Avanço de pauta ambiental pode elevar exportações do Ceará

Os benefícios, no entanto, dependem do comprometimento do Governo Federal com a agenda

Escrito por Redação ,
Legenda: Exportações cearenses podem crescer com medidas governamentais de preservação do meio ambiente.
Foto: Carlos Marlon

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima na quinta-feira (22) reforçou as metas do Governo Federal para a preservação do meio ambiente. O maior compromisso com a questão ambiental pode resultar em ganhos econômicos para o País e para o Ceará. No entanto, os benefícios dependerão do real cumprimento dos objetivos estabelecidos.

O professor de Gestão Econômica Ambiental da Universidade de Fortaleza (Unifor), Albert Gradvohl, aponta que a principal consequência positiva no segmento econômico dessa preocupação ambiental seriam a maior receptividade dos produtos brasileiros no exterior. Ainda assim, ele se mostra reticente quanto à prática das medidas propostas.

"Qualquer proposta que venha consolidar o comprometimento com as questões ambientais e regulamentação do mercado de crédito de carbono pode beneficiar os exportadores. Mas o discurso não me convence. A meta brasileira é alcançar a neutralidade até 2050, haja vista, que todos esses compromissos foram feitos no Acordo de Paris em 2015, mas nada aconteceu, pelo contrário, estamos com um déficit de 5 anos", argumenta.

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Ele também lembra que mudanças no próprio modelo liberal, com a inclusão do pilar da sustentabilidade, tem gerado um novo nicho de mercado e oportunidades de negócios. No Ceará, Gradvohl indica fábricas de  embalagens de papelão ondulado a base de bagaço de cana de açúcar e a produção de biometano a partir do Aterro de Caucaia.

"O Ceará sempre procurou fomentar uma economia de vanguarda. Desde 1996, o estado vem investindo em tecnologias e modelos de negócios autossustentáveis, minimizando impactos socioambientais, e diminuindo a vulnerabilidade de seu modelo econômico com o poder público", destaca o professor, que foi titular da Secretaria do Meio Ambiente do Estado em 2002.

Receptividade de produtos nacionais

O professor do departamento de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rogério César Pereira de Araújo, reforça que a receptividade dos produtos cearenses e brasileiros de modo geral no mercado internacional pode ser beneficiada com o cumprimento das metas ambientais propostas.

"A imagem do Brasil está comprometida no mercado internacional. Há uma mancha do descaso com relação à conservação ambiental. Então, pode haver um incremento na receptividade de vários itens de exportação do Ceará, aproveitando essa mudança de imagem", avalia.

Ele lembra que, quando o governo passa a dar ênfase à política ambiental, o poder público aumenta os incentivos a atuação de organizações não governamentais de preservação e estimula o próprio setor privado a ter uma maior preocupação com o meio ambiente e com o clima. "Tem uma repercussão geral no País", acrescenta.

"Do ponto de vista da intenção, o discurso foi positivo, mas depende das ações efetivas, se o orçamento vai ser realmente reservado para esse fim, se a estruturação dos órgãos responsáveis será reforçada para ser suficiente para executar ações".
Rogério César Pereira de Araújo,
Professor do departamento de Economia Agrícola da UFC

Imagem brasileira

Segundo a presidente da Câmara Setorial de Comércio Exterior do Estado e gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Karina Frota, o principal benefício do comprometimento governamental com a pauta ambiental seria a mudança da atual imagem do País lá fora, que tem estado desgastada com o agravamento dos índices de desmatamento e de queimadas no atual governo.

Ainda assim, ela ressalta a necessidade das ações se concretizarem para que esse efeito aconteça. "A equipe ambiental do presidente Jair Bolsonaro percebe a importância do diálogo, diante das pressões internas e externas. No atual governo Biden, vários senadores americanos 'reclamaram' ao presidente dos Estados Unidos solicitando condicionar qualquer apoio ao Brasil à proteção da Amazônia. É importante alinhar o discurso atual com as atitudes ambientais futuras", explica.

Mesmo em meio a um cenário adverso, a imagem do Ceará para os agentes internacionais é melhor que a restante do País, aponta ela. Frota detalha que isso é resultado do esforço do Estado em conectar o Ceará com o restante do mundo. "Temos uma indústria dinâmica e comprometida. O Ceará e um estado responsável, que atua no desenvolvimento sustentável", destaca.

Cúpula do Clima

Em discurso na Cúpula do Clima, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que iria dobrar o volume de recursos destinados a ações de fiscalização. No entanto, ele não revelou quanto isso representaria em valores reais.

O presidente também antecipou para 2050 a meta de alcançar a neutralidade climática, cenário no qual o País reduz consideravelmente a emissão de gases causadores do efeito estuda e compensa o restante da emissão com ações ambientais. Anteriormente, a expectativa era atingir essa neutralidade em 2060.

Outra promessa de Bolsonaro é acabar com o desmatamento ilegal até 2030.

No entanto, nesta sexta-feira (23), ao sancionar o Orçamento 2021 com alguns vetos um dia após o discurso na cúpula, o presidente cortou cerca de R$ 240 milhões do Ministério do Meio Ambiente. Os recursos seriam destinados ao controle de incêndios florestais e ao financiamento de projetos de conservação.

A promessa de duplicar a verba das ações de fiscalização também ficou de fora do Orçamento 2021.

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