Tiago Leifert fala com brothers sobre comentário de Rodolffo relacionado ao cabelo de João Luiz
Sertanejo foi acusado de preconceito racial ao comparar o cabelo do professor de Geografia à peruca usada no castigo do monstro, que fazia menção à Idade da Pedra
O apresentador do Big Brother Brasil (BBB) 21, Tiago Leifert, conversou com os brothers, na noite de terça-feira (6), sobre o episódio envolvendo João Luiz e Rodolffo, no qual o sertanejo foi acusado de preconceito racial ao comparar o cabelo do professor de Geografia à peruca usada no castigo do monstro, que fazia menção à Idade da Pedra.
Logo após a votação que definiu o nono eliminado do reality show ser encerrada, Tiago Leifert "desligou" o "modo apresentador" e conectou-se com os participantes.
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Ele direcionou a conversa para Rodolffo, afirmando que a forma de como o sertanejo se defendeu no jogo da discórdia, na segunda-feira (5), o deixou preocupado, e que, por isso, estava ali, para falar "de homem branco para homem branco". E falou que Camilla de Lucas e João Luiz podiam o corrigir, caso dissesse algo errado.
O apresentador lembrou que, quando mais novo, as outras crianças "brincavam" com o cabelo dele: "lixavam o dedo", "escondiam lápis". No entanto, ele explicou que as situações nunca lhe fizeram a "menor diferença".
Black power
Na sequência, o titular do BBB 21 disse: "um cabelo black power, como é o do João, não é um penteado. É um símbolo de luta, de resistência. Foi o (cabelo) que os pretos americanos dos anos 1970 usaram como símbolo antiracista. Eles resistiram usando black power para mostrar que eles se aceitavam, que eles se amavam".
"Por quê? Porque há pouquíssimo tempo atrás uma pessoa como o João, como a Cami (Camilla de Lucas) - e isso eu tô falando do país mais livre do mundo, hein? - tinham que levantar no ônibus para o branco sentar, não podiam ir a um restaurante".
Contexto histórico
"Então, historicamente, o cabelo do João foi associado a uma coisa errada, suja, feia. Não existia cosmético para a pele da Camila, não existia nada para o cabelo do João há pouquíssimo tempo atrás. E é por isso que quando a gente faz um comentário sobre o cabelo do João, a gente não está falando de penteado, que foi o que você achou que estava fazendo e como você encararia, e eu, como um homem branco, também por muitos anos encarei".
"Você está falando de um símbolo, do que o João é, do que ele sente, do que ele viveu na pele, da história e da ancestralidade dele. Tem muito aí".
Símbolo de resistência
"O black (power) é a coroa, e isso não sou eu que estou falando. Quem me ensinou isso foi um cara que eu tenho um amor profundo, porque eu tive a honra de conviver com ele. O nome dele é Alexandre Santana. Mas vocês devem conhecer ele pelo apelido, um apelido racista: Babu, que vem de 'babuíno', de macaco".
"Mas, o Babu, na primeira vez que o chamaram assim, ele quebrou a cara de todo mundo na porrada. Mas, depois, ele falou: 'quer saber? Eu vou usar o 'Babu' também como símbolo de resistência, vou colocar como o meu nome artístico. E ele nos deu uma aula no ano passado sobre o que é o black power".
"Mas isso é o Babu. E talvez o seu pai - e eu vi a foto do seu Juarez, e ele é muito parecido com o João - para ele também significava outra coisa, mas isso não muda a dor do João, que é legítima".
Informação
"O sem querer e o de propósito, naquele caso, doem do mesmo jeito, e é por isso que nós, brancos, precisamos nos informar, Bora ver filme, no YouTube. Eles (pretos) não querem mais ensinar".
"Você é um artista, eu sou jornalista. É a nossa obrigação ir atrás de informação e não cometer esse tipo de erro, mesmo que ele tenha sido sem querer".
"Rodolffo, eu sei que não foi maldade. Todo mundo sabe, mas isso não diminui a dor do João, que é legítima. Vamos ter como regra nunca comentar mais nada sobre o corpo de ninguém".
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Dois lados
Também na ocasião, o apresentador declarou que não via maldade no que Rodolffo fez, e que via legitimidade na dor de João Luiz. "Devo estar sendo trucidado na internet" (por entender os dois lados).
Camilla de Lucas, que estava emocionada, afirmou que entende que não houve maldade no que Rodoffo fez, mas que está cansada de explicar sobre preconceito racial.
"A gente só consegue transformar essa sociedade falando e lutando, mas eu estou cansada de ficar ensinando toda vez", disse a influenciadora digital.
'Movimento didático'
João Luiz agradeceu pelas palavras proferidas por Tiago Leifert e considerou importante o "movimento didático, de ensinamento".
"A gente deve fazer isso sempre, toda vez que a gente identificar qualquer coisa, a gente reagir, dizer: 'Olha, isso não é legal, não faz isso, não faça aquilo'. É um movimento que todo mundo deve fazer, porque só assim a gente vai combater tudo isso juntos", observou o professor de Geografia.
Por último, foi dada a oportunidade do sertanejo se pronunciar. Ele pediu desculpas a João, à Camilla e "a todo mundo que se sentiu ofendido". Logo após a conversa, João, Camilla e Rodolffo se abraçaram.