Husky Siberiano: características, cuidados e curiosidades

Oriundo da Sibéria, cão se ajustou a temperaturas quentes, podendo ser criado no Brasil

Escrito por Marcelo Monteiro , marcelo.monteiro@svm.com.br
Husky Siberiano com pelo cinza e branco e olhos castanhos
Legenda: Animal tem musculatura firme e aspecto harmonizado, sem aparência grosseira ou frágil
Foto: Shutterstock

Apesar das estações de temperaturas quentes, o Brasil é lar de uma raça canina que surgiu em ambiente totalmente contrastante, o Husky Siberiano

Conhecido pela sua expressão séria, o Husky é, na verdade, amigável e gentil, podendo ter comportamento atento e expansivo, de acordo com a Confederação Nacional de Cinofilia (CBKC). Na fase adulta, o animal pode ter atitudes de reserva, mas, normalmente, é uma companhia agradável e disposta ao trabalho.

Origem

Como o próprio nome já diz, a raça é oriunda da Sibéria, na Rússia. Conforme o professor universitário e médico veterinário Herlon Rodrigues*, a raça começou a ser utilizada por tribos e povoados locais para caça e tração de trenós. "Eram localidades bem gélidas, desertos frios, e eles eram usados para puxar trenós. Esse era o principal trabalho dele", explica.

Trenó puxado por matilha de cães Husky Siberiano
Legenda: O CBKC indica que a movimentação da raça é rápida, suave e aparentemente sem esforço
Foto: Shutterstock

Segundo o CBKC, o desempenho do animal no arreio de trenó é "muito eficiente", já que, com cargas leves a uma velocidade moderada, o Husky pode atravessar grandes distâncias.

Contudo, ainda segundo o médico veterinário, esse serviço, o mais direcionado à raça, ficou obsoleto, embora ainda seja feito de modo artesanal em algumas localidades. Atualmente, o Husky Siberiano é mais utilizado como cão de companhia.

Curiosidade - Balto, o Husky puxador de trenós

Apesar de a atividade ter ficado nos primeiros capítulos da história da raça, a fama do Husky puxador de trenós rendeu até filme — e baseado em uma história real.

Montagem com foto do cartaz do filme Balto (à esquerda) e do cão vivo em hotel de Nova York (à direita)
Legenda: Balto ganhou filme após protagonismo em epidemia que assolou o Alasca entre 1924 e 1925
Foto: reprodução; reprodução/Balto True Story

"Balto" (1995) é um longa-metragem de animação sobre um cão homônimo que viveu no Alasca, nos Estados Unidos, no século XX. Dirigida por Steven Spielberg, a película conta a história de um Husky que liderou uma tarefa heroica em meio a uma epidemia de difteria na cidade de Nome.

Na época, a localidade tinha uma população de apenas 1.429 pessoas e não possuía remédio suficiente em estoque para o tratamento. A medicação, chamada sérum antitoxina, estava disponível em outro município, mas as linhas de trem ficavam congeladas por sete meses no ano por causa de nevascas, fenômenos que prejudicava, também, o funcionamento de aeroportos.

Em razão disso, 20 grupos de mais de 200 cães receberam a missão de carregar um lote de medicamentos em uma distância de mais de mil quilômetros em temperaturas de 50 °C abaixo de zero.

A última equipe, liderada pelo cão Balto, conseguiu correr pela região congelada por cinco dias e sete horas, chegando a um recorde mundial. Com a chegada do remédio, a epidemia, que já tinha vitimado cinco pessoas, terminou.

Montagem com fotos da estátua de Balto (à esquerda) e do cão empalhado em museu (à direita)
Legenda: Cão Balto ganhou estátua nos Estados Unidos em 1925 e foi exposto para observação após a morte
Foto: Cal Vornberger/Central Park; reprodução

Com a fama pelo feito, Balto viajou aos Estados Unidos com o resto da equipe e ganhou uma estátua de bronze no Central Park, em Nova York. O cão morreu em 1933 e foi empalhado para exibição no Museu de História Natural de Cleveland, no estado norte-americano de Ohio.

Apesar de o filme ser protagonizado por um Husky, o Governo de Nova York reconhece Balto como um cão da raça Malamute do Alaska. Esta, segundo Rodrigues, é maior é mais peluda. "A altura dele chega a ser até uns 20 cm mais alta que a do Husky, além de ser bem mais encorpado, mais fortão".

Montagem com fotos de Husky Siberiano (à esquerda) e Malamute do Alasca (à direita)
Legenda: Husky se parece com a raça Malamute do Alasca (à direita), maior e mais peluda
Foto: Shutterstock

Além disso, Togo, outro Husky Siberiano envolvido na entrega dos medicamentos, é considerado o herói real da corrida — a equipe dele percorreu o maior trajeto, e a de Balto apenas fez o percurso final e entregou a carga.

Temperamento

O CBKC aponta, como temperamento característico, a amigabilidade do animal, bastante gentil. Esse aspecto é reiterado por Mateus Furtado**, criador da raça há mais de dois anos e proprietário do Canil Mateus Dog Show.

O criador afirma ter começado a criar Huskies por procurar um cão com temperamento dócil e carinhoso. Com a experiência do canil, ele acrescenta que tais características são as mais buscadas pelo público, que intenta ter um cão que possa conviver com crianças.

O médico veterinário também atesta o comportamento dócil e tranquilo da raça, que chegou a apresentar, noutros tempos, indivíduos "agressivos, difíceis de lidar". "Hoje em dia, pelo menos, eles são bem dóceis, quase com um temperamento do Golden Retriever, que é a raça mais dócil de grande porte que o pessoal utiliza", compara.

Rodrigues também sinaliza o latido do Husky como peculiar. "Eles não são de latir muito; são de uivar muito. Tanto que o latido dele é meio misturado com uivo, não é aquele latido alto como se fosse um Rottweiler", diz. "É um latido uivado".

Pode ser cão de guarda?

Devido ao comportamento dócil, a raça não é indicada para o serviço de guarda. O  CBKC ressalta que o Husky "não demonstra as qualidades possessivas" de um cão de guarda, além de tampouco ser desconfiado ou agressivo com outros animais caninos.

Retrato de Husky Siberiano com expressão séria
Legenda: CBKC define a expressão do Husky como penetrante, amigável, interessada e até um pouco maliciosa
Foto: Shutterstock

Apoiado nessa qualidade, o dono do canil adverte que o cão não deve ser utilizado com essa finalidade. "Geralmente é dócil até com estranhos", assevera, complementando que o cachorro pode ficar sozinho e conviver com outros animais tranquilamente.

O médico veterinário endossa a inaptidão do animal para a atividade. "Você pode até pegar um cão mais valente, mas ele não tem características pra ser utilizado para guarda, pois não é uma raça trabalhada para guarda. É uma raça de cão primitiva, usada pra puxar trenó".

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Doenças do Husky Siberiano

Conforme Rodrigues, a raça tem algumas doenças genéticas que podem estar associadas a ela. Entre as principais, estão a alopecia — quedas específicas de pelo —, a atrofia progressiva de retina e o hipertireoidismo.

Características físicas

Descrita pelo médico veterinário como de porte grande, a raça tem variações de tamanho entre 50 e 60 centímetros (cm), sem muitas disparidades entre exemplares machos e fêmeas. 

Cão Husky Siberiano em praia
Legenda: Conforme criador de cães da raça, o Husky tem porte magro e não tem tendência à obesidade
Foto: Shutterstock

O CBKC aponta que a altura de machos pode variar entre 53,5 cm a 60 cm; fêmeas, por sua vez, podem ir de 50,5 cm a 56 cm. A entidade ainda indica que o peso de machos pode ir de 20,5 quilogramas (kg) a 28 kg, enquanto as fêmeas têm cinco kg a menos nas medidas mínima e máxima.

Apear das diferenças, a instituição destaca a proporção entre peso e altura, sem dar preferência a medidas extremas — ossatura ou peso excessivo devem ser penalizadas na conferência do animal.

A pelagem do Husky é relativamente média, segundo Herlon Rodrigues, com duas camadas de pelo. Essa característica o ajuda na proteção contra o frio, comum nos ambientes em que a raça surgiu. "Às vezes o pessoal pega uns Huskies muito peludos, e hoje em dia não é oficializado esse tipo de pelagem".

Cores do pelo

De acordo com a entidade de cinofilia, todas as cores são permitidas na raça, desde o preto até o branco puro. 

Baseado na sua experiência pessoal, Herlon Rodrigues denota como mais comuns as combinações entre preto e branco, acinzentado com branco, marrom com branco e até um "amarronzado quase dourado" com branco, além do branco uniforme.

Já o criador de Huskies destaca variações que englobam tons avermelhados e prateados. O CBKC diz que o Husky tem, além disso, variedade de marcações na cabeça, incluindo combinações não encontradas em outras raças.

Cores dos olhos

A cor dos olhos do Husky Siberiano tem variações distintas. O veterinário pontua tonalidades que variam do marrom ao azul, podendo inclusive apresentar heterocromia — olhos de cores diferentes.

Montagem com três fotos de cães da raça Husky Siberiano: um com olhos azuis (à esquerda), um com heterocromia (centro) e outro com olhos castanhos (à direita)
Legenda: Husky Siberiano pode ter olhos de diversas cores, inclusive com duas nos casos de heterocromia
Foto: Shutterstock

A CBKC atenta ainda que o animal pode ter a íris particolorida, ou, como Mateus Furtado assinala, bicolor. O proprietário do canil afirma que o animal pode ter olhos na cor âmbar e verde.

Principais cuidados

Husky Siberiano nadando em piscina
Legenda: Antiga puxadora de trenós, raça tem bastante energia para atividades físicas
Foto: Shutterstock

Furtado destaca que o animal precisa de passeios frequentes, dado que possui bastante energia, e indica que o animal coma ração do tipo Premium. Outros alimentos podem ser oferecidos, desde que apenas como petiscos.

A ração, segundo o criador, deve ser trocada do tipo filhote para o de adulto apenas após 12 meses. Ele também atenta para o fato de o animal ser vacinado e vermifugado da forma indicada.

O médico veterinário lembra que os dois procedimentos devem ser realizados da mesma forma que com outros cães. Há vacinas que podem ser ministradas em 30 e em 45 dias, e normalmente se usam imunizantes contra raiva, tosse e leishmaniose, conhecida como calazar, observando-se o tempo de cada uma.

Já a vermifugação também independe da raça, podendo ser feita nos filhotes a partir dos 15 dias de vida. O procedimento é modificado à medida que o cão cresce, mas é o mesmo para todas as variações caninas.

Além desses cuidados, o médico veterinário lembra que os dentes, assim como os de outros cachorros, também devem receber cautela. "A escovação, se for possível, deve ser feita diariamente. Se não for, pelo menos a limpeza, a tartarectomia, deve ser feita uma vez ao ano, pelo menos".

Cuidados com o pelo

O Husky Siberiano requer necessidade de escovação frequente para retirada do pelo morto, o que é indicado pelo criador e pelo médico veterinário.

Montagem com foto de Husky sendo escovado (à esquerda) e ao lado dos pelos retirados (à direita)
Legenda: Apesar de média, pelagem do Husky requer cuidados específicos
Foto: Shutterstock

Mesmo que o animal não precise tomar muitos banhos, Herlon Rodrigues ressalta que o Husky precisa de escovação regular, a cada dois ou três dias.

"Como ele fica soltando, é importante que você faça a remoção desse pelo que já caiu, porém tá ali no corpo, entrameado", explana, chamando atenção para as fêmeas, que perdem mais pelo durante o cio.

Mesmo com o pelo demandando cuidado, a tosa não é recomendada para a raça. "Você pode até dar uma aparada no pelo, se tiver um pelo meio que descompensado, mas tosa ninguém chega fazendo no Husky, não", pontua Rodrigues.

O CBKC determina que a tosa seja feita para aparar os bigodes e os tufos entre os dedos e ao redor das patas, o que contribui para que o cão tenha um aspecto mais limpo. Em outros pontos, não é tolerada pela instituição.

Quanto custa

De acordo com o médico veterinário, cães da raça podem ser encontrados a partir de R$ 1,5 mil. Nos casos de animal microchipado ou com pedigree, os valores podem chegar a R$ 2,5 mil. Animais descendentes de cães de alto padrão, porém, podem chegar a R$ 7 mil.

O criador de Huskies, por sua vez, diz que o preço de um "bom filhote" pode variar de R$ 1,8 mil a R$ 2,5 mil.

Expectativa de vida

A expectativa de vida da raça é de entre 14 e 15 anos, o que, para Rodrigues, é uma média relativamente alta.

*Herlon Rodrigues é graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), além de mestre e doutor em Ciências Veterinárias pela instituição, com período de doutorado-sanduíche no National Zoological Park do Smithsonian, em Washington DC, EUA. É coautor do livro "Reprodução de cães".

**Mateus Furtado é proprietário do Canil Mateus Dog Show, onde trabalha também com a raça Golden Retriever.

 

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