Com destaque para microempresas e MEIs, Ceará tem 383 empresas exportadoras em 2023

Negócios relacionados ao microempreendedorismo aparecem com força no comércio exterior

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
Exportações
Legenda: Empresas exportadoras no Ceará usam principalmente o Porto do Pecém como porta de saída para outros países
Foto: Natinho Rodrigues/Diário do Nordeste

O Estado do Ceará chegou à marca de 383 empresas exportadoras em 2023. Os dados foram disponibilizados pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex-MDIC) a pedido do Diário do Nordeste e refletem um movimento crescente do mercado local, potencializado após a pandemia de Covid-19.

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Analisando os dados referentes à balança comercial e número de empresas exportadoras em todo o Brasil dos últimos 15 anos (2008–2023), percebe-se que as mudanças ficaram mais evidentes a partir de 2020, início da emergência sanitária mundial.

Até então, o Ceará nunca havia rompido a barreira das 300 companhias que exportavam produtos para o exterior, situação que mudou em 2021. Naquele ano, 394 empresas comercializaram bens com outros países, maior número da série histórica. Em 2022, houve uma leve queda, mas o número se manteve bem acima de períodos anteriores.

Cresceu significativamente também a participação de microempresas e microempreendedores individuais (MEIs) dentre as exportadoras cearenses. Em 15 anos, o número de empresas desse porte que comercializam bens com o exterior dobrou, saindo de 79 para 160.

Em todo o Brasil, o Ceará é um destaque nesse segmento. O Estado é um dos únicos onde o número de MEIs e microempresas exportadoras é semelhante ao das grandes empresas, trazendo um enfoque ainda maior para o empreendedorismo.

Internacionalização progressiva

O aumento de empresas exportadoras traz também uma gama ainda maior de produtos sendo comercializados com o exterior. Conforme explica Karina Frota, presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), foram 1.577 tipos diferentes de bens vendidos para outros países, refletindo a variedade do mercado cearense.

"Temos um 'novo mundo' pós-crise sanitária. Um mundo completamente conectado, onde a maioria dos assuntos pode ser resolvida online. Os impactos nos novos padrões de consumo estão diretamente relacionados à dependência tecnológica. Recorde de compras online, transformação digital, inovação, trabalho híbrido… O mundo se adapta aos novos padrões de consumo", observa.

Embora esteja vocacionado para um mercado agropecuário forte como o do Ceará e de estados vizinhos, como Piauí e Rio Grande do Norte, o Porto do Pecém — principal porta de exportações cearenses — tem se adaptado principalmente com a chegada da siderúrgica, em 2008. Atualmente, as commodities e os derivados do minério de ferro, além dele próprio como matéria-prima, são os principais destaques na internacionalização do Estado.

"O Porto do Pecém exporta muita commodity, e ainda tem ao nosso favor a siderúrgica. As placas têm um valor agregado muito grande. O Ceará tem essa benesse, pois além de exportar minério de ferro, nós não importamos tanto aço, mas sim exportamos com as placas. A exportação das placas gera muitas divisas para o Ceará", explica o CEO da JM Negócios InternacionaisAugusto Fernandes.

"O valor agregado das placas de aço é imbatível. Vende-se para mercados como Singapura, China, norte da Ásia. Até porque as frutas são sazonais, a siderúrgica é perene o ano inteiro. Hoje, que já flui a operação, o valor monetário é gigante, bilionário", completa.

Exportações de aço
Legenda: Aço e minério de ferro são os principais produtos exportados no Ceará
Foto: Natinho Rodrigues/Diário do Nordeste

Além das mudanças mercadológicas, a própria posição geográfica do Ceará já é um ponto importante, como frisa Augusto Fernandes, essencial para auxiliar no aumento de empresas exportadoras, principalmente no contexto da transição energética.

Se o Ceará tivesse o mesmo desenvolvimento histórico que São Paulo, a gente superaria pela posição geográfica. Estamos a oito dias (de navio) da Europa. Nenhum lugar no mundo tem o vento e o Sol que tem aqui. Isso serve para o hidrogênio verde, por exemplo, a gente já tem parques eólicos, solares bastante diversificado. Temos vários protocolos assinados.
Augusto Fernandes
CEO da JM Negócios Internacionais

Ricardo Eleutério, economista e membro da Academia Cearense de Economia, arremata o assunto sobre a internacionalização do mercado cearense com o próprio desenvolvimento da indústria local, que deixa de focar nos produtos agrícolas e passa e dar destaque ao alto valor agregado das indústrias manufaturadas, como a do aço.

"Nossa pauta exportadora sempre foi de produtos primários. Com a siderúrgica, essa composição se altera, o que é positivo, porque os produtos agrícolas têm alta volatilidade no mercado internacional. Ora os preços sobem muito, ora caem muito e você ficar dependendo predominantemente de produtos. A pauta exportadora vai se industrializando, e isso é muito bom, porque traduz avanço da economia e competitividade no mercado internacional", discorre.

Empreendedorismo cearense para fora do País

A particularidade do Ceará em ser vocacionado ao microempreendedorismo também é um ponto particular das exportações no Estado. Em 2023, as microempresas e os MEIs corresponderam a 41,7% de todas as exportadoras cearenses, refletindo a participação cada vez maior desse segmento.

Programas de microcrédito, muito fortes em todo o Estado, sobretudo no Interior, possibilitaram que diversos empreendedores de pequeno porte pudessem negociar diretamente com consumidores internacionais. Ricardo Eleutério destaca os "consórcios" nos quais vários microempreendedores e MEIs entram em conjunto para exportar de forma ordenada.

"Essas exportações também se dão por meio de consórcios para reunir essas microempresas para abrir mercado internacional. Por exemplo: a Unifor tem um curso de Comércio Exterior e tem um núcleo no curso no qual os trabalhos em que são realizados são para microempresas e MEIs fazerem exportação. Elas buscam os especialistas para se internacionalizar, produzir para a exportação e ajustar a logística", enfatiza o economista.

Redes
Legenda: Produtos como redes aparecem entre os microempreendedores com destaque nas exportações
Foto: Sebrae/Divulgação

Para Augusto Fernandes, os chamados "polos exportadores" no Ceará, como as redes de Jaguaruana, os calçados de Quixeramobim e leite e derivados de Morada Nova colocam no centro da negociação os microempresários, que fazem o número de empresas exportadoras crescer significativamente no Estado sobretudo após a pandemia.

"Você vai encontrar pequenos setores, calçados, saúde, artesanato, rede, esses pequenos manufaturados que, na soma, está grande o número de exportadores. Esses pequenos exportadores são diversificados e essa diversificação é que dá esse número alto, estimulando o empreendedorismo", enumera o CEO da JM Negócios Internacionais.

Com a internacionalização do microempreendedorismo cearense, a presidente do Conselho de Relações Internacionais da Fiec pondera ser necessário evoluir principalmente no quesito balança comercial, além de que seja fornecido mais estrutura técnica para auxiliar no aumento do comércio exterior no Ceará.

É inegociável a necessidade de ações com foco na difusão da cultura da internacionalização. É fundamental trilhar caminhos para ajudar empresas cearenses a operar no comércio exterior. Passa a ser imperativo a ampliação e a disseminação da cultura exportadora junto às pequenas e médias companhias, promovendo a inserção contínua de produtos e serviços no mercado internacional.
Karina Frota
Presidente do Conselho de Relações Internacionais da Fiec

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