio verde, a gente tem que buscar os preços mais competitivos, e hoje são eólicos onshore e fotovoltaico, mas entendo que o mercado que a gente acredita e esperamos que seja tão promissor quanto ele se mostra, a gente vai ter que usar todos os recursos, inclusive offshore”, classifica.

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As declarações foram dadas pelo diretor da empresa nesta quarta-feira (25) no Fiec Summit 2023 Hidrogênio Verde, evento que discute, além do mercado de H₂V, demais energias renováveis e o impacto delas no setor energético e econômico.

A Casa dos Ventos, fundada no Estado em 2007, mantém o interesse na regulamentação das eólicas offshore - preferencialmente a partir da consolidação do H₂V -, que após o início da produção do composto, deve provocar um aumento exponencial na demanda por energia elétrica, sobretudo a partir de fontes renováveis.

Acho que, o hidrogênio verde se consolidando, vai demandar gigas e mais gigas de projetos. O Brasil é abundante em eólica onshore e é abundante também em fotovoltaica. 70% mais ou menos do custo hoje da produção de hidrogênio é a energia elétrica. Então, no primeiro momento, você vai ter que absorver toda a energia competitiva que existe, hoje essa energia mais competitiva, é eólica onshore e a fotovoltaica.
Fernando Elias
Diretor de comercialização e regulação da Casa dos Ventos

Apesar disso, a Casa dos Ventos não abdica da competitividade no mercado de eólica offshore, que segue pendente de regulamentação pelo Governo Federal em todo o Brasil. Segundo o diretor da empresa, existe uma parceria com a companhia francesa TotalEnergies, já atuante no mercado de geração de energia a partir dos ventos em alto-mar.

“Em um segundo momento, e aí acredito que entra o offshore, a gente pensa, tem uma unidade de estudo de prospecção offshore aqui no Ceará e agora temos também com a TotalEnergies perspectivas de olhar mais para essa área. A Total, por ser uma empresa que atua em offshore, óleo e gás, tem uma sinergia”, ressalta o diretor.

HIDROGÊNIO E AMÔNIA VERDE

Na discussão sobre H₂V, a Casa dos Ventos, que assim como as demais empresas que pretendem atuar no Estado, está com cronograma adiantado. A expectativa é de começar a prospectar compradores já no primeiro semestre de 2024.

“Demos entrada no projeto na primeira fase de 120 MW do eletrolisador para licenciamento ambiental, expectativa é que a gente obtenha no primeiro ou segundo quadrimestre do próximo ano. Então do ponto de vista pré-implantação, a gente deve estar pronto já até o primeiro semestre do próximo ano”, revela Fernando Elias.

O diretor da companhia cearense também destaca que o interesse primordial está na amônia verde (NH₃), subproduto do H₂V. O interesse alemão no composto, incluindo a reativação do consulado do País em Fortaleza, pode fazer com que a nação europeia seja um dos primeiros compradores do material a partir do próximo ano.

Foto que contém hidrogênio verde
Legenda: Hidrogênio verde se destaca pela alta facilidade de combustão e por ser livre de poluentes
Foto: EDP/Divulgação

“É possível ter mercado local de compradores, mas é possível também que, por exemplo, como já houve uma iniciativa da Alemanha promover o leilão, a gente acredita que possam ter iniciativas de países como Holanda, por exemplo, também estarem buscando esse tipo de primeiro movimento e o Ceará, especificamente, estar preparado também para poder exportar amônia para o Porto de Roterdã, que poderia ser uma rota de comercialização”, avalia.

CRESCIMENTO PARA ALÉM DO NORDESTE

Embora a planta de hidrogênio verde no Estado apresente estágio avançado, a Casa dos Ventos continua de olho em possíveis mercados potenciais para além do futuro hub no Cipp. Isso inclui outros estados do Brasil, em especial na região Centro-Oeste.

"No Ceará, a gente está olhando com foco mais para exportação de amônia, mas estamos estudando iniciativas para aplicação na indústria local, seja para o aço, com foco no aço verde, seja para o mercado de amônia, pensando em fertilizante, mais o interior do país, seja pensando no mercado de aviação que também vai demandar esse uso. A gente está olhando o interior do País, região Centro-Oeste, estados como Bahia e Pernambuco, a gente tem uma visão bastante ampla", prospecta Fernando Elias. 

Os próximos passos da Casa dos Ventos, conforme Fernando Elias, incluem ampliar em 240 MW (190 MW eólico e 50 MW solar) a capacidade de produção de energia nos parques de energias renováveis próximos à Tianguá, cidade cearense na divisa com o Piauí.

Dados do site da empresa dão conta de que, além de Araripe, na divisa com Pernambuco, Tianguá é a cidade do Estado com mais projetos da Casa dos Ventos em funcionamento ou em desenvolvimento que, somados, terão capacidade de fornecer à rede elétrica 940 MW.

Considerando todos os projetos desenvolvidos ou em desenvolvimento, a empresa conta com 43,5 GW, somando fontes eólica, solar e hidrelétrica, em capacidade de geração de energia. 

 

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