Ceará perdeu mais de 40 mil empresas do setor industrial nos últimos 5 anos

Fechamento de grandes empresas como a Troller e Guararapes tem chamado atenção para o processo de desindustrialização no Estado

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@gmail.com
Legenda: Guarapes anunciou encerramento das atividades em Fortaleza no início de janeiro
Foto: Fabiane de Paula

O fechamento da fábrica da Guararapes em Fortaleza há pouco mais de um mês chocou a população cearense e gerou forte repercussão. A decisão, no entanto, não foi isolada. Nos últimos cinco anos, o Estado registrou o fechamento de mais de 40 mil empresas do setor industrial.

Os dados são da Junta Comercial do Ceará (Jucec) e inclui na conta empresas de todos os portes e naturezas jurídicas, incluindo empresários que também podem ser Microempreendedores Individuais (MEIs).

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Entre 2017 e 2022, a maioria disparada das extinções foram justamente de empresários (36,1 mil). Ainda assim, foram observados os fechamentos de 3,36 mil sociedades empresárias limitadas, 523 empresas individuais de responsabilidade limitada, 9 sociedades anônimas fechadas, 5 consórcios de sociedades, 1 cooperativa, 1 sociedade anônima aberta e 1 sociedade empresária em nome coletivo.

Atualmente, o Ceará possui 101,2 mil empresas industriais ativas, sendo 42,4 mil (41,89%) dessas MEIs.

Municípios

A Capital é o município cearense com o maior registro de fechamentos de empresas industriais entre 2017 e 2022. Segundo a Jucec, foram 19,9 mil extinções no período.

Também destacam-se no ranking outras cidades com atividade econômica mais forte, especialmente na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), como Caucaia (1,9 mil), Maracanaú (1,6 mil), Maranguape (611), Eusébio (467) e Pacatuba (455).

Outras macrorregiões que aparecem no top 10 de fechamentos são o Cariri, com Juazeiro do Norte (1,4 mil), Crato (500) e Iguatu (458), e a de Sobral, com o município de mesmo nome (712).

O economista Alex Araújo pontua que o caso da Guararapes chama atenção pelo porte da empresa e do volume de produção, além da quantidade de empregos, mas reforça que houve uma aceleração no fechamento de empresas da indústria nos últimos anos.

Ele explica que essa tendência é resultado do aumento da concorrência com produtos importados e da mudança no perfil da produção do Estado, que teria passado de produtos diferenciados, como moda praia ou grifes regionais que habitavam a Monsenhor Tabosa, para produtos populares, sem muito valor agregado.

"Assim, o fechamento de 40 mil empresas, independente do porte, é preocupante, pois se trata de uma indústria tradicional no Estado, com grande impacto no mercado de trabalho", destaca.

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Ele ainda lembra que a indústria empregava 40,1 mil pessoas em janeiro de 2020, período anterior à pandemia, número que atualmente está em 39,8 mil, segundo informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). "Ou seja, houve uma recuperação, mas estamos em patamar inferior ao pré-pandemia".

O fechamento de empresas atuantes no segmento industrial ainda tem relação com o processo de desindustrialização do País. Araújo pontua que o aprofundamento da globalização trouxe muitas mudanças para o mundo da moda e vestuário, por exemplo, com o aumento das coleções anuais - que passaram de quatro, ligadas às estações, para 52, uma para cada semana - e novos materiais.

"Seria necessário que tivéssemos uma política industrial muito focada para ajudar as empresas na migração dos processos que mantivessem o setor competitivo. Questões críticas de produção passaram a custar mais, como estoques, materiais, logística, etc, e não fizemos os ajustes necessários a tempo. O fechamento das empresas mostra o resultado dessa falta de competitividade"
Alex Araújo
Economista

O economista também ressalta que a política de incentivos fiscais sozinha é insuficiente para impedir esse processo de fechamento de indústrias. A própria Guararapes foi beneficiária por 25 anos de desconto que chegada a 75% do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Para reverter o quadro, Araújo indica que seria necessário estimular a modernização dos equipamentos e dos métodos produtivos, além de uma ação comercial ativa de busca de novos mercados.

"Hoje o produto local concorre com os produtos importados da Shein, mas fica restrito ao mercado local. É preciso entender como pequenos produtores do exterior são competitivos ao ponto de colocar pequenos lotes no mercado local, incluindo o entendimento da logística utilizada. A Shein é apenas um exemplo, mas basta passear por uma loja de departamentos para verificar que a maioria dos produtos são de outros países", afirma.

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