Compras da China atrasam até 4 meses com fechamento de portos e falta de containers

O valor do frete de importações vindas da China chegou a aumentar 1.000% entre 2019 e 2021. Situação não deve ser regularizada ainda este ano

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
containers empilhados
Legenda: Não há previsão de resolução dos problemas de logística ainda neste ano
Foto: Divulgação

A logística marítima internacional tem encontrado dificuldades no último ano, o que levou a uma disparada no preço dos fretes e atrasos no envio de cargas, sobretudo as fabricadas na China. A chegada de novas variantes do coronavírus agravou a situação, levando portos a fechar parcialmente. 

De acordo com o presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado do Ceará (Sindace), Sérgio Amora, os fretes tiveram aumento de preço de até 1.000% entre 2019 e 2021, o que torna os negócios inviáveis para alguns importadores. 

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A falta de containers no mercado também impacta em atrasos nas entregas, levando empresários a depender de fornecedores nacionais. 

Busca por containers 

Advogado especializado no segmento de comércio internacional, transportes e infraestrutura, Larry Carvalho contextualiza que os problemas de logística marinha começaram logo no início da pandemia. 

Os containers começaram a passar mais tempo nos portos. Muitas empresas sem poder trabalhar quebraram, deixando muitos containers abandonados. Tudo começou ano passado com esse problema logístico, os containers vazios estavam começando a demorar voltar para a China
Larry John Rabb Carvalho
advogado especializado no segmento de comércio internacional, transportes e infraestrutura

Outros problemas se somaram. O encalhe do navio mercante Ever Given no Canal de Suez em março deste ano atrasou por semanas demandas do comércio internacional 

A situação ficou mais complicada à medida que a economia voltou a aquecer. Com os negócios reabrindo, voltou a haver uma maior procura por fretes internacionais, mas a oferta de navios e containers ainda está reduzida. O resultado imediato foi o aumento nos preços. 

“Tem muita empresa utilizando containers refrigerados, desligam parte da refrigeração para usar containers. Tá uma situação muito complicada, é uma tempestade perfeita. Isso tem atrasado cada vez mais os embarques, seja porque o fornecedor não consegue container, ou o porto tá congestionado”, diz. 

Conforme o especialista, os atrasos atualmente podem chegar a até quatro meses

Novas variantes 

A chegada de novas variantes do coronavírus agravou o cenário. Em maio, a China fechou o porto de Yantian após surto de Covid entre funcionários.  

E, no último dia 13, o país anunciou o fechamento parcial do porto de Ningbo-Zhoushan, o terceiro maior porto do mundo, também em razão de contaminações pelo vírus.  

“É uma situação bastante complicada porque um terminal fechado por 3 ou 4 dias já cria uma fila de 350 navios de espera. Quando ele volta a funcionar não volta ao normal, tem que operar essa fila. Vai criando represamento, são cinco dias que criam uma necessidade de meses para desafogar”, elucida Larry. 

Conforme o presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado do Ceará (Sindace), Sérgio Amora, o imbróglio tem impacto em diversos setores industriais e comerciais brasileiros, principalmente por se dar na China, a principal fonte de importações do Brasil.  

Só neste ano, o país já importou o equivalente a US$ 25.416.283.756 da China, conforme dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. 

Algumas das principais áreas afetadas são as indústrias têxtil, automobilística, de informática, e de matéria prima de plástico, diz Amora, que também é delegado do Ceará da Federação Nacional dos Despachantes Aduaneiros (Feaduaneiros). 

Fretes mais caros 

Sérgio Amora destaca que o aumento no valor dos fretes marítimos tem tornado a importação inviável para pequenos negócios. 

Em 2019, um frete de container de 20 pés da China, que suporta em torno de 30/33m³, custava 2 mil dólares. Hoje, custa 20 mil. Além do aumento real em dólar, ainda teve a desvalorização do real. Não existe mais pequeno importador, médios ainda existem alguns e os grandes resistem
Sérgio Amora
presidente do Sindace

Para além dos valores já exorbitantes de frete, os importadores também sentem no momento da tributação das cargas, já que a Receita Federal aplica alíquota sobre o valor total, incluindo o frete. “Existem cargas em que o frete é mais caro que o valor da mercadoria”, coloca. 

O impacto chega na ponta para o consumidor à medida que as empresas locais repassam os custos de importação. Segundo ele, porém, quem faz importações menores da China por meio de e-commerce não tem problemas, já que o transporte é feito por via aérea. 

Para Amora, não existem perspectivas de um arrefecimento da situação ainda este ano. Pelo contrário, a situação deve se agravar com o aquecimento do comércio de fim do ano.  

Busca à indústria local 

O diretor da Alushopping Alumínios Fortaleza, Cristiano Sávio, conta que a empresa costumava importar insumos da China, mas decidiu mudar de estratégia no ano passado em razão de atrasos e aumento no preço dos fretes. 

“O frete marítimo já estava um absurdo, agora está praticamente inviável trazer alguma coisa. E também tem a questão da falta de container”, relata. 

Para não ficar sem matéria prima, a empresa começou a trazer alumínio de uma indústria parceira em São Paulo. A estratégia deu certo, levando o negócio a praticamente dobrar o faturamento no período de um ano. 

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