Cearenses sofrem com instabilidade e quedas de energia: ‘A gente fica refém’
De acordo com o Decon, a Enel é a empresa com maior número de reclamações no Ceará. Apesar de consumidores relatarem melhora em relação ao ano passado, problemas persistem
As velas seguem em lugares estratégicos na casa do vigilante Sidney Barros, de 38 anos, entrevistado no ano passado pelo Diário do Nordeste em relação às frequentes quedas de energia em sua residência.
Por mais que ele avalie que houve uma relativa melhora no serviço da Enel, já que as quedas são menos demoradas, a instabilidade da energia elétrica ainda é um problema que incomoda, tendo levado inclusive à queima de uma televisão.
“Tem semana, tem mês, que está normal, fica tranquilo. Mas tem semanas e meses que é como se estivesse no ano passado. Na semana passada a noite, principalmente, foi de perder as contas quantas vezes teve queda de energia em uma única noite. Desse último ano para cá, eu perdi um aparelho de TV que queimou por conta dessas quedas de energia. Durante a noite eu costumo desligar os aparelhos da tomada, nesse dia porventura esqueci a televisão e queimou”, conta.
Relatos como esse são comuns em todo o estado. De acordo com o Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Decon-CE), a Enel Ceará foi a empresa com maior número de reclamações em 2022, com 4.410 queixas registradas.
Em 2021, a distribuidora teve o quinto pior desempenho do País no Desempenho Global de Continuidade (DGC), medido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No ano passado, a Enel Ceará subiu uma posição, sendo a sexta pior empresa no ranking, conforme dados divulgados neste ano.
Atenção com eletrodomésticos ligados
Sidney conta que as quedas de energia que chegavam a demorar mais de doze horas para voltar não são mais tão frequentes no Ancuri, bairro onde ele mora. O problema maior agora é a instabilidade no serviço.
As oscilações de energia fazem com que a família tenha que ficar atenta para não deixar aparelhos que possam queimar na tomada, principalmente no período da noite, quando as quedas são mais frequentes. Durante esse período de chuva, ele relata que as quedas têm ocorrido pelo menos duas vezes por mês.
Você sempre tem que ter uma atenção de não esquecer, sempre lembrar de desligar para evitar. No período da noite a gente procura já estar com o celular carregado, porque a lanterna é uma ajuda caso venha a faltar energia”
No caso de aparelhos que não podem ficar desligados, como é o caso da geladeira, a atenção é redobrada para que sejam retirados da tomada logo que começa um período de instabilidade, visando evitar prejuízos.
Segundo o vigilante, os moradores do bairro já estão “conformados”. Tanto que ele sequer foi atrás do reembolso do aparelho de TV que perdeu devido às instabilidades.
Também entrevistado no ano passado, o estudante Renan Nascimento, de 19 anos, considera que as quedas de energia se tornaram menos frequentes e menos demoradas na Vila da Pedra, em Itarema. Ele não relata problemas com instabilidade.
“Costumava cair quase todos os dias, era muito difícil passar um mês inteiro sem faltar. Agora a última queda nesse ano foi no período chuvoso, chegou a cair alguns dias, mas não é mais todos os dias como anteriormente”, pontua.
Apesar da melhora, ele ainda classifica o atendimento da empresa como regular. “Quando tem um problema, sempre tem a demora de irem ao local”, explica.
Noites escuras
Ao contrário do Sidney, que percebeu certa melhora desde o ano passado, o policial civil Eduardo Marques, de 32 anos, começou a ter problemas com a Enel desde novembro de 2022. Ele relata que ocorreram três quedas de energia demoradas no período de um mês.
Ele também teve problemas na semana passada. Segundo o consumidor, a energia caiu às 23h e só voltou às 7h30.
“O pior horário para se faltar energia é a noite, que é o horário que a gente tira pra descansar. A noite é um momento mais vulnerável, tem que ter uma atenção redobrada”, reclama.
O consumidor também ressalta que o atendimento da distribuidora é um ponto bastante negativo. Segundo ele, os atendentes “não dão suporte”.
Quando a gente liga para a Enel o atendente é muito raso, eles vencem a gente pelo cansaço, a gente acaba desistindo de lutar para não ficar sem energia. A gente fica refém mesmo da Enel”
O que a Enel diz
Questionada sobre os problemas no fornecimento de energia, a Enel informou em nota que tem “investido constantemente na modernização da rede elétrica com foco na melhoria da qualidade do serviço prestado aos clientes”.
Segundo a empresa, foi investido o valor recorde de R$ 1,5 bilhão em 2022, um número 43,4% maior que 2021. A distribuidora reitera que foram inauguradas quatro novas subestações, nos municípios de Pindoretama, Pacatuba, Itarema e Paracuru em 2022, beneficiando cerca de 700 mil moradores. A previsão é que quatro novas subestações sejam entregues até o final de 2023.
“A Enel Ceará tem adotado tecnologias inovadoras de ponta para digitalizar a rede elétrica, como na implementação do projeto Telecontrole, que utiliza equipamentos controlados à distância para operação remota da rede, Desde 2015, já foram instalados mais de 4 mil equipamentos, reduzindo significativamente o tempo de restabelecimento do fornecimento de energia e o número de clientes afetados em eventuais falhas”, aponta.
Na nota, a distribuidora justificou que casos pontuais de queda no fornecimento podem ser causados por fatores diversos e precisam ser avaliados individualmente.
Com relação ao caso de Sidney, a empresa informou que houve uma falha pontual em um equipamento de Média Tensão no dia 11 de abril causou uma interrupção do serviço e a situação foi normalizada em cerca de 35 minutos.
Já sobre a situação narrada por Renan, a Enel afirmou que “não identificou ocorrência no endereço informado”.
Como Eduardo preferiu não informar seu endereço, a Enel não emitiu um posicionamento específico com relação aos problemas narrados.