Após risco de falência, como estão as vendedoras de Tupperware em Fortaleza?
Apesar da preocupação, profissionais estão seguras sobre as operações da empresa no Brasil
Além do valor simbólico para gerações de consumidores, a Tupperware gera renda para milhões de vendedores diretos no Brasil e mundo afora. Em Fortaleza, a notícia sobre o risco de falência da empresa causou preocupação a esses profissionais, mas os relatos são de que a relação afetiva dos clientes com a marca os tranquiliza.
No último 10 de abril, as ações da Tupperware Brands Corporation (TUP) despencaram quase 50%. Na ocasião, a companhia confirmou enfrentar dificuldades com os juros mais altos, nos Estados Unidos, em meio à crise para recuperar o negócio.
Entretanto, nas redes sociais, a presidente da companhia no País, Paola Kiwi, descartou impactos nas atividades brasileiras.
“A gente está mais forte do que nunca. A Tupperware Brasil é a maior operação do mundo. A produção está a todo vapor”, disse, acrescentando que “todas as entregas estão em dia” e estão “bombando de vender”.
Nesse contexto, a consultora Niviane Nobre Ferreira, de 39 anos, continua otimista. Há quatro anos, ela observou nessa ocupação não apenas uma fonte de renda, mas também flexibilidade para cuidar do filho, que estava doente.
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Decidiu, então, deixar o emprego como assistente administrativa para apostar na comercialização porta a porta. Com as redes sociais, Niviane potencializou a carteira de clientes e hoje consegue garantir o sustento da família somente com essa atuação.
“Estou segura porque acreditamos que, no Brasil, não teremos fechamento de fábricas”, apontou, contextualizando sobre a memória afetiva e os hábitos saudáveis dos brasileiros ajudarem a alavancar as vendas de potes para preservação de alimentos.
Conforme a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD), a Tupperware está presente em 86 países, totalizando 3,2 milhões de consultores no mundo.
Até a publicação desta reportagem, o Diário do Nordeste não conseguiu obter contato com a companhia.
Renda extra ajudou professora a realizar sonhos
A professora Caroline Soares Rocha, de 34 anos, se cadastrou para revender os produtos da marca em 2015. Na época, o objetivo principal era o consumo próprio e a venda para familiares, mas ela identificou haver uma demanda fora de casa.
Ao longo dos anos, foi fidelizando a clientela. Para conciliar com o trabalho em uma escola, Caroline investe nas divulgações e vendas pelas redes sociais, enquanto o marido realiza as entregas.
A profissional conta que, mesmo dispondo apenas dos fins de semana e feriados para focar nessa função, as vendas dos recipientes garantem incremento mensal de R$ 2 mil à família. Segundo ela, a qualidade dos produtos e a relação dos consumidores com a marca contribuem para os bons resultados.
“Fiquei apreensiva com as notícias sobre a possível falência. Eu precisaria conter os gastos. Embora eu tenha minha renda fixa, isso iria impactar diretamente no meu lazer e na alimentação”, destacou.
“Eu já realizei muitos sonhos com esse recurso, como finalizar a obra da minha casa, algumas viagens e passeios”, listou.
Caroline relatou não ter recebido o comunicado oficial sobre a crise financeira da empresa. Por isso, mantém a esperança de as operações no Brasil não serem afetadas.
“Tenho receio de ocorrer [a falência], mas o serviço e o padrão de qualidade que a empresa oferece continuam sendo entregues. Então, tenho pensado nisso para me tranquilizar e também as clientes”, ponderou.
Para não perder essa fonte de renda, Caroline teria de avaliar outras mercadorias para substituí-la. “Porém, me preocupa não obter o mesmo retorno da Tupperware, pois nem todos oferecem a mesma lucratividade”, lamentou.
Venda de porta a porta para complementar renda escassa
Mão solo, a diarista Eliane Gomes, de 36 anos, está fora do mercado formal e precisa complementar o rendimento com a comercialização de produtos cosméticos e de recipientes plásticos.
Ela também não recebeu comunicado oficial da Tupperware, mas foi informada pela sua distribuidora sobre não haver risco de afetar as operações no Ceará.
“Claro que a notícia assustou. Nós, de baixa renda, temos tudo controlado. Se mexer, com certeza tem impacto, porque uso esse dinheiro adicional para pagar a escola da minha filha, uma conta de luz”, enumerou.
Para alavancar as vendas e ter um ganho certo todos os meses, Eliane faz os chamados consórcios, reunindo um grupo de consumidores que contribuem mensalmente com R$ 30 para o sorteio dos itens.
“Como eu já vendo há 10 anos, tenho minha clientela fiel, mas nem todos têm condições de comprar os produtos, principalmente porque vendo no meu bairro, na periferia. O consórcio é uma forma deles poderem comprar e também ajuda a bater a minha meta”, contou.
Eliane disse não ter pensado em outra marca para substituir a Tupperware. Se for o caso, todavia, terá de cogitar a possibilidade.
“[A falência] Não me atingiria tanto quanto algumas colegas que vivem só disso, mas é um valor que já faz parte da minha renda há quase 10 anos e eu uso para o planejamento da economia em casa”, reforçou.
Veja dicas para elaborar um “plano B” e aumentar as vendas diretas
Nas décadas de 1950 e 1960, a empresa de plásticos ficou conhecida pelas famosas “festas da Tupperware”, feitas por vizinhas, nos Estados Unidos. No encontro, o público confraternizava e apresentava os produtos.
Na época, essa foi uma maneira inovadora para a chamada venda de porta a porta. Atualmente, vendedores diretos têm um mix amplo de produtos, mas quem trabalha nisso apenas para obter rendimento adicional costuma priorizar uma marca.
Para a economista e educadora financeira, Juliana Barbosa, as consultoras que temem perder essa fonte de renda devem começar a pensar em investir em novidades.
“O mais recomendado é diversificar a oferta de produtos, que podem ser de similares ou até mesmo outros segmentos como cosméticos, roupas, bijuterias”, enumerou. Para começar, orientou, o ideal é pesquisar novas empresas e sondar com os clientes sobre a aceitação de itens.
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“É importante fazer um levantamento da quantidade de mercadoria em estoque. Quanto de dinheiro está empregado nesses produtos, se organizar financeiramente para conseguir honrar com os compromissos e reinvestir, se for o caso, em novas mercadorias”, orientou.
Juliana lembra que as redes sociais são grandes aliadas para autônomos, auxiliando a aumentar a visibilidade dos produtos ofertados.
“Contudo, é importante o compartilhamento de conteúdo relevante para que as pessoas não se esqueçam de você e para as plataformas continuarem dando destaque”, ponderou. Outra dica, acrescentou, foi trabalhar com programa de afiliados.
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD), 57,8% das pessoas que atuam na área são mulheres. A maioria desses trabalhadores é casada (57,%) e tem ensino médio e superior completo (49,6%).
Já a categoria com mais profissionais é a de cosméticos e cuidados pessoais (22%), seguida de roupas e acessórios (22%). A venda de artigos para casa e utensílios corresponde a 3% do total.