Marco Pigossi diz que viveu 8 anos com ex-namorado antes de se assumir gay: 'me sinto invencível'

Ator relatou processo de autoaceitação e revelou ter se distanciado do pai nos últimos anos

Escrito por Redação ,
Ator Marco Pigossi de blusa branca em praia
Legenda: Artista chegou a fazer terapia para lidar com o medo de ser visto como homossexual
Foto: reprodução/Instagram

O ator Marco Pigossi, 32 anos, revelou ter vivido oito anos com o antigo namorado e se distanciado do pai, Oswaldo Pigossi. Recentemente, Pigossi assumiu namoro, em publicação no Instagram, com o cineasta italiano Marco Calvani. Na postagem, os dois apareceram de mãos dadas em uma praia no Dia de Ação de Graças norte-americano.

Veja também

Em relato à revista Piauí, o artista narrou a jornada para assumir sua orientação sexual desde a adolescência em São Paulo até os trabalhos na Globo quando adulto, em alguns dos quais lhes renderam um posto de galã na televisão.

No testemunho, concedido ao repórter João Batista Jr., Pigossi pontuou não ter tido referências gays em sua casa e achar que a orientação sexual seria passageira.

"Quando assistia à televisão, nada servia como alento. Nas novelas ou nos programas de humor, quase sempre os gays eram retratados de forma caricata, pejorativa. Então, me sentindo solitário e sem amparo, me restava torcer para que fosse apenas uma fase", comentou o ator, que entrou para o teatro aos 15 anos em busca de si.

"Era uma vocação, mas era também uma fuga. No mundo das peças, dos livros e dos palcos, eu podia ser qualquer coisa, inclusive o que de fato sou".
Marco Pigossi
Ator

Marco Pigossi lembrou que, após interpretar alguns personagens secundários na TV Globo, conseguiu papel de destaque na novela "Caras & Bocas" (2009), de Walcyr Carrasco. No folhetim, porém, ele interpretou Cássio, um gay afeminado com trejeitos acentuados.

Apesar de ter feito sucesso com alguns bordões, o personagem, segundo o ator, estancou a possibilidade de revelar sua verdadeira orientação sexual.

"Na minha cabeça, não havia nenhuma margem de chance para eu me assumir. Se fizesse isso, todas as portas se fechariam para mim de forma automática", ressaltou, pontuando que chegou a fazer terapia três vezes por semana durante as gravações e engrossar a voz em encontros com fãs. "Essa possibilidade [de descobrirem a orientação sexual] me aterrorizava".

'Aparência heteronormativa'

Contudo, dada a sua "aparência heteronormativa", conforme citou, Pigossi foi chamado para viver galãs em novelas, o que acabou lhe prendendo ao papel de mocinho das tramas. "Estava infeliz por dentro. Seguia me escondendo. Na verdade, eu me fazia passar por um heterossexual por pura e simples manifestação de medo", desabafou.

Marco Pigossi em primeiríssimo plano nas cores preto e branco
Legenda: Pigossi interpretou cinco galãs em novelas da Globo em sequência devido à aparência
Foto: reprodução/Instagram

Após Caras & Bocas, Pigossi participou de "Ti Ti Ti" (2010) — novela em que interpretou um personagem mulherengo — e teve outro alerta em relação à carreira. Nesse ano, ele leu uma entrevista do autor Sílvio de Abreu, então diretor de dramaturgia da Globo, na qual o escritor desencorajava a assunção da homossexualidade por parte de atores.

"Ele dizia que um ator assumido era um “bobo”, pois a revelação fatalmente prejudicaria sua carreira [...] Era uma declaração clara de que não era bem-vindo que um ator homossexual abordasse o assunto em público".

Relação escondida

Ao longo de 12 anos como figura pública, Pigossi manteve um relacionamento com outro homem por oito anos, chegando a morar com ele na mesma casa, mas em segredo.

Já em 2012, o nome do ator foi envolvido com polêmicas em torno da sexualidade pela primeira vez. Segundo Pigossi, ele foi vítima de desinformação acerca de um suposto affair com um ator com quem contracenava em "Fina Estampa" (2012).

Alguns sites, de acordo com a revista Quem, apontaram que o suposto romance se dava com Rodrigo Simas.

"Era mentira absoluta. A matéria não dava os nossos nomes, mas deixava claro de quem se tratava. Chegava a dizer que nós nos “pegávamos” nos bastidores das gravações. Era tudo invenção, mas as pessoas acreditam no que querem acreditar", destacou Marco Pigossi à Piauí, lembrando ter tido uma crise de pânico na ocasião.

"Fui para o banheiro do aeroporto, me tranquei em uma cabine e comecei a vomitar. Liguei para meu parceiro, chorando. Eu dizia para mim mesmo que minha carreira tinha acabado. Não conseguia sair dali", conta, afirmando que o então parceiro voou de São Paulo para o Rio de Janeiro para buscá-lo.

Após a crise, o ator passou a tomar antidepressivos e ansiolíticos para lidar com o pânico de sair do armário a contragosto, o que lhe motivava pesadelos recorrentes. Apesar do sofrimento, ele definira para si que não mentiria nem criaria falsos romances com mulheres, embora tenha se relacionado com algumas. "As relações não foram em frente", disse.

Aceitação

Quando completou oito anos de terapia, Marco Pigossi passou a se aceitar após ouvir um novo questionamento em uma das sessões de análise.

Veja também

O terapeuta levantou a possibilidade de o ator usar a sexualidade a seu favor para olhar para o próximo como mais empatia e usar o panorama como matéria-prima para os personagens.

"Daí em diante, começou a se desencadear em mim um entendimento do que significa “orgulho gay", contou. "Com o insight da terapia, as coisas começavam a tomar outra forma na minha cabeça".

Distanciamento do pai

Marco Pigossi salienta sempre ter existido um "abismo", entre ele e o pai, mesmo com proximidade física — a vida amorosa do ator era um "não assunto".

"Durante os oito anos do meu namoro com um homem, minha família sempre soube. Mas meu namorado e eu nunca jantamos com meu pai, que jamais perguntou sobre meu relacionamento", relembra. Os dois deixaram de se distanciaram em 2018. "Meu pai e eu ficamos sem nos falar durante o ano da eleição", confessou. "E até hoje temos contatos apenas esporádicos. O abismo, que já era grande, tornou-se ainda maior".

Não renovação com a Globo

O ator afirma ter optado por não renovar com a Globo se deu também ela expectativa de que seria menos doloroso assumir a homossexualidade e trabalhar como ator morando em outro país — ele se mudou para Los Angeles em 2019.

Fora do Brasil, Pigossi já gravou a série australiana "Tidelands", a espanhola "Alto Mar" e a brasileira "Cidade Invisível" para a Netflix. A última terá uma nova temporada neste ano.

Depois da chegada aos Estados Unidos, ele conheceu Provincetown — cidade referência no ativismo gay — e decidiu ser produtor executivo do documentário "CorPolítica", que acompanhou quatro candidatos a vereador assumidamente LGBTQIAP+ nas eleições brasileiras de 2020: Erika Hilton e William De Luca, de São Paulo, e Andréa Bak e Monica Benicio, do Rio de Janeiro.

Namoro e revelação

Também na cidade, Pigossi conheceu Marco Calvani, com quem já está há um ano e meio. Apaixonado, o ator soube com antecedência que o namorado postaria o registro no Instagram. "Eu topei, mas senti uma certa apreensão. 'Qual seria a reação das pessoas?' Ele postou, e ficamos esperando", relatou.

Ator Marco Pigossi e cineasta Marco Calvani de mãos dadas em praia
Legenda: Ator conheceu o atual namorado em Provicetown, cidade norte-americana referência no ativismo gay
Foto: reprodução/Instagram

Após os comentários no perfil do amado, o brasileiro decidiu repostar a foto na sua própria página, mesmo com "frio na barriga". 

"Logo comecei a receber muitas, muitas mensagens de amigos, de colegas de trabalho, de fãs. Recebi mais parabéns do que no dia do meu aniversário", relembra, considerando que talvez futuros galãs não sintam o mesmo medo que ele sentiu de perder a carreira.

Pigossi também comemora o fortalecimento de "todos nós, gays" nos últimos anos, lembrando da felicidade, do alento e do acolhimento. "Marco e eu convidamos uns amigos para comemorar. Tomei um porre. E hoje me sinto invencível".

Quer saber mais sobre cultura pop, filmes, séries e famosos num só canal? O Zoeira está no Telegram! Acesse o link: https://t.me/zoeira_dn

Assuntos Relacionados