Armazenamento de energia em baterias gera economia de até 40% no consumo; entenda
Prática ainda não é permitida na geração centralizada, mas ganha adeptos na modalidade distribuída
Saem os geradores a diesel e entram os Bess. O equipamento, com nome em inglês, é traduzido para Sistemas de Armazenamento de Energia por Baterias e funciona de forma literal: "estoca" a eletricidade produzida e disponibiliza no sistema quando há necessidade. Alternativa que combina geralmente formas de geração elétrica limpas, a perspectiva é de que o investimento nesse equipamento garanta uma redução de até 40% no consumo de energia.
Os Bess já são uma realidade da geração distribuída no País e vêm ganhando cada vez mais adeptos no Ceará. Um dos clientes aqui, por exemplo, é o Supermercados Moranguinho, uma das maiores varejistas do Estado. O objetivo é que haja o armazenamento de energia para utilização em momentos críticos ou da chamada "ponta de carga", quando a eletricidade consumida é mais cara.
A responsável pela instalação das baterias do Moranguinho foi a Matrix Energia. Segundo informações da empresa, o contrato é para a aquisição de 12 unidades do sistema, "totalizando 5 megawatts-hora (MWh) de Bess instalado. A primeira unidade–conceito a ser atendida pelo Bess tem previsão de entrega em outubro e capacidade de 1 MWh de Bess".
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Segundo Alexandre Gomes, diretor da unidade de negócios da rede de energia, as vantagens do sistema de armazenamento são muitas, mas o destaque fica pela disponibilidade quase que ininterrupta do fornecimento das baterias. Elas estocam a energia e liberam quando for necessário.
"A gente fornece energia mais estável para o cliente, fornece energia onde elimina eventuais reativos que ela tenha. Se tiver energia reativa, o Bess atua como filtro também. Ele tem a função do Black Start, que substitui um gerador. Para algumas cargas, nem se percebe a entrada do Bess, sem fazer barulhos, sem queimar combustível fóssil, é um ambiente super controlado de automação", observa.
Locais como supermercados e hospitais, cujas interrupções no fornecimento de energia são consideradas críticas para as operações, adotam geradores a diesel para suprir eventuais quedas. Para Vinícius Suppion, especialista técnico regulatório da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o Bess surge como uma opção de melhor custo-benefício.
Em lugar onde tem baixa confiabilidade (da rede) e a gente tem cargas que precisam ser atendidas com uma certa qualidade, como hospitais, frigoríficos e supermercados, onde ele possa ter perda pela falta de energia elétrica, pode instalar a bateria. Ao invés de gastar com o diesel, usa a energia estocada nas baterias. É uma estratégia que custa muito menos do que o diesel e consegue uma economia significativa nesse caso.
"O gerador a diesel vai ser relativamente barato na hora da compra, mas o custo de utilização dele por hora é altíssimo porque vai ter que gastar comprando o diesel. O armazenamento é diferente: tem um gasto inicial maior, pois o sistema é mais caro, porém no uso não vai se ter nenhum gasto. Isso vai depender do perfil de utilização, mas em muitas aplicações, as baterias superam o diesel como solução mais viável", pontua o especialista.
Como funciona o armazenamento de energia na geração distribuída no Brasil?
Atualmente, estocar eletricidade nessa forma só é possível na geração distribuída (GD) no País, presente no mercado livre de energia. Essa modalidade foi regulada no início de 2022, e desde então, estabelece regras para produção energética, em geral, por meio de placas fotovoltaicas e turbinas eólicas.
Clientes residenciais que produzem a própria energia pagam progressivamente o chamado "fio B", taxa que vem na conta de luz pelo uso da linha de transmissão da rede da geração centralizada (GC), controlada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
A maioria desses sistemas produz a energia e joga imediatamente na rede, sem armazenamento. Vinícius Suppion ressalta que essa prática gera um grande desperdício de eletricidade, uma vez que a maioria da produção de fontes renováveis são fora do horário de pico, entre o fim da tarde e início da noite.
"É permitido ter armazenamento de energia, assim como a gente tem sistemas de backup hoje. Coloca esse armazenamento do medidor para dentro de casa. Não seria uma entrega de energia à rede. Seria para a utilização residencial e funcionaria armazenando justamente a energia que está produzindo para outro horário mais interessante, para pagar menos fio B pela utilização da rede. Quando gera fora do horário de consumo, principalmente, consegue fazer isso. A partir desse armazenamento, também pode utilizar nesse horário mais caro e não utilizar energia da rede", explica.
Quais os motivos de ter o Bess?
A GD, neste caso, atua em conjunto com a GC. O consumidor, residencial ou comercial, atua produzindo a própria energia e disponibilizando na rede. Em troca, ele ganha créditos tarifários, abatidos na conta de luz. Com o Bess, como frisa Alexandre Gomes, o uso da eletricidade vinda da geração centralizada fica ainda menor, potencializando a economia dos clientes.
Não existe nenhuma vedação de se instalar o Bess diretamente no cliente de geração distribuída junto com a carga. A nossa tese é levar o Bess para perto da carga dentro do ambiente do cliente, ajudando-o na qualidade e estabilização de rede e no suprimento da falta de energia.
"A gente chega em alguns casos a ter um desconto para o cliente de 35% a 40%. Depende muito do perfil de consumo de cada cliente, qual o fator de carga que ele tem na ponta, que é onde o Bess tem o maior benefício econômico", acrescenta Alexandre Gomes.
Vinícius Suppion ainda acrescenta que as baterias funcionam como um "sistema de compensação": "O cliente vai utilizar essa energia justamente para trabalhar a conta de luz dele, a tarifa de um jeito que ela fique mais interessante ainda".
Essa é a economia que consumidores de geração distribuída podem ter na conta de luz com baterias armazenando a energia
"Desde a lei 14.300/2022 (que estabelece regras para a GD no Brasil), os solicitantes de parecer de acesso que fizeram uma solicitação a partir de 12 meses após a publicação da lei, já têm que gradualmente ano a ano pagar uma porcentagem um pouquinho maior do fio B. Com o armazenamento, consegue-se minimizar a utilização da rede, injetando menos energia na rede quando se está produzindo e está sobrando e vai recuperar menos energia da rede na hora que você está consumindo", completa.
Realidade na GD, proibido na GC
Ao contrário da geração distribuída, cujo armazenamento é cada vez mais indicado para potencializar o uso da energia produzida sobretudo por fontes renováveis como a eólica e solar, na modalidade centralizada no Brasil, ainda não é permitido estocar eletricidade.
O assunto, antes cercado de polêmica após a declaração da então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2015, que afirmou que seria necessário desenvolver tecnologia para "estocar vento", virou projeto de lei (PL).
Se a gente pegar, por exemplo, a questão das usinas solares e eólicas do Nordeste, que efetivamente exportam energia para o Sudeste, infelizmente a infraestrutura de transmissão está limitada, ou seja, há muitos momentos onde não se consegue escoar essa energia, basicamente essa energia é perdida. Ela é gerada, mas as usinas não podem entregar essa energia. É um baita prejuízo. Tanto de ter esse ativo disponível, quanto também para o investidor da usina.
Tramita na Câmara dos Deputados o PL 1224/2022, que visa regulamentar o armazenamento de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN) para a GC. A proposta é de autoria do então deputado federal Beto Rosado (PP-RN), e agora segue para a relatoria do também parlamentar João Carlos Bacelar (PL-BA). Não há prazo para votação.
"Está previsto para dezembro desse ano um leilão de reserva de capacidade de potência, que basicamente são contratar usinas para despachar a potência na rede quando se precisa. Para esse próximo leilão, infelizmente a gente não teve isso incluído nas regras e até agora nenhum posicionamento possa ser reconsiderado. Isso já seria uma aplicação enorme para armazenamento de energia que já se viabilizaria e traria uma economia para todos os brasileiros na conta de energia", lamenta Vinícius Suppion.