Com roupas mais caras, preços de serviços de ajustes em costureiras sobem até 20% em Fortaleza
Valor dos consertos sofreu elevação influenciado por crescimento na demanda, encarecimento das linhas e aviamentos, bem como dos produtos e serviços em geral
Optar pelos ajustes e reparos em roupas em vez de comprar peças novas pode ser uma alternativa para economizar, mas não significa que o consumidor terá passado ileso pela inflação do vestuário. Isso porque, assim como as roupas ficaram mais caras ao longo dos últimos dois anos, os serviços de ajuste e conserto de roupas também tiveram elevação de preços.
Quem vive a rotina do ofício explica que isso aconteceu em decorrência de alguns fatores. Entre eles está a carestia de aviamentos (botão, zíper e etc.) e até da linha. Diego Guimarães é proprietário de um ateliê no Itaperi, em Fortaleza, e explica que os preços dos serviços aumentaram de 15% a 20%. “O custo de vida aumentou”, ressalta.
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Mas ao passo que os preços dos reparos em roupas aumentaram, subiu também a procura por quem faz esse tipo de conserto. Diego conta que, em seu ateliê, houve um avanço de 60% na procura por ajustes em decorrência das atividades liberadas, festas e outros eventos após dois anos de pandemia. O destaque ficou por conta do Carnaval, que levou até o ateliê uma enxurrada de clientes em busca de customização de abadás.
“A procura nesse Carnaval foi ótima por causa dos bloquinhos, além de muitos abadás de festas de família, festas particulares”, diz Guimarães, acrescentando que, apesar da importância da customização de abadás para o faturamento, o ajuste de roupa ainda é o carro-chefe.
“A nossa demanda (para ajuste de roupa) sempre foi alta, sobretudo do meio do ano em diante. Quando chega em dezembro não tem como atender todo mundo”.
Os números do Carnaval também foram animadores para o ateliê de Josy Rodrigues, que fica no bairro Dionísio Torres, na Capital. Tanto que a procura pelos serviços cresceu 50% nos últimos meses na comparação com igual período do ano passado e ela acredita que, no geral, 2023 será um ano bem melhor do que 2022.
“Final do ano passado, Carnaval, tudo foi melhor porque tivemos os bloquinhos. Aqui teve muita customização de abadá para todo tipo de festa, aniversário, festas em família… tudo é abadá e a gente customiza”, explica Josy.
Assim como no ateliê de Diego, ela conta que o encarecimento de insumos utilizados na atividade também levou o seu negócio a aumentar em 5% o valor cobrado pelos serviços. “Tudo ficou mais caro: elástico, linha, agulha aumentou também, além de a gente observar que muita coisa tá faltando no mercado”, explica a proprietária do ateliê.
Compras pela internet ajudam a impulsionar ajustes
Mas engana-se quem pensa que apenas o ajuste de roupas velhas diante das peças novas mais caras e as customizações de abadás são relevantes para o faturamento desses negócios. Tanto Diego como Josy relatam que, em muitos casos, os clientes chegam com roupas novas, compradas pela internet, para reparos.
“Há quem reforme roupa velha, mas tem muita gente que traz roupa nova para fazer ajuste, roupas compradas pela internet”, diz Josy.
O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, lembra que houve uma forte retração do consumo de moeda durante a pandemia. "As pessoas mudaram o estilo de vida e houve uma necessidade de readequação, com o ajuste dessas vestimentas, algumas compradas antes da pandemia e que não foram usadas".
Ele acredita que a procura por esse tipo de serviço ainda deve crescer ao longo dos próximos meses. “Nós conseguimos ver muitas pessoas ainda nesse processo de reestruturação de parte de suas peças, além do retorno das festividades, em que parte significativa das pessoas buscam esses reparos, então acredito que é a continuidade desse processo de reestruturação junto com a retomada desses eventos que utilizam os abadás, o que influencia também a alta nos preços”.
Coimbra destaca que, ao passo que há uma demanda represada, provavelmente não houve nos últimos dois anos crescimento no número de profissionais que ofertam esse serviço. “Isso também contribui para que esses serviços tenham essa elevação. Além disso, temos a alta no salário mínimo. Há toda uma conjunção de fatores que resulta nesses preços mais elevados”.
No Brasil, o item "Costureira" dentro da cesta de produtos e serviços do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela uma alta de 12,23% em 2022. A inflação do serviço abriu 2023 com alta de 2,46%. Não há resultados para o item em Fortaleza.
Reparos de outros itens
O reparo de roupas não foi o único a pesar no bolso do consumidor de Fortaleza nos últimos meses.
A categoria “Consertos e Manutenção”, do IPCA, revela uma inflação de 6,09% ao longo do ano de 2022 para Capital cearense e Região Metropolitana.
Em janeiro de 2023, porém, houve deflação de 0,81%. Essa categoria inclui reparos em eletrodomésticos como máquinas de lavar; bem como móveis e eletroeletrônicos, a exemplo de celulares.
Procura em alta por consertos também reflete desaceleração econômica
O economista e também conselheiro do Corecon-CE, Ricardo Eleutério, observa o contexto em que está inserida essa elevação nos serviços de ajustes e consertos. Ele lembra que o setor de serviços apresentou aquecimento após a pandemia por conta da retomada de circulação de pessoas.
Entretanto, ele destaca haver uma desaceleração a partir do ano passado. “Esse desaquecimento, somado ao endividamento da população, inadimplência extremamente elevada e juros altos têm feito as pessoas reduzirem o consumo de bens novos”.
Ele avalia que uma reversão desse cenário seria possível se houvesse uma revisão para cima das taxas. “Esses elementos criam esse caldo econômico desfavorável, mas é possível ao longo do ano uma melhora se houver revisão para cima das taxas, declínio da Selic e se o nível de desemprego continuar caindo”, arremata Eleutério.