Lázaro Ramos é homenageado no Festival de Cinema de Gramado: "Todo mundo precisa ter voz"

Ator, escritor e prestes a estrear como diretor, baiano de 40 anos entra na lista de artistas agraciados com o troféu Oscarito

Escrito por Antônio Laudenir* ,
Legenda: Lázaro Ramos recebe o Troféu Oscarito do Presidente da Gramadotur Edson Néspolo
Foto: Foto: Edison Vara / Agência Pressphoto

Na noite de segunda-feira (19), o Festival de Cinema de Gramado celebrou a trajetória artística de Lázaro Ramos. A carreira no cinema do ator de 40 anos foi lembrada com a entrega do troféu Oscarito, destinado a grandes atrizes e atores do cinema brasileiro.

Antes de subir ao palco do Palácio dos Festivais e receber a honraria, um vídeo especial recordou trabalhos nas telonas do também escritor e diretor. Trechos de sucessos como "Madame Satã " (2002), "Carandiru" (2003), "Ó Pai, Ó" (2007) e "Saneamento Básico, o Filme" (2007) foram resgatados.

Já com o prêmio em mãos,  Lázaro confessou que o Festival de Gramado era um lugar que só morava nos sonhos. "Nunca achei que seria possível passar por esse tapete vermelho, subir aqui, inspirar alguém, ser relevante pra alguém”, revelou. Ele dedicou o Oscarito ao cinema brasileiro e destacou nomes do audiovisual importantes em sua filmografia. Caso do cineasta cearense Karim Aïnouz (com quem trabalhou em Madame Satã) e de Jorge Furtado, com quem atuou em três filmes.

Lázaro soma mais de 30 filmes, entre longas e curtas, além da atuação no teatro. Ainda nesta semana, o artista recomeça temporada da peça "O Topo da Montanha", em que atua com a mulher, Taís Araújo. O espetáculo fica em cartaz até o dia 25 no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro.

O reconhecimento na Serra Gaúcha acontece em um momento especial de Lázaro. O baiano segue em fase de finalização de seu primeiro longa como diretor, "Medida Provisória".

No sábado (17), a atriz e diretora Carla Camurati recebeu o troféu Eduardo Abelim. Na quarta-feira (21), outro nome das artes a ser destacado será Maurício de Sousa, que ganhará o troféu Cidade de Gramado.

Leia discurso de Lázaro Ramos na íntegra:

"É tanta gente pra agradecer que eu não sei se vou conseguir resumir aqui. Tanta gente que olhou para aquele menino de Salvador, chegou cheio de sonhos em outras cidades, que tinha tanto para falar, mas não sabia se seria visto, se seria olhado. E de repente vai o Karim (Aïnouz) e olha pra mim, o Jorge Furtado olha pra mim várias vezes, Hector Babenco, Sérgio Machado, Murilo Benício, meu colega de profissão que há pouco tempo me deu ‘Beijo no Asfalto’ pra fazer. 

E eu chego aqui, agora no Festival de Gramado, um lugar que só morava nos meus sonhos. Eu nunca achei que seria possível passar por esse tapete vermelho, subir aqui, inspirar alguém, ser relevante para alguém. 'Não é meu pai?'. Meu pai que está ali é que bom que ele está me acompanhando aqui hoje. Ele sabe do quanto eu sonhei com cinema. O quanto eu fui pra uma sala de cinema quando a gente podia ir assistir ainda várias sessões pagando um ingresso só é ficava ali assistindo um filme atrás do outro, emocionado, achando que aquilo ali era um lugar inatingível. 

Então, eu vou me dar o direito hoje de não agradecer somente as pessoa que me deram trabalho e confiaram em mim. Eu quero agradecer hoje às pessoas que fizeram cinema neste País. Que fizeram com que eu sonhasse. Eu tenho que agradecer ao Dedé, aos Trapalhões, por ter feito com que todos os anos eu esperasse chegar um filme pra eu assistir. E me visse naquele lugar e visse o meu País. Eu tenho que agradecer a todos os cineastas que fizeram com que eu tivesse saúde produzindo comédia nesse País, que é muito importante, sim, para essa indústria também. E que conta muito da gente também. Me trouxe saúde, por que eu dei uma gargalhada nem sei por que, mas ia pra casa mais feliz. 

Eu tenho que agradecer aos cineastas de Pernambuco, do Rio Grande do Sul que contaram histórias que eu nunca imaginei que existiriam. E assim, eu me transformei pra outros mundos e reeduquei o meu olhar.  Perdi preconceitos. Quero agradecer como público pelo que o cinema brasileiro fez por mim. Formou minha identidade. Se eu estou aqui é por causa do cinema brasileiro que eu vi. Quero agradecer a Zózimo Bulbul, quando eu vi “Alma no Olho” eu entendi que era possível também usar a câmera como uma arma. Uma arma de transformação.

É isso que eu quero celebrar, gente, nesse prêmio que me deixa muito honrado, mas eu quero celebrar a diversidade que é o cinema brasileiro. Não podemos perder isso de vista nunca. Todo mundo precisa ter voz pra contar todo tipo de história. 

Para finalizar eu dedico esse ‘filme’, além da minha família,  minha esposa Taís, meus filhos João Vicente e Maria Antônia, meu pai, Ivan que eu amo tanto, e que faço questão de dizer todos os dias agora que eu amo, amo, amo , amo. Quero dedicar esse prêmio a Lourdes Souza que foi uma mãe pra mim e que vai fazer muita falta. por toda a inspiração que trouxe e me deu pra esse menino preto que não sabia que podia sonhar e que agora sonha e que espera poder também fazer com que mais gente sonhe. Então vamos olhar para nossa diversidade, aplaudir e celebrar sempre, que é isso que é o Brasil. Obrigado”.

*O repórter viajou a convite da organização do Festival de Cinema de Gramado

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