Show: Fausto Nilo e Moraes Moreira atestam a potência da nostalgia
Em Quixeramobim, dupla de músicos tirou da orfandade os apaixonados pela folia carnavalesca e juntos buscaram o porquê de a saudade mobilizar tanto
Diego Barbosa
Jornalista do SVM
O reencontro entre Fausto Nilo e Moraes Moreira em show no município de Quixeramobim fez julho parecer fevereiro. A nostalgia deu o tom da apresentação da dupla, que formou como que um bloco carnavalesco na principal praça da cidade, durante encerramento da Mostra Sesc de Culturas Sertão Central no domingo (28).
Eram amontoados de órfãos da tradicional festa momina se esbarrando de dançar ao som de “Festa do interior”, “Chão da Praça”, “Eu também quero beijar”, e tantos outros sucessos da respeitada dupla de compositores – com criações que, até hoje, embalam carnavais Brasis afora. Sempre, vale ressaltar, com gritos efusivos do público a cada nova leva de músicas, como aconteceu durante os momentos dos dois no palco durante o evento.
No fim das contas, o que isso tem a dizer sobre a força da saudade no momento de curtir a querida festa e da potência desse sentimento ao mobilizar tanto?
Nostalgia e movimento
Concentremo-nos, a priori, nesta última questão. Temos observado na contemporaneidade, sobretudo neste ano de 2019, que tirar as memórias do baú convoca ao movimento. Tira-nos da inércia – e, bônus, é altamente rentável.
O que faz milhões de pessoas reassistirem a “O Rei Leão”, agora em live-action, se não a oportunidade de reviver os tempos de criança? Ou comprarem os ingressos para o show de Sandy & Júnior? Ou curtirem, em alto volume, forró das antigas?
Parece coisa de querer voltar no tempo porque deixamos algo valioso demais lá.
Sob outra perspectiva, apesar de assumir semelhante dinâmica, o carnaval de Fortaleza também tem se alimentado de saudades para mergulhar os foliões e foliãs em ciranda de nova alegria.
Não à toa, as mesmas canções compostas por Moraes Moreira e Fausto Nilo citadas no início deste texto – além de outras, como “Coisa acesa”, “Pão e poesia” e “Bloco do prazer”, que também estiveram presentes no show “Corações Democratas”, em Quixeramobim – tocam em alto e bom som em blocos fortalezenses, como Chão da Praça, Luxo da Aldeia e Cachorra Magra. E, claro, arrastam multidões de diferentes gerações bradando a magia de tempos passados.
Ao assistir à apresentação de Fausto e Moraes, virei-me para uma senhora que estava atrás de mim gritando, visivelmente feliz por estar ali, e perguntei: “O que lhe faz estar tão animada?”.
Ela respondeu simplesmente: “Ah, é porque isso me dá saudade. E, quando ela não mata, faz a gente reviver tanta coisa boa… A gente chega a dar pulo de alegria”.
Quanto tempo para o carnaval?
Parece que não há muito o que explicar, então – Peninha já dizia também que saudade “é melhor do que caminhar sozinho” e isso basta –, mas a observação é interessante: ao retornar à cidade natal, Quixeramobim, Fausto Nilo traz o grande amigo, Moraes Moreira e, juntos, empreendem um show em que nem parece o agora.
É feito a época em que ambos construíram as primeiras canções, que depois invadiriam os ouvidos carnavalescos e transbordaram a dobra do tempo, alcançando outras idades, variados perfis.
Hoje, são presente nostálgico todo ano quando é fevereiro. Todo momento em que é Carnaval. Que pode acontecer sempre, feito eles provaram.
Inclusive em julho, com sinais de fevereiro, época oficial, agora nem tão próximo, mas também nem tão longe, de o encanto voltar novamente em tons de sépia, das fotografias amareladas de nossos sons.